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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

UMA HISTÓRIA VERDADEIRA

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..."

Conheci, pelos anos setenta, recém-casados. Ambos empregados, que levavam vida modesta, mas desafogada.
Alugaram bonito apartamento, nos arredores da cidade do Porto. Eram simples e felizes: amavam-se.
Felizes…até ao momento, que, para obterem melhor rendimento, assentaram, que um deles (o marido,) fosse frequentar a Faculdade, para obter diploma, que lhe desse oportunidade de ocupar cargo mais rendoso.
A mulher andava radiante: “ Meu marido anda a estudar, e vai ser doutor! …” – dizia ela, às colegas, da empresa, onde trabalhava, como supervisora fabril.
Pelo facto de estar empregado e frequentar a escola, o jovem, passava muitas horas fora de casa. 
A mulher, por seu lado, sempre que podia, fazia horas extraordinárias, já que as despesas aumentaram, com a compra de: livros, sebentas e transportes.
Assim decorreram os anos. Mal se falavam. As horas de convívio, eram, praticamente, ao jantar, e de manhã, durante o pequeno-almoço.
Por seu lado, o marido, criou novos amigos e amizades, com colegas, condiscípulos da Universidade.
Rapidamente verificou, que os novos companheiros, eram mais evoluídos, culturalmente, que a esposa, que apenas possuía o quinto ano (atual nono,) obtido com grande dificuldade.
Também desgostava-se de a ver trajada, modestamente, e sem elegância.
A pouco espaço, verificou, que ela não o podia compreender. Sua capacidade intelectual, era reduzida, e ainda menos os conhecimentos.
Tentou “ reeducá-la”, mas tal atitude provocava tensão, e muitas vezes, acabavam a discutir, atacando-se mutuamente.
Entretanto, colega da Faculdade, a pretexto de estudarem juntos, certas matérias, começou a insinuar-se.
Não era propriamente uma beleza, mas falava bem e tentava compreende-lo.
Terminado o curso, e realizada a festa final, a amiga, convidou-o a morarem juntos.
Já lhe tinha passado esse pensamento, pela cabeça, mas temia a reacção da esposa.
Certa noite, em que chegaram tarde, depois de ter ido, com a amiga, ao teatro, resolveu dizer, à mulher, a sua intenção.
Não teve, porém, coragem de o fazer oralmente. Levantou-se cedo e deixou, sobre a mesa da cozinha, um envelope, com os dizeres: “ Para ti”.
A mulher abriu o sobrescrito, curiosa, e ao ler as primeiras linhas, as lágrimas saltaram-lhe dos olhos: era a despedir-se.
Declarava que sendo ela ignorante, simples trabalhadora, nunca o poderia compreende-lo…
Contava ela, mais tarde, a íntima amiga: “ Ajudei-o a formar-se. Trabalhei como uma burra, e vendo-se com o “canudo”, troca-me por outra, que só o quer por ser doutor! …”
Tudo que narrei é verdadeiro. Passou-se na cidade do Porto, no último quartel do século XX. Trago-o aqui, para lembrar que não se pode manter o casamento, quando um dos conjugues evolui culturalmente, e não é acompanhado pelo outro.
O amor morre, quando não há: convívio diário, troca de ideias e gostos semelhantes.
A paixão extingue-se com o tempo. Fica, porém, a amizade, a luta conjunta pela sobrevivência, quando os: gostos, interesses, e a cultura, se mantém afins.

Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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