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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Vaidade das Vaidades

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

"Não roubes o pobre, porque é pobre, nem oprimas o fraco às portas da cidade".

Esta é uma recomendação antiquíssima do Livro dos Provérbios, mas a sua actualidade é permanente, sobretudo numa sociedade onde o exercício do poder ultrapassou as fronteiras da sabedoria, da experiência, ou se quisermos, do bom senso.
Bem se cansa o Governo em promover Jornadas de Modernização Administrativa, em simplificar as relações do cidadão com o Estado, em aplainar as burocracias, no sentido de criar uma sociedade rumo à cidadania onde o homem vale por si enquanto é herdeiro histórico da sua condição humana.
Contudo, as sociedades contemporâneas evoluem duma forma vertiginosa e a mobilidade social é permanente, diluindo as classes sociais, os privilégios de castas e os estatutos que passavam de gerações em gerações.
Tudo isto nos leva a pensar que estamos numa nova época, produto, entre outros factores, do conhecimento científico e da democratização da escola que produz oportunidades de aprendizagem para todos. E isto é verdade, com a excepção de um ou outro déspota, pequenos tiranos que povoam a Administração pública que saudosos de tempos que não viveram continuam a oprimir os pobres no estilo deprimente do Estado Novo. E estes são aqueles que fruto da sua inexperiência, por falta da humildade socrática, são incapazes de reconhecer que nada sabem e no maior desplante usam e abusam do poder, obrigando-nos a concordar com outro sábio provérbio: “Não sirvas a quem serviu, nem peças a quem pediu”.
Esta nova minoria de prepotentes são como um polvo de cumplicidades que minam o aparelho de Estado que introduzem o terror nas instituições e trazem em si o estigma da descrença na democracia.
E se nós, que tivemos a sorte de ler alguns livros, de conhecermos minimamente a natureza humana, ficamos aterrorizados perante este rosto obscuro de alguns agentes do Estado, o que se passará com os nossos conterrâneos que cavam este Nordeste à força do enxadão e desconhecem a vilania encadernada em fatos e gravatas que resplandecem em salões públicos que todos nós pagamos?!
Sem dúvida que vivemos numa sociedade onde a ausência de afectos dá lugar a depressões, a tristezas infindas. Os filhos são deixados apressadamente na escola, os horários do trabalho são fardos enormes, agudizados pelo desencanto da monotonia das tarefas. Nestas circunstâncias, o utente, para determinados agentes minoritários dum Estado que se moderniza, são o inimigo público, capaz de tirar a paciência até a um Santo.
E o nosso Povo, meigamente, deixa a sua casa e na grandeza de ser gente boa e de boa fé demanda à cidade para utilizar os Serviços públicos que ele paga com os seus impostos. O nosso Povo nem sempre entende o que lhe dizem à primeira vez, mas também quem entende, se o funcionário explica mal, à pressa, com modos bruscos, com a tirania de quem detém o Poder, embora este seja efémero e tomado de empréstimo.
Às vezes o nosso Povo ofendido e humilhado, sabe como resolver esta sua ignorância inata e então traz de casa fumeiro que se destinava às longas noites de invernia, cabrito de três meses, galinhas gordas e poedeiras e logo, por milagre, o difícil se torna fácil, o antipático funcionário se desfaz em mil mesuras e simpatias de mulher de má vida.
E assim vai a República, porque, enquanto o Governo nos fala de cidadania na qual acreditamos e o Governo também acredita e tenta que as relações dos cidadãos sejam amenas e confortáveis, estes inimigos do povo fazem a contra revolução, impedem as mudanças, envergonham a natureza humana e não entendem, como nos diz António Gedeão que um dia, estes meninos de coro cheios de malícia e desumanidades hão-de cair, cair, cair, dos seus cadeirões de perfídia na razão directa do quadrado dos tempos.

Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

2 comentários:

  1. Fernando.
    Pese embora a minha ignorância sobre a matéria, na minha opinião, apenas a tua grande modéstia te impede de seres um dos maiores escritores portugueses da actualidade.
    Um abraço.
    Henrique

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  2. Não posso partilhar este excelente artigo do nosso conterrâneo Fernando Calado, porque o tema é considerado abusivo. Valha-me um burro aos coices...

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