Armando Fernandes |
O sábio Leite de Vasconcelos acerca da tabafeia anota: “É, em Bragança, uma espécie de chouriço feito de dobrada, galinha, pimento, etc.”. O erudito Padre Francisco Manuel Alves escreveu: ”fabricadas de Outubro a Fevereiro” a atestar a sazonalidade, o notável Paulo Plantier (1884) no capítulo de Fumeiro de Carne de Porco à Transmontana alude a tobafada, na minha opinião, depois de ter cotejado as receitas, uma variante de tabafeia,
O probo e meticuloso investigado Fernando Castelo Branco, na obra Arte Popular Portuguesa, refere serem “celebradas as tabafeias de Bragança”. Se dúvidas existissem sobre a leveza denunciadora de exacerbado e espúrio bairrismo da Sra. Vereadora, acrescento o facto de no notável receituário Cozinha do Mundo Português, a receita de tabafeia é consignada a Bragança.
Acérrimo inimigo de chauvinismos venham eles de onde vierem, pouco atreito a vaidades localistas, amante da exaltação das referências imateriais e materiais de Trás-os-Montes, eu não sou nortenho, sou transmontano (sem jactância, muito menos fundamentalismo) aborrece-me este tipo de afirmações a acirrarem rivalidades abstrusas e despropositadas. Na intenção de ajudar a Autarca, peço-lhe o favor de consultar o Anuário Comercial editado até aos anos setenta do século passado, se o fizer verificará que em 1952, os anúncios apregoavam tabafeias (enchidos frescos) feitos e vendidos em Bragança por Artur das Neves, José Augusto de Carvalho, José Veloso, viúva de Marcial Veloso Barata, Maria da Assunção e Maria da Conceição Rocha.
Nos anos quarenta as tabafeias mais afamadas eram as fabricadas nas casas do Sr. Armando Barata e do Sr. Artur Neves. Obviamente, pelo menos nos concelhos frios do Nordeste, a tabafeia era concebida e, tal como acontece em relação a milhares de produtos, as receitas variavam dando plena vazão ao anexim: cada terra com seu uso, cada roca com seu uso.
A Sra. Vereadora faz muito bem, sonoros aplausos lhe prodigalizo, em defender e promover as representações culinárias mirandesas, mas por favor não à custa de reclamar exclusividade para o que é herança cultural de todos os nordestinos.
A continuar assim será paradigma do conhecido ditado: quem o alheio veste, na praça o despe.
in:mdb.pt
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