(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Corria o ano de 1825, há precisamente 200 anos, no tempo em que viviam os meus tetravós e pentavós (e os de muitos...). E estas terras andavam «a ferro e fogo». Ninguém nos conta isso quando nos falam da «Revolução Liberal» ou das «Guerras Liberais» que se lhe seguiriam. Aliás, ninguém nos conta acerca do papel preponderante que figuras bragançanas tiveram nessa época, de um lado e do outro dos contendores. Aliás, ainda, segundo a cartilha, todos os acontecimentos importantes da História de Portugal ocorreram muito longe daqui… Mesmo que os irmãos Pedro e Miguel, os que conduziram a «guerra fratricida», tivessem «sangue bragançano»…
Fracassada a «Abrilada» de 1824, conduzido ao exílio D. Miguel, não terminariam, porém, as contendas entre os «constitucionais» e os «ultra-realistas», ou seja, entre os defensores do «Liberalismo» e os do «Absolutismo». E as Terras de Bragança não ficariam alheias a essas lutas que se prolongariam até 1834. Um dos sectores mais inflamados, não interessando aqui dissecar os motivos para tal, era o do Povo. Rapidamente surgiram desacatos, acirrados por algumas instâncias, que conduziram, inclusive, a roubos, nomeadamente a casas de alguns membros mais abastados da Nobreza e do Clero, praticados por autênticos salteadores. Assaltos esses que resultavam, em inúmeros casos, de vinganças, e que redundavam, segundo alguns relatos da época, em mortes.
O Povo sempre foi dado a excessos, quando incitado a tal. E uma das formas encontradas pelos defensores da ordem pública para acalmar os ânimos, foi a proibição, através de editais, do uso de máscaras durante as festividades natalícias. Se, numa primeira fase, tal não resultou, o Juiz de Fora de Vinhais acabaria por impor, através da força, a referida proibição. E assim, no Natal de 1825, há precisamente 200 anos, ninguém se atreveu a aparecer publicamente mascarado. Significando isto, pelas notícias da época, que, para os nossos tetravós/pentavós, não houve «Festas de Inverno», pelo menos nos concelhos de Vinhais e de Bragança. Eram outros os tempos… e as motivações políticas!
Este estado de guerrilha prolongar-se-ia pelos anos subsequentes, particularmente pelo de 1826. Como ao longo do vindouro ano de 2026 se cumprirão 200 anos sobre uma série de eventos importantes por estas terras, no âmbito da referida «Revolução Liberal», já cá os irei trazendo, tal como os nomes de algumas relevantes figuras bragançanas que aí tiveram papel decisivo. E «não temos História»... Imaginem lá caso tivéssemos...
(Foto: Comissão de Festas Varge)
Rui Rendeiro Sousa – Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer.
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas.
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana.
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros.
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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