(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Respeitando todas as opiniões não é fácil aceitar o argumento, demasiadamente usado por quem defende a exploração mineira, acusando os que a contestam de não dispensarem os telemóveis que usam baterias de lítio. Se essa argumentação fosse razoável então não haveria como sustentar tantas reivindicações justas e certas pois seria sempre possível encontrar manifestantes automobilizados entre os que reclamam do excesso de tráfego nas cidades e consumidores de produtos orientais entre os que não se calam contra a exploração de mão-de-obra escrava na Ásia.
Sendo óbvio que a existência de fundamentalismos, legítimos e úteis na sua missão de acordar consciências, não vai impedir o curso do progresso, nem tão pouco é isso recomendável, a verdadeira questão não pode andar à volta do modo de vida de quem apoia ou contesta mas sim da forma de viver e do bem estar das pessoas que residem nos locais para onde se aponta a atividade extrativa.
É aí que se deve centrar a discussão.
Se o desenvolvimento tecnológico contribui, sem qualquer dúvida, para a melhoria de vida de toda a gente, também ninguém pode duvidar do enorme transtorno que a exploração mineira acarreta consigo. Os defensores da mineração acenam com o desenvolvimento económico regional e com dezenas e dezenas de emprego. Analisemos essas propostas, supostamente, excelentes.
Há uma insinuação que a história já nos provou não ser verdadeira. O aproveitamento de riquezas naturais não implica, automaticamente, a subida de nível de vida dos habitantes dessas regiões. Se assim fosse os nativos da zona da Lunda, onde se extraem os maiores e mais valiosos diamantes, estariam, seguramente, entre os mais ricos, abastados e bem sucedidos cidadãos de África.
Não é assim!
Quanto aos empregos seria bom que os mesmos fossem concreta e seriamente enunciados. No caso do lítio apenas se anunciam de forma genérica. Mas para o ferro de Moncorvo foram já avançados números embora com um largo intervalo, desde a centena de empregos diretos até ao milhar de indiretos. Seria bom assentar num intervalo mais curto e, sobretudo estratificar claramente os respetivos tipos para sabermos bem do que se está a falar: quantos administrativos, quantos engenheiros, quantos operadores de máquinas e em que condições vão operar.
Não é possível esquecer que foi para fugir aos trabalhos de escravidão que, nos anos sessenta e setenta, dezenas de milhares de nordestinos, emigraram, desafiando tantos riscos, perigos e infortúnios.
Não me vou pronunciar sobre as duras condições do trabalho em galerias de minas, porque disso nada sei, mas recomendo a leitura do maravilhoso livro de padre Telmo Ferraz “O Lodo e as Estrelas” que nos tempos revolucionários o meu velho amigo Ernesto Rodrigues andou a promover, sob a forma de teatro, por todo o nordeste e onde, casualmente, também participei e que o amigo comum Fracisco Niebro traduziu para mirandês.
Explorar e rentabilizar as reservas de ferro e lítio?
Sim, porque não?
Desde que, com elas, não regressem os tempos de chumbo!
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
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