A lenda da Moura Encantada cresceu com o passar dos anos, e a fraga de Castramouro tornou-se um lugar de respeito e mistério. Mas há sempre aqueles que são consumidos pela curiosidade ou pela ganância, incapazes de resistir ao desejo do ouro e do poder oculto.
Foi numa noite sem lua, quando o céu estava negro e o vento soprava de forma cortante, que um jovem forasteiro chamado Miguel chegou à aldeia. Tinha ouvido falar da princesa e do tear de ouro, e não acreditava em contos e advertências. Para ele, a história era um enigma a ser desvendado, e os novelos, uma oportunidade de fortuna.
Enquanto a aldeia dormia, Miguel aproximou-se da fraga. O ar estava gelado, e a água refletia apenas a escuridão, tornando o ambiente mais assustador. Porém, o som do tear surgiu, claro e melodioso, cortando a noite como se chamasse por ele. Quanto mais se aproximava, mais sentia uma presença intensa, quase palpável, que parecia medir os seus pensamentos e intenções.
Quando viu a princesa Moura, radiante e silenciosa, Miguel sentiu um calafrio, mas a ambição era maior que o medo. Avançou, tentando agarrar os novelos de ouro, que brilhavam com uma luz própria.
- Não! A voz da Moura ecoou com força sobrenatural. Quem ousa tocar no que não lhe pertence, enfrenta o destino que nunca deveria desafiar!
Mal Miguel tocou num fio, a fraga pareceu despertar. A água borbulhou como se estivesse viva, o vento uivou entre as rochas, e uma luz dourada envolveu o jovem, prendendo-o como se os fios do tear se tivessem tornado correntes. Ele viu imagens de destruição e perda, o castelo em chamas, o desespero da fuga, os corações partidos de quem amou e protegeu a princesa. Cada memória atingia Miguel com intensidade, e ele percebeu que o ouro que buscava não era tesouro, mas legado, vida e dor entrelaçados.
- Entendes agora? Disse a Moura, flutuando acima das águas, a sua figura envolta em luz dourada e prata. - Quem toca nestes fios deve carregar a história inteira, sentir o peso de cada lágrima e a coragem de cada ato. O tear não dá riqueza, ele dá compreensão, e muitos não suportam o que ele mostra.
Miguel caiu de joelhos, tremendo, arrependido. As correntes douradas dissolveram-se, mas o coração dele estava mudado. Olhou para a princesa, que agora sorria, uma expressão de tristeza e compaixão.
- O segredo do tear não é ouro nem poder, disse a Moura, é memória, é história, é tudo o que Outeiro guarda em si. Quem não respeitar isso, será lembrado, mas nunca compreenderá.
Quando a névoa subiu, Miguel desapareceu entre as sombras da fraga, com os olhos cheios de lágrimas, mas com o coração finalmente ciente da magnitude do que tivera diante de si. A princesa voltou a tecer, e o som do tear retomou seu ritmo suave, como se a noite tivesse voltado a dormir.
Desde então, a lenda da Moura Encantada tornou-se mais forte. A fraga permaneceu silenciosa para todos, exceto para aqueles que podiam ouvir o verdadeiro canto do tear. E a princesa continuou a tecer, noite após noite, protegendo o seu legado de coragem, dor e beleza, lembrando ao mundo que certos segredos existem para serem respeitados, e que o ouro mais valioso nem sempre brilha à luz do sol, às vezes, brilha no ritmo de fios dourados, entre a água, a pedra e a eternidade.
continua...
N.B.: Este conto teve como base a Lenda de Outeiro "A Moura Encantada" e a colaboração, na construção do "esqueleto", da IA. A narrativa e os personagens fazem parte do mundo da ficção. Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas reais, não passa de mera coincidência.

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