De Bragança a Rio de Onor é um saltinho. Tempos houve em que esta distância curta de 26km, por falta de estradas, era um obstáculo intransponível. A aldeia, separada pelo pequeno rio que lhe dá o nome, lado a lado com a vizinha aldeia espanhola, Riohonor de Castilla, foi desenvolvendo métodos próprios de organização, formas criativas de escapar ao isolamento e de resolver em comum os problemas que eram de todos. O pastoreio dos animais, o trabalho da azenha ou o forno do pão foram sempre geridos de forma comunitária e os problemas resolvidos no conselho da aldeia, formado pelos cerca de 50 chefes de família.
“No ano novo nomeavam-se dois mordomos, um de cada lado do rio, que ficavam responsáveis pela organização do conselho”, conta-nos Mariano Preto, agora com 85 anos. A votação era secreta, feita com pedras recolhidas num chapéu. Um risco na pedra ou a falta dele indicavam o sentido de voto. “Quando havia conselho, o mordomo tocava o sino e nós reuníamos para debater qualquer assunto. Chegámos a ter aqui 300 cabeças de gado e 300 cabras, tudo comunitário”, acrescenta. As más práticas dos habitantes eram traduzidas em multas, cujo valor era ditado pela vara da justiça pago em vinho. Era o que acontecia, por exemplo, quando um rapaz espanhol era apanhado a namoriscar uma rapariga portuguesa: “Tinha de pagar o vinho. E, no caso contrário, era igual. Mas isto era um divertimento para todos”, explica Mariano.
Ponte que liga as duas margens do Rio de Onor. créditos: Food and Travel Portugal |
Da tradição e do convívio entre os povos das aldeias dos dois países, surgiu uma nova linguagem, o rionorês, dialeto ainda hoje falado por alguns habitantes com orgulho.
O casario preservado, de pedra entalhada, todo uniforme, é um convite a apreciar a arquitetura simples desta aldeia integrada no Parque Natural de Montesinho. É por estas serras que pastam milhares de cabras e ovelhas, entre as quais as mais de 150 do rebanho de Joaquim Pereira, da aldeia de França. “Com um mês, os cabritos já estão prontos para comer”, explica-nos. As cabras pastam livremente todos os dias e é isso que dá o sabor à carne do cabrito de Montesinho, ingrediente central de um dos pratos mais conhecidos desta região. Outro prato incontornável, é a posta mirandesa, grelhada na brasa, apenas com sal e um pouco de azeite. É assim no Solar Bragançano, um restaurante de referência em Bragança, há mais de 30 anos, lugar de visita obrigatória para quem passa pela região. António Desidério, o proprietário, segue sempre a mesma regra: “Nunca levar para a mesa uma coisa que a minha mãe ou a minha avó não soubessem identificar”.
Ouriços de castanha créditos: Food and Travel Portugal |
Doces regionais que vamos encontrar também na loja Rota dos Sabores, no Mercado Municipal de Bragança. Quem toma conta do espaço é Fátima Teixeira, mas a criação dos doces está a cargo do filho, Eurico de Castro, um chef que tem sabido tirar o melhor partido dos produtos locais. Os ouriços de castanha são um bom exemplo disso, mas também o bolo à mirandesa com maçã ou os bolos rei de castanha e de abóbora.
António Pires, na aldeia de Parada de Infanções, é um dos produtores de castanha e de azeite da região: “Tenho 500 oliveiras e 500 castanheiros”, conta-nos em sua casa. Este ano correu de forma diferente para os dois produtos: “Tive metade da castanha do ano passado, mas quase o dobro das azeitonas. Nunca tive tanta azeitona na minha vida”. A azeitona sai para a produção de azeite – produto de excelência em Trás-os-Montes – e a castanha é vendida fresca ou para transformar em pasta de castanha.
Na mesma aldeia, vamos encontrar outro produto tradicional da região: os enchidos de fumeiro. Francisco Figueiredo,”quase na brincadeira”, começou a fazer enchidos para vender numa feira, há quatro anos. Entretanto, desenvolveu o seu projeto e instalou uma pequena unidade de produção, onde faz o seu fumeiro, “sempre com madeira de castanheiro”. Butelo, alheiras, salpicão, linguiça, bucheira (feita com o pulmão do porco) e a moura saem diariamente para venda na própria loja, em supermercados e até para clientes em França.
Fátima Teixeira com o bolo de chocolate. créditos: Food and Travel Portugal |
Amável Antão, construtor de máscaras créditos: Food and Travel Portugal |
Informação de viagem
Onde comer
O Trilho É o único restaurante em Rio de Onor, localizado junto à ponte medieval, à beira do rio. Serve as carnes da região, como a posta mirandesa. 273 927 035
O Carete Situado na aldeia vizinha de Varge, este restaurante tradicional, com lareira, serve excelentes carnes grelhadas e bacalhau assado. 273 919 112
Solar Bragançano Na Praça da Sé, em Bragança, é uma referência gastronómica do distrito. Produtos da região, cozinhados à lareira, em potes de ferro. Grande variedade de pratos de caça. 273 323 875
Onde dormir
Casa da Portela Este turismo rural nasceu da recuperação de um velho palheiro em Rio de Onor. Tem 4 suítes e uma sala com lareira. Duplo a 70€. 968 239 118
Casa de Onor Esta casa de campo, localizada na própria aldeia comunitária, dispõe de 5 quartos e sala de refeições. Duplo a 75€. 273 927 163
Parque de campismo rural Localizado à entrada da aldeia, junto ao rio, beneficia de uma localização extraordinária. Solução ideal nos dias de verão, para quem gosta do contacto direto com a natureza. 273 927 061
Informações Visite o site cm-bragança-pt
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