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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

O MEU MENINO JESUS

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Não sei se alguma vez vos falei do meu Menino Jesus.
É uma bonita imagem de madeira, com pouco mais de quarenta e cinco centímetros de altura, sobre peanha lavrada e doirejada; perfeitíssimo, como se fosse de carne e osso. Tem muito que contar esse Menino. História, que passou e passa, quase como lenda, de geração a geração.
Os ancestrais asseveravam que havia há muito e muitos anos, no remoto século XIX, em Viseu ou Gonçalo, menina, filha de agricultores abastados, que certo dia morreu de amores por moço da quinta dos pais.
O namoro foi tão adiante, que resolveram casar. Mas como? Se os pais da menina nem sequer queriam sonhar de tal enlace?
Numa noite fria e escura, pela calada, acordaram fugir. Rapto? Não: porque a menina, perdida de amores, levada pela paixão, (dizem) tudo planeara.
Para não serem descobertos, assentaram vir para o Porto, cidade grande e a muitas léguas da Beira-Alta.
Ficaram em Vila Nova de Gaia. Onde? Ainda a tradição, indica: a Rua dos Ferradores.
Mas, a menina, caiu em grande tristeza, numa aflitiva angustia. Não por se ter arrependido, mas porque lhe faltava o seu Menino Jesus, que tanto amava.
Como a melancolia fosse tão adiante a ponto de a menina adoecer, o marido, (dizem que se matrimoniaram, em segredo, na igreja de Santa Marinha,) foi em demanda do Menino.
Já na Beira açodou-se falar com amigo de confiança e traçou cuidadosamente o estratagema:
Os senhores da quinta, costumavam ceder a imagem para velório de criancinhas.
Mandou-lhes mulher, já entrada em anos, traja de luto cerrado, bater ao portão da quinta, solicitando, o obséquio de emprestarem o Menino, para enterro de anjinho, que falecera numa aldeia da cercania.
Obtido o almejado Menino, foi pressuroso levá-Lo ao santeiro de Viseu, com ordem de fazer imagem, em madeira, igualzinha, o mais rapidamente possível.
Ficou tão semelhante, que mal se conseguia distinguir do original.
De regresso a casa, apresentou-o à mulher, que o reaprendeu asperamente:
- "Não quero!...Não quero!... Por que o roubaste? Leva-o... e entrega-o aos meus pais..."
Mas logo o marido, todo risonho, explicou-lhe carinhosamente:
- "Não é o mesmo. É cópia, feita pelo santeiro de Viseu!..."
E o Menino foi passando, ao longo dos anos, de geração a geração, até chegar a mim.
Se a história, for verdadeira, como acredito, é provável que algures, no distrito de Viseu, exista um Menino, igualzinho ao meu...
Quem sabe?

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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