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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Tabafeias

Armando Fernandes
Na última edição do Mensageiro a propósito do intento da Câmara de Miranda em certificar a tabafeia, a Senhora Vereadora da Cultura disse: “Tabafeia uma espécie de alheira apenas produzida na região de Miranda do Douro”, o que além de ser uma falsidade do tamanho da Sé do Menino Jesus da Cartolinha, significa estar a detentora do pelouro cultural a passar um atestado de menoridade às gentes de outras localidades da Terra Fria. 
O sábio Leite de Vasconcelos acerca da tabafeia anota: “É, em Bragança, uma espécie de chouriço feito de dobrada, galinha, pimento, etc.”. O erudito Padre Francisco Manuel Alves escreveu: ”fabricadas de Outubro a Fevereiro” a atestar a sazonalidade, o notável Paulo Plantier (1884) no capítulo de Fumeiro de Carne de Porco à Transmontana alude a tobafada, na minha opinião, depois de ter cotejado as receitas, uma variante de tabafeia,
 O probo e meticuloso investigado Fernando Castelo Branco, na obra Arte Popular Portuguesa, refere serem “celebradas as tabafeias de Bragança”. Se dúvidas existissem sobre a leveza denunciadora de exacerbado e espúrio bairrismo da Sra. Vereadora, acrescento o facto de no notável receituário Cozinha do Mundo Português, a receita de tabafeia é consignada a Bragança. 
Acérrimo inimigo de chauvinismos venham eles de onde vierem, pouco atreito a vaidades localistas, amante da exaltação das referências imateriais e materiais de Trás-os-Montes, eu não sou nortenho, sou transmontano (sem jactância, muito menos fundamentalismo) aborrece-me este tipo de afirmações a acirrarem rivalidades abstrusas e despropositadas. Na intenção de ajudar a Autarca, peço-lhe o favor de consultar o Anuário Comercial editado até aos anos setenta do século passado, se o fizer verificará que em 1952, os anúncios apregoavam tabafeias (enchidos frescos) feitos e vendidos em Bragança por Artur das Neves, José Augusto de Carvalho, José Veloso, viúva de Marcial Veloso Barata, Maria da Assunção e Maria da Conceição Rocha. 
Nos anos quarenta as tabafeias mais afamadas eram as fabricadas nas casas do Sr. Armando Barata e do Sr. Artur Neves. Obviamente, pelo menos nos concelhos frios do Nordeste, a tabafeia era concebida e, tal como acontece em relação a milhares de produtos, as receitas variavam dando plena vazão ao anexim: cada terra com seu uso, cada roca com seu uso. 
A Sra. Vereadora faz muito bem, sonoros aplausos lhe prodigalizo, em defender e promover as representações culinárias mirandesas, mas por favor não à custa de reclamar exclusividade para o que é herança cultural de todos os nordestinos. 
A continuar assim será paradigma do conhecido ditado: quem o alheio veste, na praça o despe.

in:mdb.pt

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