quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Entrevista a David Correia, jovem e promissor Escritor Transmontano

O Memórias…e Outras Coisas... (MOC) entrevistou David Correia (D.C.). Escritor Transmontano, David Correia, encontrou na escrita uma forma de ultrapassar o facto de ter sido vítima de bullying.

MOC: Quem é o David Correia?

D.C.: Começo por me apresentar, sou o David Correia, tenho 21 anos e sou natural de Mirandela.
Esta paixão que tenho pela escrita iniciou quando tinha 13 anos, foi a única forma que encontrei para me refugiar do facto de ter sido vítima de bullying.
Foram 36 meses de puro sofrimento, de dor, mágoa, em desespero cheguei até a escrever uma carta de suicídio e tentei fazê-lo, por mais que tivesse custado parte do David estava totalmente morto e já nada havia a fazer.
Escrevi vários textos e enviei para várias editoras mas claro, eram textos que falavam do meu sofrimento e chegaram a chamar-me maluco.
Dias mais tarde, recebi um “ sim “ mas de forma diferente, era um convite para participar no meu primeiro projeto literário, e claro, o mais especial.
Nunca mais me vou esquecer desse dia, 21 de Outubro de 2018 pela primeira vez eu, David Correia o jovem que para muitos não iria ser ninguém na vida e que para outros não iria ter sequer o seu próprio trabalho, provei exatamente o contrário, provei o que ninguém queria ver de mim mas acima de tudo consegui seguir os meus estudos no Instituto Politécnico de Bragança.   
As pessoas começaram a gostar cada vez mais de mim e claro, comecei por ser reconhecido e continuei a participar em todos os projetos da Chiado Grupo Editorial.
Depois, um grande momento que tive foi uma homenagem prestada pelo senhor presidente, José Carlos Teixeira da Junta de Freguesia de Frechas onde em palco prometi homenagear esse senhor e um mês depois isso aconteceu.
A certa altura decidi escrever algo somente meu e foi aí que nasceu o livro: “Pedaços de Mim”, um livro especial pois fala dos diversos temas que afetam o ser humano, desta vez publiquei com uma editora excelente, a Poesia Fã Clube que é uma chancela da Corpos Editora.
Com muito orgulho no transmontano que sou, decidi pedir autorização ao Município de Mirandela para poder lançar o livro pelo qual agradeço todo o carinho que me foi prestado, toda a humildade, não esqueci cada palavra que foi dita mas também não escondi a emoção que tive ao estar a lançar o meu livro com um convidado especial, o diretor do Kapital do Nordeste, o Bruno.
Fiquei muito grato por tudo o que Mirandela fez por mim e claro é um orgulho ser transmontano, ser Mirandelense, ser quem sou, como sou e na pessoa que me tornei.
Vá para onde for as raízes transmontanas irão manter-se sempre. 


MOC: David. Encontraste na escrita mais um motivo para viver ou apenas um subterfúgio para aliviar o teu sofrimento?

D.C.: Encontrei um pouco de tudo, o sofrimento e o medo permanece e o facto de nunca ter pedido ajuda a um profissional de psicologia levou a problemas sérios de saúde.
Hoje tenho acompanhamento psicológico adequado mas ainda não tive coragem de dizer na totalidade de como me sinto, isso está tudo no que escrevo.
É muito complicado viver um dia de cada vez, parece que tudo piora, principalmente à noite que é quando penso do dia.
Infelizmente as pessoas de quem menos esperamos que nos fossem desiludir acabam por o fazer, tenho tudo a acumular e muitas das vezes tenho ataques mas já não preciso de uma simples ida ao hospital, habituei-me a lidar com isso, muitas das vezes tomo antidepressivos, acabo por chorar, deito-me e tudo acaba por passar.
No que toca à escrita, vejo um presente/futuro feliz,  mas o outro David aquele rapaz que sofreu e sofre esse não vê o dia de amanhã,  esse não o imagina, não sente e está despedaçado.
O que ainda me mantém de pé é mesmo escrever.

MOC: Fala-nos do teu novo livro “Pedaços de Mim”.

D.C.: Este livro é um mix de emoções, as pessoas não imaginam o quanto chorei para o escrever, aborda temas como o amor, o sofrimento, a traição e até tem um pequeno texto que fala sobre a morte.
É um livro que é muito parecido com poesia.

MOC: Já existem outros projetos no horizonte próximo?

D.C.: Sim. Vou aproveitar o facto de ter mais tempo livre para iniciar os próximos dois projetos.
Um deles é sobre a violência, onde tenho como objetivo fazer um projeto educativo e sensibilizar as pessoas.
O outro projeto será mais um livro, será mais uma parte de mim.

MOC: Pensas ser possível que um dia sobrevivas apenas da escrita?

D.C.: Penso, existem vários escritores que o são mas o que me deixa triste é o facto de grande  parte da sociedade atual não valorizar um livro, até mesmo um texto, acham que é uma perda de tempo quando ler enriquece os nossos conhecimentos e tornam-nos pessoas diferentes.

MOC: Quanto tempo demoraste a escrever este novo livro?

D.C.: Demorei duas semanas.

MOC: Ao fazeres a tua apresentação não referiste propositadamente ou por esquecimento a tua família, Tens tido o apoio da tua família nesta nova fase da tua vida?

D.C.: Tenho tido o apoio dos meus pais que são naturalmente a minha família, apesar de eu não falar muito sobre o que escrevo ou o que penso fazer futuramente.

MOC: David. O bullying nas escolas é uma realidade terrível e que parece apenas servir para abrir noticiários das TV´s e para vender jornais. Fala-nos sobre a tua experiência. O que falta fazer nas Escolas e na Sociedade?

D.C.: Primeiramente, falta existir alguém que realmente faça com que o projeto implementado: “Escola Segura”, da polícia de segurança pública seja útil, no fundo eles só servem para gastar gasóleo/gasolina e passear pelas escolas porque qualquer pessoa vê que eles não fazem nada e eu sou a prova disso.
Depois como é óbvio a escola é uma das principais responsáveis, devem tomar medidas de segurança e não permitir que um diretor de turma esteja a dar uma aula e viu o seu aluno a ser levado por os colegas a uma casa-de-banho porque foi agredido na aula dele e o que ele fez? O que a escola segura fez? Só eu sei a dor que tive ao ir de Mirandela para o Porto porque tinha de ser consultado com a máxima urgência.
Na altura que eu era agredido, um jovem da minha escola suicidou-se numa ponte de Mirandela e a escola segura? Continua a mesma, passa com o carro e só os vejo passear, conversar como se tudo estivesse bem mas esquecem-se que dentro de um recinto escolar pode estar alguém a sofrer e eles a fazerem o mesmo que fizeram anos atrás.
Um dos principais responsáveis é claramente a instituição de ensino, deviam adotar medidas/regras para evitar de certa forma o bullying, mas os pais também são os responsáveis, se existir uma boa educação em casa pode evitar-se grande parte dos casos de jovens que são vítimas.    

MOC: Deixa-nos umas palavras, que no teu entender, nos ajudem a fazer a nossa parte para transformar este mundo. Para que passemos a dar mais importância ao SER que ao ter.

D.C.: Para transformar este mundo devíamos ser menos cruéis, egoístas, ajudar o próximo, devíamos ser aquilo que dizem que somos que é seres humanos. 


MOC: Como se podem adquirir os teus livros?

D.C.: Todos os livros onde participei podem ser adquiridos na Fnac, Wook, Bertrand.
O livro que é somente da minha autoria pode ser adquirido pelo facebook da página: “Poesia Fã Clube” e AQUI no meu site. 
Para um mundo melhor temos de mudar as mentalidades.
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Obrigado Sr. Henrique por esta entrevista, espero um dia poder conhecê-lo pessoalmente.

Forte abraço.
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Obrigado David pelo exclusivo que entendeste dar ao Memórias…e outras coisas.
Eu sou fácil de encontrar. Pergunta que, passe a presunção, qualquer Bragançano te diz onde me podes encontrar. Aparece para te pagar um café e te dar aquele abraço.
Quando me fores visitar traz-me o teu livro.

Votos sinceros dos maiores êxitos pessoais e profissionais.
O Memórias… e outras coisas, estará sempre à tua disposição para a divulgação da tua obra literária, ou para aquilo que entenderes.

Grande abraço.




Henrique Martins
29 de junho de 2019

2 comentários:

  1. Não conhecendo pessoalmente este jovem, foi com enorme emoção que li as palavras escritas nesta entrevista. Mais uma vítima, a acrescentar a tantas outras vítimas, de uma sociedade inativa e banhada de valores hipócritas. Mágico e gratificante, é perceber o quanto, de um suposto "nada", como o próprio David pareceu sentir-se, pode emergir um coração capaz de espelhar a pureza refletida na humildade das suas palavras. Nunca desistas, David, porque o condão de Ser humano está no teu interior e nas lições que pessoas como tu, o nosso futuro, podem dar ao mundo. Nunca desistas porque és, e sempre serás um Ser Maior. Muito sucesso para ti e permite que essa luz própria que possuis aí dentro, mesmo que o não saibas, também te inunde e te faça acreditar. Sempre. Porque, do 'zero', pode nascer o Infinito. Fica a sugestão de uma pequena curta-metragem para um dia, quando tiveres disponibilidade, veres e ouvires com aquele coração sensível que é próprio de qualquer artista: https://www.youtube.com/watch?v=bHc7pv3s7NE

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