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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

CHUMBAR OU NÃO CHUMBAR, EIS A QUESTÃO!

A Senhora Dona Emília, Regente de Posto de Ensino em Lagarelhos, no ano de 1952, no fim do ano lectivo anunciou aos seus alunos das quatro classes aqueles que não propunha a exame. Os arredados da prova não tugiram, nem mugiram. Fui fazer a prova da primeira classe a Vilar de Ossos, a professora oficial Dona Corina Lima Barreto presidente do júri aprovou-me, regalado comi a merenda e regressei à aldeia dos prodígios. Ao tempo a Mestra procedeu à retenção dos menos aptos. A escola era acanhada, suja, nas paredes um crucifixo, as fotografias avantajadas do Marechal Óscar Carmona e de Salazar.

Na segunda classe já estava em Bragança, a professora seca de carnes, a Dona Aninhas Castro, ensinava uns quarenta rapazes a serem homens, não tolerava mudanças de carteira, avisava os mais novos de irem engrossar o grupo de repetentes, no termo das aulas repetiu a selecção feita pela Dona Emília. Uma e a outra não queriam obter chumbos, eis a razão do ajuste entre os escolhidos e os preteridos. No fim de contas, apesar da diferença de estatuto e vencimento, as duas docentes não queriam ficar mal vista, menos ainda a averbarem classificação capaz de colocar uma pedra negra no seu currículo.

Nunca mais vi a Senhora Dona Emília, voltei a ter a Dona Aninhas Castro na quarta classe, a terceira obtive-a em Macedo de Cavaleiros, o professor Meireles era exigente jovial, no correr dos meses avisava da possibilidade do «não ir a exame» como aconteceu no ano imediato a rapaz da rua do Paço, em Bragança. A mãe entendeu pedir explicações à Senhora Dona Isabel, ante a negativa da Tia do Zé Toninho bradou palavrões e exclamações que correram circularam nas ruas, ruelas e calejas da cidade durante muito tempo.

Atrevo-me a recordar nomes de professoras e professores porque se salientaram enquanto educadores, repito educadores respeitados e famosos por via dos resultados, correndo o risco do olvido fragmentário de há mais de sessenta e quatro anos trago à colação o Professor Dionísio Gonçalves, o Professor Rombo, as professoras Dona Beatriz Monteiro, Dona Aninhas Castro, as duas Donas Isabel, a Dona Luzia (célebre explicadora), a Menina Mariazinha Tombo, uns e outras tinham a primazia nos passeios e vénias de respeito.

As quatro Escolas do plano dos centenários recebiam centenas de alunos ricos (poucos), remediados e pobres. Na Escola o dia repartia-se em dois turnos, além da matéria tínhamos prédicas políticas e religiosas, o Salazar revelava-se nas inscrições de propaganda «se tu soubesses quanto custa mandar obedecias toda a vida», «tudo pela Nação, nada contra a Nação», as qualidades pedagógicas das Mestras e Mestres faziam-nos gostar da Escola.

Os tempos mudaram, o Mundo evoluiu, no que tange à Escola perdeu-se o cívico respeito pelos professores em geral, em particular os do Ensino Secundário foram menorizados no estatuto e no vencimento comparativamente com profissões de exigência académica e profissional idênticas, o abastardamento singrou até ao corolário de agressões a professores por parte de alunos e pais passar à condição de banalidade. Os Ministros e Secretários de Estado fingem preocupação aos costumes dizem nada, ao invés tudo muda de figura. Não quero continuar a carpir evidências negativas, no entanto, não podemos ficar surpreendidos quando os pedagogos e as pedagagas (imensas e muitos) vomitam imprecações justificativas dos denominados chumbos. Por essa e outras razões o Ministro, os ministros, tentam ocultar os números dos chumbos e lançam planos sobre planos, mágicos ou milagreiros a fim de as estatísticas do desaire baixarem, a todo o tempo desmentidas pela crescente iliteracia a atingirem níveis preocupantes. Prevalece a propaganda e a ilusão.

Em todos anos da instrução primária fui submetido a prova de exame, não fiquei traumatizado, nem o Francisco Cepeda, o José Luís, o Mansilha, o Romeu, o Augusto e por aí adiante, íamos a pé para a Escola, os livros e os cadernos em pastas de cartão e sacolas de pano, reguadas corrigidos os ditados, as cópias e as contas. Até cantávamos as estações de comboio da linha da Beira Alta. Passaram seis dezenas de anos, inovações materiais de tomo facilitam a vida dos meninos e das meninas, experiências  pedagógicas a rodos não cessam, a Escola continua a ser laboratório alquimista, só que o segredo da água de vida obriga a disciplina, rigor, trabalho e novamente trabalho. Dizem que trabalhar dá saúde, responde o sistema educativo: que trabalhem os doentes.

Não chumbar ninguém é que dava jeito!!!

Armando Fernandes

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