(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
...continuação
No dia 08/03/1971 quando pela manhã, vindo da Nomadização o I.C.1/71 chegado ao Campo de Instrução do RCP em Tancos, teve que aguardar algum tempo antes de lhe ser concedida autorização para entrar no Regimento.
O Quartel estava de prevenção devido a uma sabotagem executada na BA3, do outro lado da estrada, onde foram destruídas 12 aeronaves, sendo dois helicópteros Puma (SA330), quatro helicópteros Alouette III e seis aviões sendo 1 Alister e 3 avionetas Dornier (DO-27). Foram danificadas mais 16 aeronaves que, no entanto, foi possível reparar e fazer regressar ao serviço.
A destruição provocada pelas explosões no principal hangar da Base Aérea de Tancos - FOTO FORÇA AÉREA PORTUGUESA |
A operação foi da responsabilidade da A R A, braço armado do P C P e teve a coordenação de Raimundo Narciso. Ora, este acto, destruiu o Angar principal da Base Aérea e provocou uma autêntica histeria na cúpula da Força Aérea Portuguesa, na PIDE/DGS e no Governo da Nação. Dias depois é recebida no R C P uma mensagem do Estado Maior da Força Aérea que ordenava a reativação em moldes operacionais do inoperacional B C P 111 que tinha duas Companhias sendo a 1a C C P e a C R, as sub unidades que o compunham. Como o número indica era esta historicamente a 1a Companhia do 1o Batalhão da 1a Região Aérea.
Ao tempo destes acontecimentos e como havíamos terminado o Curso de Combate (IC1/71) éramos portanto soldados para quedistas prontos e como tais estávamos todos mobilizados para servirmos no Ultramar, Angola era o nosso destino. Deixamos a 3a de Alunos e fomos transferidos para a 1a de Caçadores. Menos de uma semana decorrida depois de almoço dão ordem para a companhia formar em frente à sede e foi-nos lida a ordem do Estado Maior da Força Aérea para que se procedesse ao seu cumprimento.
Seguidamente são nomeados sessenta homens para formarem separadamente e foi-lhes comunicado que seriam eles a garantirem até ao dia da sua passagem à disponibilidade a segurança do Regimento. Para tal haveria instrução específica e proceder-se-ia à instrução adequada dos efetivos. A composição organizacional incluía um oficial subalterno, Capitão ou Tenente quatro Sargentos, seis Cabos e cinquenta e quatro soldados, que mais tarde foram aumentados para 70?, creio. Dos sessenta referidos são escolhidos 6 que cursariam o próximo Curso de Cabos. Foram escolhidos por votação livre e direta tendo cada um depositado um nome de quem achasse entre os sessenta merecer a confiança de poder ocupar o posto de Cabo e assim poder a Sub unidade funcionar como as disposições legais estabeleciam.
Depois da escolha e passado algum tempo, eu e mais cinco meus camaradas iniciámos o Curso de Cabos que terminou em Novembro de 1971. Haviam passado 15 meses desde o dia em que assentámos praça e passar-se-iam mais 20 até que entregamos, fardamento e armamento, e terminamos a nossa missão que nada previa que pudesse ser aquela, não tivesse sido aquele ato inesperado que a A N A protagonizou naquela noite / madrugada do dia 08/03/1970.
As voltas que o mundo dá. A partir de ali a minha vida passa a ter que comportar o serviço da Guarda que passou a ser feito exclusivamente por nós e a acumulação do serviço de Cabo do Fardamento que me ocupava o tempo que não estava de serviço de Escala. Foi nesta convivência próxima com os Sargentos que connosco trabalhavam que tive ocasião de me inteirar de quão importante é para a Instituição Militar a Classe de Sargentos.
A tropa funciona porque os Sargentos a fazem funcionar. Conheci alguns dos quais guardo memórias fantásticas e com a sorte de todos serem diferentes no seu carácter e preferências e muito iguais no desempenho do que era relacionado com o Serviço, quer fosse Guarda, serviço de Administração, Desfiles, Instrução ou Saltos e Lançamento de Homens ou Material e consequente Balizagem eram de uma competência que não passava despercebida a quem fosse minimamente observador. Um dos meus preferidos era o Sargento Gama com quem lidei de perto na feitura do Jornal de Parede que para além da mensagem puramente militar tinha uma secção literária que dava gosto ler. Ensaios, Crónicas, Poesia e até Artigos sobre Politica ou Ciência esse jornal de parede dava à estampa e era posto à vista de todos na parede do lado direito da entrada na Companhia num escaparate próprio para que todo o pessoal pudesse ter acesso a um pouco de cultura, Light, que o Aspirante Carvalho, depois Alferes, o Sargento Gama, ambos antigos seminaristas, e o Cabo Santos que era pasteleiro na vida civil, lhes proporcionavam uma vez por semana, o que não era nada fácil pois o dia só tem 24 horas e tudo se fazia sem prejuízo do Serviço e da Instrução.
O sargento Gama foi sempre o mensageiro escolhido pelo Comandante de Companhia para conversar connosco nas várias tentativas de nos convencer a frequentarmos o Curso de Furriéis e tornarmo-nos em Páras profissionais. Nenhum dos seis aceitou e o Sargento Gama habituado como estava a cumprir com resultados positivos todas as missões que lhe confiavam, dizia-nos quando calhava ser ocasião propícia: -Fostes os únicos que não consegui convencer, mesmo pensando eu terdes todos vós os predicados necessários para poderes ser verdadeiros Sargentos para-quedistas. E assim se impediu o Sargento Gama de levar a carta a Garcia.
continua...
10/11/2018
A. O. dos Santos
(Bombadas)
Sem comentários:
Enviar um comentário