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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 31 de maio de 2023

O LÍTIO, O FERRO E O CHUMBO

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Respeitando todas as opiniões não é fácil aceitar o argumento, demasiadamente usado por quem defende a exploração mineira, acusando os que a contestam de não dispensarem os telemóveis que usam baterias de lítio. Se essa argumentação fosse razoável então não haveria como sustentar tantas reivindicações justas e certas pois seria sempre possível encontrar manifestantes automobilizados entre os que reclamam do excesso de tráfego nas cidades e consumidores de produtos orientais entre os que não se calam contra a exploração de mão-de-obra escrava na Ásia.
Sendo óbvio que a existência de fundamentalismos, legítimos e úteis na sua missão de acordar consciências, não vai impedir o curso do progresso, nem tão pouco é isso recomendável, a verdadeira questão não pode andar à volta do modo de vida de quem apoia ou contesta mas sim da forma de viver e do bem estar das pessoas que residem nos locais para onde se aponta a atividade extrativa.
É aí que se deve centrar a discussão.
Se o desenvolvimento tecnológico contribui, sem qualquer dúvida, para a melhoria de vida de toda a gente, também ninguém pode duvidar do enorme transtorno que a exploração mineira acarreta consigo. Os defensores da mineração acenam com o desenvolvimento económico regional e com dezenas e dezenas de emprego. Analisemos essas propostas, supostamente, excelentes.
Há uma insinuação que a história já nos provou não ser verdadeira. O aproveitamento de riquezas naturais não implica, automaticamente, a subida de nível de vida dos habitantes dessas regiões. Se assim fosse os nativos da zona da Lunda, onde se extraem os maiores e mais valiosos diamantes, estariam, seguramente, entre os mais ricos, abastados e bem sucedidos cidadãos de África.
Não é assim!
Quanto aos empregos seria bom que os mesmos fossem concreta e seriamente enunciados. No caso do lítio apenas se anunciam de forma genérica. Mas para o ferro de Moncorvo foram já avançados números embora com um largo intervalo, desde a centena de empregos diretos até ao milhar de indiretos. Seria bom assentar num intervalo mais curto e, sobretudo estratificar claramente os respetivos tipos para sabermos bem do que se está a falar: quantos administrativos, quantos engenheiros, quantos operadores de máquinas e em que condições vão operar.
Não é possível esquecer que foi para fugir aos trabalhos de escravidão que, nos anos sessenta e setenta, dezenas de milhares de nordestinos, emigraram, desafiando tantos riscos, perigos e infortúnios.
Não me vou pronunciar sobre as duras condições do trabalho em galerias de minas, porque disso nada sei, mas recomendo a leitura do maravilhoso livro de padre Telmo Ferraz “O Lodo e as Estrelas” que nos tempos revolucionários o meu velho amigo Ernesto Rodrigues andou a promover, sob a forma de teatro, por todo o nordeste e onde, casualmente, também participei e que o amigo comum Fracisco Niebro traduziu para mirandês.
Explorar e rentabilizar as reservas de ferro e lítio?
Sim, porque não?
Desde que, com elas, não regressem os tempos de chumbo!


José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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