Urso-pardo. Fotografia DR. |
O evento é coorganizado pela ONG de Ambiente Palombar - Conservação da Natureza e do Património Rural, em conjunto com a Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino (AEPGA), o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), o Município de Bragança (MB) e o Instituto Politécnico de Bragança (IPB), e apoiado pela iniciativa “Natura 2000 Biogeographical Process” da Comissão Europeia. Vai reunir parceiros e especialistas ibéricos com grande experiência na gestão e conservação do urso-pardo, com vista a criar as fundações para futuras ações de conservação do urso-pardo em Portugal, a promover a articulação com Espanha numa abordagem ibérica à conservação desta espécie e encorajar a cooperação transfronteiriça e a partilha de conhecimento.
O evento é direcionado para especialistas e atores locais, estando a participação sujeita a convite prévio. Contudo, no dia 28 de outubro, estará aberto à participação do público em geral durante as comunicações orais, através da Internet, com inscrição gratuita, mas obrigatória no sítio do evento.
Em debate, estarão temas como a história do urso-pardo em Portugal, ecologia e comportamento desta espécie e a sua conservação, nomeadamente no que respeita à gestão do seu habitat e à interação com as comunidades humanas. Serão ainda discutidas as questões socioeconómicas decorrentes do eventual ressurgimento do urso-pardo em Portugal, assim como o papel do planeamento e da gestão pública na conservação da espécie.
A abertura do evento conta com a presença do Secretário de Estado da Conservação da Natureza e das Florestas e do Ordenamento do Território, João Paulo Catarino, e o encerramento ficará a cargo do presidente do ICNF, Nuno Banza.
"O potencial regresso do urso-pardo a Portugal lança grandes desafios aos diferentes agentes de conservação da natureza, pelo que antecipar o debate sobre este tema entre especialistas, atores locais, instituições académicas e autoridades nacionais é fundamental para estarmos todos mais preparados para garantir uma abordagem mais fundamentada, abrangente e transfronteiriça no que se refere a futuras ações de proteção desta espécie no país, se o seu retorno se vier a tornar uma realidade", refere José Pereira, presidente da Palombar.
“Em 2019, fomos todos surpreendidos pela passagem de um urso-pardo, junto à raia nordestina de Portugal, o que, inegavelmente, captou o interesse nacional e das comunidades locais, mas também dos investigadores da área da biodiversidade. Foi, assim, confirmada a presença de urso-pardo no Parque Natural de Montesinho. Em 2021, e por via da iniciativa da Palombar e de outras entidades, entre as quais o ICNF, autoridade nacional para a conservação da natureza e biodiversidade, surge, com muito sentido de oportunidade e pertinência, este momento de partilha de conhecimento científico sobre esta espécie. Certamente que, aprendendo com as experiências apresentadas no decurso deste evento, será possível estudar e delinear mais adequadamente futuros cenários de atuação para esta complexa matéria, sempre em parceria com todos os parceiros presentes nos territórios em que o urso-pardo poderá voltar a estar presente", afirma João Paulo Catarino, Secretário de Estado da Conservação da Natureza, das Florestas e do Ordenamento do Território.
“Em 2019, o ICNF seguiu e noticiou a passagem de um urso-pardo junto à raia nordestina de Portugal. Acompanharemos agora com atenção a partilha de conhecimento e experiências entre especialistas, e o envolvimento de atores locais neste evento dedicado ao urso-pardo, com vista a debater linhas de atuação perante diferentes cenários”, destaca Nuno Banza, presidente do ICNF.
"O avistamento e a passagem do urso-pardo por Bragança constituiu-se como um marco importante para este território, pelo que o debate desta temática é essencial, no sentido de haver uma preparação na forma de agir e de estar perante a forte possibilidade de este acontecimento se poder repetir com frequência", sublinha Hernâni Dias, presidente do Município de Bragança.
Já o presidente do IPB, Orlando Rodrigues, considera que "este evento é inovador e da maior relevância para a conservação e desenvolvimento das regiões de montanha, evidenciando a capacidade de iniciativa das suas instituições”.
Porque debater o possível regresso do urso-pardo e elaborar os pilares para futuras ações de conservação da espécie em Portugal?
O urso-pardo (Ursus arctos) está considerado extinto em Portugal desde a primeira metade do século XIX. Nos últimos 150 anos, a sociedade portuguesa deixou de estar familiarizada com a presença do urso-pardo no seu habitat natural. Atualmente, já não há memória coletiva deste grande mamífero e de como as pessoas interagiam com esta espécie, não obstante poderem ainda ser encontradas manifestações dessa interação no património construído, como muros de pedra desenhados para impedir o ataque de ursos a colmeias, que se mantêm como testemunho dos tempos em que humanos e ursos coexistiram.
No entanto, um estudo europeu de 2018 intitulado “Up‐scaling local‐habitat models for large‐scale conservation: Assessing suitable areas for the Brown Bear comeback in Europe” e publicado na revista Diversity and Distributions, indica que o norte de Portugal tem áreas com habitat adequado para a recolonização pelo urso-pardo, designadamente as Zonas Especiais de Conservação (ZEC) da Peneda/Gerês e de Montesinho/Nogueira.
Estas áreas da Rede Natura 2000 em Portugal fazem fronteira com o território espanhol, onde a população de urso-pardo cantábrica, especialmente a subpopulação ocidental, tem vindo a crescer ao longo dos últimos anos. Adicionalmente, ursos-pardos dispersantes têm vindo a ser detetados perto da fronteira portuguesa a nordeste e, na primavera de 2019, foi detetada e geneticamente confirmada a presença ocasional de um urso-pardo macho na ZEC de Montesinho/Nogueira. É este contexto que fundamenta a realização deste Networking Event transfronteiriço.
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