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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 10 de março de 2018

A casa erótica, o menino da Cartola e o 2 do rio

Fomos à boleia de um festival de gastronomia e artesanato, que é sempre um bom motivo para ir a Miranda do Douro. Mas não são necessários pretextos de agenda para ir até ao planalto mirandês. As tradições vivem-se à flor da pele durante todo o ano e nas arribas do Douro as vertigens da terra e da história são contínuas.
Foto: Joana Gonçalves
Quando o festival Sabores Mirandeses chega a Miranda do Douro nada fica igual. Sobretudo desde que um canal de televisão começou a transmitir um programa em directo a partir da cidade no topo das arribas durienses. “Seis horas? Madre mia!”, surpreende-se uma espanhola perante o palco já montado na praça D. João III. Ainda faltam mais de 24 horas para o início da transmissão, mas o centro histórico de Miranda do Douro já está transtornado. À chegada, avisam-nos de uma rua interdita, na praça, um enorme palco esconde a fachada seiscentista do Museu de Terras de Miranda. Não é um fim-de-semana qualquer em Miranda do Douro e ainda antes do meio-dia de sábado vem um grupo de pauliteiras instalar-se na praça com os seus lhaços. Três — tão repentinamente quanto chegam, partem, deixando a pairar sobre todos o espírito radicalmente ancestral deste território que a música e a dança conjuram. Mais regulares são os visitantes do outro lado da fronteira: “Ao fim-de-semana estamos sempre à espera de espanhóis”, reconhece uma das funcionárias do museu, “sem eles Miranda não cresce”. E tem crescido, avalia: “Estamos no centro histórico, a parte que era cercada pela muralha. Miranda era só isto. Lá fora tem crescido muito.”

Mas é cá dentro que todos vêm. Um grupo de dezenas de pessoas, claramente saídas de uma camioneta turística, atravessa a praça. Vão directas à catedral não se detendo, pelo menos por enquanto, nas duas lojas que convivem na praça. São ao “gosto espanhol”. “A maior clientela é espanhola, isto é o que procuram”, diz-nos a proprietária renitente de uma delas, montra com porcelanas Vista Alegre e atoalhados, interior com pijamas, faqueiros, panelas, vinho do Porto, t-shirts. A segunda é ainda mais ecléctica. “Móveis, electrodomésticos, candeeiros, têxteis do lar, coisas do dia-a-dia”, concretiza Paula, a empregada. Os móveis e electrodomésticos estão na outra loja, “lá em baixo”, que é como quem diz, fora das muralhas — “os espanhóis levam muitos móveis”, explica a proprietária Maria Alice Ferreira. Aqui temos uma espécie de best of da região: de brinquedos tradicionais aos candeeiros e panelas, sem esquecer panos da louça, toalhas de mesa, rendas, colchas, objectos de cobre, ferro forjado, madeira e vime e a cutelaria.

Nas ruas vivemos o presente, no museu um relance de como se vivia — vive? — no planalto mirandês. Agricultura e pecuária, âncoras centrais da economia e subsistência da região, uma cozinha típica, o coração da casa, onde “se nascia e se morria”. Um andar acima, o mundo da lã (e do linho: “Já Estrabão dizia que nesta área se fazia o melhor linho do império [romano]”), com manequins vestidos com o traje de mulher, o traje de jovem (quanto mais jovem, mais colorida) e a inconfundível capa de honra que de protecção aos boieiros e pastores nesta terra de “nove meses de Inverno e três de inferno” se tornou um símbolo da região. Mais adiante, as máscaras de rostos distorcidos em esgares excêntricos e cores berrantes, ícones das chamadas festas de Inverno, e as danças e festas. Novamente, os pauliteiros.


Foto: Joana Gonçalves
Vêmo-los várias vezes durante o fim-de-semana. A prepararem-se para espectáculos, a dançarem. A dança guerreira de raízes greco-romanas (segundo algumas teorias) é um ritual quase hipnótico e tão ritmado que é difícil controlar os pés que teimam em acompanhar o compasso dos paulitos ao som de gaita-de-foles e caixa. Cada dança é um lhaço, a que corresponde uma música e uma letra, “normalmente em mirandês”. Há cerca de 50 lhaços e alguns parecem mesmo retratar momentos de uma batalha; outros estão mais ancorados nas realidades da terra como o “la yerba” ou “la rosa”. Ou são, ainda, históricos, Mirondum, Mirondum, Mirondela/ Mirondum se fúe a la guiêrra (...).

Miranda do Douro foi-se à guerra dos Sete Anos (que aqui ficou conhecida por Guerra do Mirondum) e o seu castelo foi-se pelos ares. No acosso espanhol à cidade muralhada, um projéctil caiu sobre um armazém onde se guardava pólvora: as muralhas e a torre de menagem do castelo ruíram, 400 pessoas morreram. Hoje, o que resta da alcáçova do castelo de Miranda é uma bela ruína a mirar o Fresno, o outro rio da cidade, que ensaia coreografias em jactos de água numa represa para mais à frente se diluir no Douro. E o antigo pátio de armas é um parque de estacionamento a dois passos da Rua Mouzinho de Albuquerque, espinha dorsal do núcleo histórico, onde o comércio mais abunda.

Mas é na Rua Costanilha e satélites que o carácter medieval de Miranda parece irredutível — quando fica banhado pela luz amarela dos candeeiros de ferro forjado quase esperamos que surjam cavaleiros ou carruagens apressados. O casario quinhentista de pormenores manuelinos forma um entramado mais ou menos conservado, às vezes inesperadamente erótico, como a Casa das Quatro Esquinas — medieval, é de granito integral, tem quatro janelas a fazer esquina (duas em cada andar), porém o destaque é para os dois cachorros, um simbolizando a luxúria e o segundo Cronos, o deus grego do tempo: a primeira é representada por um cão que com a língua toca os órgãos genitais de uma mulher; ou imprevisivelmente profano, como antiga igreja setecentista dos Frades Trinos transformada na biblioteca municipal.

E, depois, há o “exagero”, como comenta alguém. “Ninguém espera isto aqui.” Mas “isto”, a igreja matriz, é também a antiga Sé de Miranda do Douro, herança do período em que a cidade foi sede de diocese, entre 1545 e 1780 — este é caso para inverter o ditado popular: foram-se os dedos, ficaram-se os anéis. A agora Concatedral de Miranda do Douro exibe-se orgulhosa num extremo do pequeníssimo planalto que é este centro histórico, entre as ruínas do antigo palácio episcopal (o resto do claustro, na sua sucessão de colunas onde ainda se apoiam os arcos é uma espécie de alegoria à transitoriedade do poder — e da vida) e as vertigens do Douro (690 metros), erguida como se fosse o diabo a olhar para Castela, para parafrasear Miguel Torga.


Foto: Joana Gonçalves
E se a vista é irresistível, entrar no templo de feições severas plasmadas na fachada granítica concluído na última década do século XVI guarda algumas surpresas. Desde a “carranca da Sé”, plasmada no órgão setecentista, medida de (falta de) beleza: “És mais feio do que a carranca da Sé”, diz-se por estas paragens; ao retábulo-mor onde a imagem do bispo mostra desejos bastante terrenos (as vestes ostentam desenhos de mulheres de seios exuberantes); sem esquecer a “loja maçónica” demarcada na área do cadeiral do cabido por ladrilhos negros e brancos. E o incontornável Menino Jesus da Cartolinha (Nino Jasus de la Cartolica), um dos ícones de Miranda do Douro, “como a catedral e as arribas”.

A figura de pequeno tamanho dá corpo à lenda que conta que durante um cerco espanhol à cidade, quando a população exaurida pela fome e pelas doenças se preparava para a rendição, começou a surgir um menino em vários pontos da muralha a instilar ânimo aos habitantes. Foi bem-sucedido, mas nunca foi encontrado. O milagre foi atribuído ao menino Jesus e em sua honra esculpiu-se uma imagem vestida com trajes fidalgos — actualmente, as roupas em miniatura que compõem o seu vasto guarda-roupa (a tradição diz que raparigas solteiras devem dar as meias e as camisas) são também parte da curiosidade.

Os filhos do rio
De tanto rondarmos o Douro, sabíamos que em algum momento nos renderíamos. E é assim que, ao fim da tarde, vemos o sol jogar às escondidas nas escarpas durienses, mostrando-se e escondendo-se ao ritmo das curvas do rio até que transforma Miranda do Douro, altaneira no topo das arribas, em sombras. Já se está a pôr e nós a terminarmos o cruzeiro ambiental promovido diariamente pela Estação Biológica Internacional (EBI) de Miranda do Douro. Entre a barragem de Miranda e o Vale das Águias subimos e descemos o Douro Internacional, sempre com Portugal de um lado e Espanha do outro: o que o passado separou o presente e o futuro juntam neste projecto transfronteiriço onde se miram os dois parques naturais que têm o Douro como coração. Laura, a guia, é um paradigma: “Sou do rio”, apresenta-se, concretizando, “filha de pai português e mãe espanhola”.

Ainda não embarcáramos e já nos haviam lançado o desafio do “2”. “Consegues ver o 2 nos penhascos?”, dizem-nos, apontando um afloramento rochoso amarelo do lado espanhol (a cor deve-se aos líquenes, aqui em grande quantidade e variedade, o que é sinónimo de ar, livre de contaminação). Estamos no sítio certo, vemo-lo à primeira — de outras perspectivas não foi tão óbvio. Voltaremos a ouvir no barco a maldição (?) do “2”: os solteiros que não o vêem não casarão, os casados que não o vêem estão a ser traídos.

À primeira curva, fica para trás a “civilização”. “Agora é só natureza”, anuncia Laura, em espanhol e português — afinal, esta é “uma expedição transfronteiriça”. Com resultados imprevisíveis: “Isto não é um zoo”, avisa, “ver espécies depende da sorte” (pode contar-se sempre com o “milagre” da azinheira de quase 200 anos e raízes na rocha). Quatro corvos imediatamente fazem uma aparição, depois uma águia que o capitão avista, mas todos os outros perdemos, passamos a “poça das lontras” e nem uma surge. Depois os ninhos: de cegonhas negras, “abandonado pelo efeito da caça furtiva” (desde o início do projecto estão a recuperar, porque são vigiados), de um casal de águias-reais e novamente de cegonhas negras. Não vemos nenhuma, são caprichos normais da natureza. Menos normal é a falta de chuva que eclipsa duas cascatas “de Inverno” (depois destes dias chuvosos podem ter feito aparição), uma das quais, a da “Mangueira”, “protegida” pela “Rocha do Urso” e, a crer em Laura, “um dos efeitos naturais mais bonitos” deste troço — “somente o ruído é impressionante”. Mesmo antes desta, a chamada “área temática do Vale da Águia” deixa um relance da vida de antanho: uma cabana no cimo de uma escadaria de pedra era a casa de quem cultivava os socalcos arrancados aos rochedos.


Foto: Joana Gonçalves
Desta façanha do engenho humano temos ampla vista desde o miradouro de São João de Arribas, uma “janela para o Douro”, num dos poemas de Domingos Raposo. Em pleno Parque Natural do Douro Internacional, a vista do canhão do rio é impressionante, com as suas curvas abruptas, mas a mão humana também o é. Se a água aqui cavou durante milénios o granito, os homens cavaram durante séculos socalcos nas encostas vertiginosas onde o acesso parece impossível. Aí ainda se trabalhava quando Domingos Raposo tinha dez anos: oliveiras, figueiras, amendoeiras, vinha e centeio, moinho no rio e caminhos inventados à custa de muito suor.

Domingos Raposo é um homem do Douro, de Miranda e do mirandês. O seu nome é sinónimo da recuperação do mirandês e do seu reconhecimento como segunda língua oficial portuguesa — é ele quem nos guia até ao miradouro de São João de Arribas, bem perto da sua casa de turismo rural Puial de l Douro em plena Aldeia Nova (a segunda aldeia portuguesa banhada pelo Douro — a primeira é Paradela). Nova porque a “velha” situava-se bem perto do miradouro onde, novamente, nos deixaremos fascinar pelas escarpas do Douro: um castro revelou ocupação humana contínua entre os séculos IX a.C. e X — quando a população se transferiu mais para cima. Domingos entusiasma-se a apontar os restos do baluarte entre a vegetação rasteira destas altitudes, a relatar a sucessão de povos que aqui se instalaram, a enumerar os achados arqueológicos. Dos romanos ficou a lenda de um pote de ouro por aqui enterrado e várias epígrafes — fora o que foi para museus. E o mais evidente: a lápide honorífica a um tal Emílio Balaeso, que seria originário daqui e terá sido o porta-estandarte da ala sabiniana durante as campanhas na Britânia , cuja cópia enfrenta o canhão do Douro. O original foi encontrado, juntamente com colunas romanas, na pequena capela dedicada a São João Baptista, cujo culto aqui se perde no tempo e é celebrado em Maio com missa campal, convívio. Hoje a tranquilidade é total quando nos sentamos no muro de pedra — será o nosso puial (banco de pedra): “Neste puial de pedra que já foi fraga...”, declama Domingos.


Foto: Joana Gonçalves
Os grifos, os abutres do Egipto, as águias e os falcões peregrinos são assíduos destas arribas, mas não os avistamos. Nem nos aventuramos no túnel, algures entre a Aldeia Nova e Vale de Águia, que guarda a que talvez seja “a maior colónia de morcegos da Europa”. Mas encontramos o caminho para Atenor, onde os burros mirandeses têm um dos seus santuários. É aí que a Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino (AEPGA) tem a sua sede e um dos centros de acolhimento, o Palheirico. Entre o Néctar, que “nasceu prematuro e tem problemas nas orelhas”, como conta Emanuel Catarino, há seis meses a fazer estágio na AEPGA, e a Noite de Outono, “a última a nascer” — “Adoro-a” — dezenas de outros animais vivem e esperam visitantes (e padrinhos, donativos...). Já foram parte integrante da vida no planalto mirandês, agora a preservação dos simpáticos e dóceis autóctones em vias de extinção passa também pela participação em celebrações comunitárias e em festivais e passeios (como o “Por Tierras D L Rei”, a 24 e 25 de Março) – são verdadeiros encontros com o planalto mirandês à boleia de um dos seus maiores ícones. E nunca as Terras de Miranda parecem mais autênticas.

Andreia Marques Pereira
FUGAS/Jornal Público


Nos sabores de Miranda cabem alheiras e almas penadas
Foto: Joana Gonçalves
Já conhecíamos as alheiras, graças à generosidade de vizinhos comuns, vida repartida entre o litoral e a aldeia de Picote. Não o nome oficial nem quem as faz. No Sabores Mirandeses descobrimos que, pelo segundo ano consecutivo, são as melhores alheiras do festival de gastronomia e artesanato. As irmãs Anabela e Bernardete Galego são as alquimistas por detrás da Cozinha Regional de Picote e quem recebe os visitantes no stand. O orgulho é discreto, mas irreprimível. Afinal, é a recompensa para uma daquelas mudanças de vida que alimentam alguns sonhos.

Há “cinco, seis anos” viviam em Braga, conta Anabela, enquanto a mãe, agora com 93 anos, ingressava num lar de terceira idade. “Não se adaptou, estava infelicíssima.” Então, as irmãs, que haviam deixado Picote aos 11 e 15 anos, decidiram regressar às raízes. “Não tínhamos nada que nos prendesse em Braga” — “nada” excepto empregos como administrativa e gestora de cartões de crédito. Agora têm “um estilo de vida muito mais saudável”, ainda que o trabalho seja contínuo. “A minha irmã ainda não teve um dia de férias, eu tive uma semana o ano passado”, confessa Anabela. É que não confeccionam apenas os produtos, também criam os porcos. “A alimentação é com tudo o que dá a horta”, explicam, “e faz toda a diferença”. “Nota-se no sabor dos chouriços, do butelo, que não dá para as encomendas, das alheiras”.

Os fumeiros também mudaram a vida da família Pires: foi com intenção de os fazer que compraram uma casa na aldeia de Pena Branca. Acabaram com várias e um turismo de habitação que é também marca de fumeiro, Cimo da Quinta, onde nos alojamos e almoçamos enchidos vários como entrada para um cozido mirandês (“butelo, feijão de casca, chouriço, pernil e outras coisinhas”, descreve a anfitriã, Paula Pires). Antes, uma volta pela produção de enchidos e um relance no forno de pão, memória de outros tempos encaixada numa sala moderna. É Aurora Pires, uma amiga da família, quem coze o pão — “antes trabalhava, agora sou padeira”, brinca —, sempre depois de dizer a reza da mãe, em mirandês (ri-se quando lhe pedimos para escrever).

Também sai doçaria com a marca Cimo da Quinta, mas essa só a vemos no Sabores Mirandeses, onde se apresentam numa banca logo à entrada do recinto, no Jardim dos Frades Trinos, bem rente à muralha de Miranda do Douro. Há animações com pauliteiros, os Galandum Galundaina tocam e descobrimos Ângelo Arribas rodeado de instrumentos musicais, com destaque para as gaitas-de-foles de vários tamanhos e propósitos. “Os Galandum estão a tocar modas que já tocávamos antes”, nota, ele que se apresenta como tocador e construtor de gaitas-de-foles, ainda que estas não tenham o monopólio — toca e faz outros instrumentos, típicos do Planalto Mirandês. Fez parte de “todos os grupos de pauliteiros de Miranda”, conta, e ainda agora, com 82 anos à vista, continua a tocar, mas apenas caixa.

Artesão-construtor, como faz questão de dizer, de instrumentos musicais é-o desde os 50 anos e, não o sabíamos, é uma “estrela” — enumera os muitos países onde tocou, já perdeu o nome dos anfitriões de todos os programas de televisão onde foi e até participou no casamento dos duques de Bragança.

“Só podia ser de Sendim”, ouvíramos horas antes, entre risos, de um grupo. L’ Alma Penada: “O nome provoca”, admite, sorrindo, Aquilino Rodrigues, “e há uma rivalidade entre Miranda e Sendim”. L’Alma Penada é o projecto do seu filho, Anselmo, aproveitando o negócio do pai, engenheiro e enólogo, que na verdade faz parte da família há três gerações: os vinhos. Eles também estão lá, Meseta. “Temos o vinho e o que não vendemos destilamos. Ele fez o seu próprio emprego.” Licores vários (ervas, menta, abrunhos), três ginjinhas, que serve em taças de chocolate, gin. Este, começaram a produzir há um ano (as restantes bebidas há oito anos). “Repare na cor” — é dourada —, “vai para cascos de carvalho”.

Nas dezenas de stands que compõem este festival, encontram-se muitos negócios de família. É o casal Neves com o seu azeite Casa do Mário produzido em lagar próprio, o vinho Lhaços, com assinatura da Casa Marie Pêdra (Maria, filha de Pedro), projecto lateral de pais e filhos que se reaproximaram assim da terra de origem, é o mel de Abílio Domingos Pires, e os doces que a mulher, Teresa Ferreira da Silva, começou a fazer para o acompanhar. A lista continuaria — e negócios de família ou não, recentes ou não, são uma janela aberta para a cultura mirandesa.

A Fugas viajou a convite da Turismo do Porto e Norte de Portugal

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