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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 6 de março de 2018

Muralha da cidadela - Forte de cavalaria


É natural que Bragança, apenas tenha obtido carta foralenga, código das suas liberdades e privilégios, cuidasse em erigir o seu castelo ou torre de menagem e respectivas muralhas, como faziam todos os outros povoados em igualdade de circunstâncias.
A este respeito são escassos os documentos, mas das Inquirições de D. Afonso III vemos que então se fazia já a sua muralha. Dizem elas:

Archiepiscopus levat tertiam de decimis ipsius Ecclesie (de Santa Maria) et concilium aliam tertiam pro ad faciendun murum.

Em 1377 já a cidadela, hoje vila, devia estar cercada de muralha, pois uma carta de el-rei D. Fernando, passada nesse ano aos 25 de Maio, fala-nos nos muitos trabalhos que padeciam «as campanhas (guarnição militar) que moram dentro na cerqua» e por isso lhes concede certas isenções.
Do exposto, podemos concluir que a cidadela de Bragança foi cercada de muralha, ao menos em parte, no reinado de D. Afonso III, a não querermos socorrer-nos à expressão um tanto duvidosa de Benquerentia, de Viterbo, a quem seguiu Lopo, pois neste caso tê-la-emos murada pelos anos de 1188, reinando D. Sancho I, e é natural que algo se fizesse já então nesse sentido, mas não tudo. E pelo que toca ao tal codicilo não nos parece bem clara a sua referência a Bragança.
El-rei D. Afonso IV concedeu ao concelho de Bragança as terças das igrejas do seu território «para reparamento dos muros», o que deixa supor que cercariam já nesse tempo a cidadela, embora posteriormente neles fizessem outras obras, como vamos mostrar.
A 10 de Fevereiro de 1424 concedeu el-rei D. João I certos privilégios aos moradores de Bousende e Moimentinha, pelo facto de serem reguengos de D. Fernando, filho de D. Afonso, mais tarde 1º duque de Bragança, e neles impõe a pena de seis mil reis «para a fonte do Castelo» a quem os transgredir.
Também pelos anos de 1508 o alcaide Lopo de Sousa mandou reparar parte da muralha e levantar outra que tinha caído, constrangendo para isso os povos e violentando-os a fazerem essa despesa à sua custa, quando pelos reais regimentos, dados a este propósito, apenas eram obrigados à condução dos materiais e outras pensões de serventia.
Houve recurso ao poder real e foram inquiridas testemunhas sobre o facto, pois o alcaide teimava em afirmar que sempre o povo pagara as mãos da obra. Uma das testemunhas — «Pero Galego de Rabal... perguntado que obras se acordaba fazerem disse que... na fonte dell Rey um pedaço com as ameas».
Ainda hoje é bem conhecida na muralha da vila esta Fonte d’El-rei, a que chamam actualmente o Poço d’El-rei.
Com esta muralha que circuitava a cidadela não devemos confundir as muralhas e trincheiras cercando a cidade, isto é, o arrabalde relativamente àquela, da qual ainda o onomástico nos conserva a memória nos locais da cidade, chamados Estacada, Fora de Portas, Postigo, Santo António, extramuros, etc., e mesmo se vêem vestígios na parte sul do muro do cemitério público e do seu lado sul ao longo do Fervença e em outros pontos.
Nós mesmo nos recordamos de ver o grande lanço dela que dividia ao meio a cerca do convento de Santa Clara e que foi destruída juntamente com este por ocasião de a Câmara querer fazer nela a praça-mercado.
Estas muralhas e trincheiras não foram construídas por ocasião das guerras com Castela, no tempo de D. João IV, como supõe Lopo, enganado pelo documento de 1687 e não 1685 como ele diz e nós damos adiante por extenso; do depoimento das testemunhas inquiridas por ocasião da pendência com o alcaide Lopo de Sousa, atrás citado, vê-se que elas falam num «muro e barreira darredor da cidade... que mandava fazer Alvaro Afomso no tempo que ell rrey dom Affomso amdava em Castella».
Ora, este muro e barreira em volta da cidade não podem ser de maneira alguma a muralha da cidadela ou vila como hoje dizemos mas sim outro diverso, qual o apontado, feito por ocasião de guerras com Castela, mas no tempo do rei D. Afonso V, o que não obsta a que reinando D. João IV, fervendo as guerras com essa nação, se lhe fizessem reparos, como é necessário, em obras consumidas surdamente pelo tempo.
O erudito autor da Bragança e Benquerença, vendo que o forte de S. João de Deus formava um mesmo plano defensivo da cidade com estas muralhas e trincheiras, deu-o naturalmente como feito no mesmo tempo. Enganar-se-ia, visto não citar a fonte onde bebeu tal notícia?
Este forte de cavalaria, assim chamado hoje por conter os quartéis de um regimento dessa arma, fica numa eminência a poente e contígua à cidade; é o antigo forte de S. João de Deus, do convento ou hospital, que antigamente esta ordem teve em Bragança, bem como em Miranda.
Foi destruído em 1762 pelos castelhanos. Em 1803 era seu governador José Ferreira Sarmento Pimentel, coronel de cavalaria e em 1807 exercia igual cargo João António Machado.
«O quartel moderno foi mandado construir pelo Ministério da Guerra sob a direcção do general Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda.
Tem sofríveis cavalariças para alojamento de trezentos e dezassete cavalos e regulares casernas que acomodam aproximadamente duzentas praças.
O edifício da secretaria regimental, onde se acham instaladas a repartição do Conselho Administrativo, a biblioteca, a casa da aula da classe de cabos, dos oficiais de inspecção ao quartel e de prevenção, é regular e foi mandada construir pelo Ministério da Guerra em 1864, sendo então o regimento comandado pelo coronel Borges, à iniciativa de quem se deve tão importante melhoramento. Anteriormente a esta época a secretaria achava-se instalada na Rua Nova daquela cidade, numa casa de renda, ocasionando graves transtornos ao serviço e à disciplina ».
Borges, depois de dizer que o forte de S. João de Deus foi mandado construir no tempo do rei D. João IV pelo conde de Mesquitela, governador das armas desta província, descreve-o assim: «He esta Fortaleza, regular de quatro angulos com outros tantos belluartes, como se vê desenhado no Methodo Luzitanico de Serrão, I parte, cap. VI, fol. 15, fig. 16. Está artelhada, e tem duas ruas de quarteis e huma Ermida de S. João de Deos. Obras exteriores, só o fosso aberto no terreno, e dous revelins; hum que cobre as Portas, e sobre estas em hum nicho está a Imagem de S. João de Deos, e o outro a cortina longa, que lhe corresponde. Pela parte meridional se lhe avezinha o Fervença e pela do Norte se estende a campanha em dilatado valle, que com vagarosa declinação vay cahindo sobre a ribeira de S. Jorge».
O local onde se construiu o forte era ao tempo um sardoal.


Memórias Arqueológico-Históricas
do Distrito de Bragança

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