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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 28 de dezembro de 2025

CONSTANTIM: a mascarada que é memória viva, festa do 'Carocho e da Velha'

 Em Constantim, concelho de Miranda do Douro, dentro da Terra Fria Transmontana, o inverno não chega sozinho. Chega com passos disfarçados, com vozes que não têm nome e com rostos que já não são rostos, mas memória. A mascarada, festa do 'Carocho e da Velha', acorda quando o frio aperta a terra e o povo aprende a ouvir o que não é dito.

As máscaras nascem do silêncio. Eles não escondem o homem: eles libertam-no. Sob a madeira pintada e as cores impossíveis de casas já vazias, o tempo antigo volta a respirar. Cada gesto é uma memória que se move, cada corrida do 'Carocho' uma pergunta lançada no ar. As ruas se tornam trilhas de outro mundo, onde o real e o imaginado andam de mãos dadas.

Há riso, sim, mas também um tremor profundo. A bagunça dança com a tradição dos pauliteiros, e nesse vaivém o povo se reconhece. Os personagens avançam como se obedecessem a uma música invisível, uma melodia herdada que ninguém escreveu e que todos sabem. Provocam, perseguem, quebram a calma: não por jogo, mas por necessidade.

Por algumas horas, ao ritmo dos gaiteiros, Constantim se despoja do seu nome e se torna um ritual. O passado não é lembrado: encarna-se. As regras dormem, o mundo vira do avesso e a máscara diz a verdade que o rosto está calado. É um momento suspenso, frágil e poderoso, onde a identidade é pronunciada sem palavras.

Quando tudo termina com a procissão e no templo, o povo pega os disfarces e a aldeia volta a respirar devagar. Mas algo fica batendo sob a pele das pedras. Porque a mascarada não vai embora: fica esperando. E todos os inverno, com a memória dos que já não estão, Constantim volta a abrir-lhe a porta.

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