(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
...mas não a um mosteiro qualquer. Fá-lo-iam a um dos mosteiros «espanhóis» que por estas terras mandou imenso, tendo até fundado povoações. E lembrei-me hoje desta doação, por entre as imensas que lhe foram efectuadas nesta região, especialmente nos concelhos de Vinhais, Bragança, Vimioso e Miranda do Douro, porque uma simpática Senhora relevou o facto de ter escrito uma expressão em «Dialecto», reminiscências do Ásturo-Leonês que (ainda) se fala por estas bandas. E muita da responsabilidade por esse facto reside nos monges do dito mosteiro beneditino!
A implementação do ramo linguístico Ásturo-Leonês por estas bandas, bem visível, na actualidade, no seu expoente máximo, o «Mirandés», muito se deve à implantação patrimonial que os mosteiros leoneses por aqui tiveram, no caso em apreço, o de «San Martín de Castañeda», ou São Martinho da Castanheira. Na própria urbe de Bragança, então ainda vila, há notícias de que lhe foram doadas propriedades, ainda no século XII, tendo, já na primeira metade do século XIII, aí adquirido vinhas. Ainda neste mesmo último século, transfeririam um hospício de sua propriedade, que existia intramuros, para o exterior da vila, por uma troca imobiliária que fizeram.
De facto, o poder patrimonial do Mosteiro de São Martinho da Castanheira era imenso. A tal ponto que o «nosso» Mosteiro de Castro de Avelãs, com a conivência dos seus patronos, os Bragançãos, nele se filiou. Filiação que não duraria muito tempo, que o Arcebispo de Braga, com receio de perder a hegemonia espiritual – e patrimonial - que por aqui também tinha, rapidamente tratou de excomungar o Abade de São Martinho da Castanheira... Mas isso são outras histórias, que pano dariam para mangas…
Mosteiro este que teria, por Terras de Bragança, uma grande influência até ao século XIV. Por motivações políticas alheias ao nosso país, seria abandonado e entraria em ruínas, tendo sido recuperado em finais do século passado, servindo, hoje, de Centro Interpretativo do Parque Natural do Lago de Sanabria. Lago em cujas imediações se situa, a norte do mesmo, no Município de Galende, a poucos quilómetros de Vigo de Sanabria.
Para os que se interessam por História, particularmente pela «nossa» História, vale bem a pena uma visita, não apenas pelo local e pela pitoresca povoação que lhe tomou o nome, mas porque mora lá muito do diferente que somos.
“Num se finta? Astreba-se… Que lu digu ou, bale bem a pena!”…
(Foto: Junta de Castilla y León)
Rui Rendeiro Sousa – Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer.
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas.
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana.
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros.
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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