(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
A Noroeste do concelho de Bragança, em pleno Parque Natural de Montesinho, a lindar com o vizinho concelho de Vinhais, rodeada por seis outras freguesias do concelho bragançano, ficam as magníficas Gondesende, Oleiros e Portela. Curiosamente, e na actualidade, a mais pequena freguesia, em termos demográficos, do concelho de Bragança, não ultrapassando, na globalidade, os 140 habitantes. É verdade que nunca foi uma freguesia com muitos habitantes, tendo os seus picos máximos na última década do século XIX, e entre as décadas de 50 e 60 do passado século XX, mas nunca ultrapassando os 400 habitantes.
Poderá ser a freguesia menos populosa do concelho bragançano, mas é uma freguesia que encanta, não apenas pelo contexto ambiental em que está inserida, afinal, trata-se de um Parque Natural, mas também pela longa História que carrega, e hoje, particularmente, pelo motivo que lá me levou: os topónimos de origem «germânica» que abundam pelas nossas terras. E Gondesende é um deles! Mesmo que, em Portugal e na Galiza, haja mais umas quantas «Gondesende», e mais umas tantas com nomes daí derivados. Todavia, é a «nossa» Gondesende a que me encanta!
Muitos dos que conheçam a freguesia, saberão aos encantos naturais a que me refiro. Bastará percorrê-la, através da «estrada municipal» que liga as três aldeias. Ou ir às margens do Rio Baceiro. Depois, ainda subsiste por lá uma genuinidade que arrebata os sentidos. Mas há muito mais, escondido nos milhares de anos de permanência humana que carrega o território da freguesia. Pelo menos, desde a Idade do Ferro, por lá havendo os vestígios de um povoado fortificado, contudo existindo uma enorme possibilidade, pelos registos arqueológicos, de essa permanência poder recuar ainda uns milhares de anos. No entanto, e provavelmente, poucos deverão querer saber disso. Já não se vê, ou é de difícil acesso, ou já não cabe no tempo do «desde sempre me lembro»…
Depois, para lá da curiosa igreja matriz de Gondesende, especialmente pelo seu interior, e das igrejas-capela das suas anexas Oleiros e Portela, também há o que não «se vê» e escondido está nos registos da História. E é tanta!… Documentalmente, desde há quase 800 anos, para as três povoações. O que já é muito tempo! E, em oito séculos, há muita História guardada. Mesmo muita!
Desde o nome da freguesia, que poderá ter ligações aos célebres Bragançãos, à presença de património de ordens religiosas, à constituição como Abadia dependente do Ducado de Bragança, ou, por entre tantas outras curiosidades, à História de uma das grandes devoções de Gondesende, com magníficos registos acerca da desaparecida capela cuja santo ainda dá nome a uma rua. E a História dessa capela é mesmo fabulosa! E o Povo não se esqueceu da ancestral devoção, mesmo que a padroeira seja, há muitos séculos, Nª Sra. da Assunção.
As freguesias do distrito de Bragança, e a de Gondesende não é excepção, contêm tanto, mas tanto! De vez em quando, lá me vou lembrando de algumas, procurando contagiar os leitores desta magnífica página, «Memórias de Bragança», para o tanto que estas soberbas terras guardam. Serei suspeito, é verdade, porque me entranho nelas há mais de 30 anos, e até as conheço um “tantinhu’e”, ou um “cibicu’e”, “que mai fai”. E custa-me que umas terras cheias de tanto, sem cujo «sangue» mais de metade da História de Portugal não seria como a conhecemos, continuem relegadas ao «reino do olvido».
Já experimentou ir a Gondesende, Oleiros e Portela? Até por lá tem um parque de campismo todo catita e, ao que julgo saber, uns turismos de habitação não menos catitas. Por que não absorve a verdadeira experiência do «ir para fora cá dentro»?
(E as outras freguesias que “num fiquim imbutchinadas’e, pur’i”, que já cá as irei trazendo, sempre que se proporcione, tal como hoje aconteceu...)
(Foto: Mário A P Vaz – Grupo «Gondesende – Bragança»)
Rui Rendeiro Sousa – Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer.
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas.
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana.
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros.
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

Sem comentários:
Enviar um comentário