(colaborador do "Memórias...e outras coisas..."
Certa ocasião, estando na aldeia de minha mãe, a veranear, fui convidado por abastado lavrador, casado com jovem professora, para ir almoçar a sua casa.
Durante a refeição, esta, reparando que olhava para antigo relógio de pêndulo, que estava suspenso da parede, voltou-se para mim, e disse-me contristada:
- “ Nunca está certo! Adianta-se muito… Já o levei a relojoeiro. Anda certo, uns dias…mas volta ao mesmo.”
Expliquei-lhe: os relógios de parede, acertam-se, encurtando ou alongando o pêndulo. Basta um pouco de paciência e tempo, e o relógio dará horas certas.”
- “ Mas isso é a Lei do Pêndulo! …Aprendi em Bragança! …” – exclamou atónita a jovem.
A professora tinha aprendido, no liceu, entre outras disciplinas, a Física. Fora – segundo soube, – excelente aluna, mas mostrava-se incapaz de utilizar os conhecimentos que adquirira.
Como ela, muitos de nós, somos simples repetidores do que aprendemos. Somos gravadores. Papagueamos o que nos ensinam; mas somos incapazes de utilizar o que aprendemos e decoramos.
Pouco interesse há, em acumular “ saber”, se não conseguimos, depois, usar esse conhecimento na vida.
Muitos, que são conhecidos como sapientes, não passam de “contadores”, de muitas gavetinhas. Cada compartimento, está repleto de “saber” de determinada matéria; mas, como são incapazes de ponderar e raciocinar, nenhum proveito obtêm desse amontoado de “saber”. São enciclopédias ambulantes…; incapazes de sistematizar o conhecimento adquirido.
Podem passar por sábios; acumular graus académicos; mas nada disso lhes servirá para a vida, porque: quando deparam um problema, uma dificuldade, não conseguem recordar o que a memória reteve.
Essa professora, tinha estudado, recentemente Física. Sabia na ponta da língua, toda a matéria, que lhe ensinaram, mas era inábil para acertar o relógio de pêndulo! …
Eu sei, por experiência própria, que cada um tem que ser autodidata. Aprender, atualizar-se, constantemente. Cada qual, deve assimilar, principalmente, o que for útil e vantajoso para a profissão ou para a vida quotidiana.
A escola educa o intelecto; ensina a pensar; e fornece meios, para pesquisar e progredir nos estudos.
Dá “asas” para voar livremente; mas só voa, quem quer; quem, depois de obter o diploma, continua a educar-se, a progredir, consoante os interesses e necessidades.
Saber a lei do pêndulo, não basta, é preciso saber aplicá-la.
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
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