quarta-feira, 24 de maio de 2023

Ferrovia poderá ter de ir "à boca da mina" de ferro de Moncorvo - Aethel

 O diretor-geral da Aethel Mining, Nuno Araújo, disse hoje à Lusa que a ferrovia poderá ir "à boca da mina" caso a siderurgia de aço 'verde' feito com o ferro de Torre de Moncorvo fique longe da extração.


"Naturalmente, no futuro, se a fábrica, a siderurgia que nós gostaríamos que ficasse em Portugal for nas imediações [da mina], tanto melhor. Se for mais distante, significa que a ferrovia terá de dar resposta a essa necessidade, e aí tem que vir mesmo à boca da mina", disse, em entrevista à Lusa, o responsável que se juntou à Aethel no início do ano.

Nuno Araújo salientou que a forma de transportar o agregado de ferro atualmente em produção "é com camiões", algo que "não é a melhor solução".

"Do ponto de vista de sustentabilidade não é aquela que nós queremos agarrar, e há duas que nos dão mais garantias. Quer a ferrovia, por um lado, quer a via fluvial. Mas ambas têm limitações", disse à Lusa o antigo presidente da Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL).

Nuno Araújo explicou que, para já, mesmo que fosse utilizada a Linha do Douro, seria necessário ter "um camião a levar para o Pocinho", de qualquer forma.

"Ou seja, não é comportável para nós, não está nos nossos planos nós utilizarmos camiões", apontou.

Questionado sobre o traçado da antiga linha do Sabor e acerca da renovação prevista para a Linha do Douro, admitiu que a renovação é algo que apraz à Aethel, "até porque o lado sul da mina está mesmo próximo do Douro, que é onde vai ficar a lavaria" prevista para a segunda fase do projeto.

Atualmente, na primeira fase de reativação das minas de Torre de Moncorvo, no distrito de Bragança, está em extração um agregado com 48% de ferro, prevendo-se que com a lavaria passe para 68% de concentrado de ferro e com a siderurgia haja a possibilidade de produzir aço 'verde', com recurso a hidrogénio para produzir energia para alimentar os fornos.

"Qualquer requalificação que seja feita na Linha do Douro será sempre, para nós, boa", reconheceu, dizendo que empresas como a Medway ou a Takargo, que operam no ramo das mercadorias ferroviárias, já "apresentaram soluções logísticas, mas com bastantes limitações" face às condições atuais da via.

Nuno Araújo lembrou que "na própria infraestrutura há limitações, sobretudo nas obras de arte, na capacidade de carga, e do tipo de locomotiva que se pode utilizar", pelo que a expectativa da Aethel "é que essa obra aconteça, que elimine, de uma vez por todas, as limitações na infraestrutura" e permita ter "composições com mil toneladas" a circular.

Outra solução para o transporte dos produtos seria o recurso à Via Navegável do Douro, e questionado sobre se a Aethel planeia mover esforços no sentido de levar a linha de comboio à boca da fábrica, Nuno Araújo disse que "ambas" são uma possibilidade.

"Mas, seja como for, [sempre] em ferrovia. Na altura, no ano passado, ou há dois anos ou há três, já fizemos vários estudos preliminares, internamente até, e a via navegável era aquela que tinha mais capacidade de transporte", referiu.

No entanto, como a zona do Tua "limita muito o calado dos navios", seria necessário utilizar barcaças e fazer várias transferências de mercadoria ao longo do caminho.

"Cada movimento que nós fazemos é um custo, é por isso que a ferrovia tem interesse, é carregar diretamente na ferrovia, o comboio vai direto", salientou Nuno Araújo.

Segundo contas da Aethel Mining, por via ferroviária, sem limitações na linha, poderia ser possível transportar "oito mil toneladas por semana", e na via navegável 15 mil, "quase o dobro".

O gestor afirmou que "essas questões têm que ser todas equacionadas", sendo que está sempre em cima da mesa a questão "mais importante", a da sustentabilidade, apontou.

"Pode haver um preço a pagar para ser mais 'verde', para ser mais sustentável, para diminuir a nossa pegada ambiental", admitiu Nuno Araújo à Lusa.

A Aethel Mining Limited é uma "empresa britânica detida exclusivamente" pelo português Ricardo Santos Silva e pela norte-americana Aba Schubert, "que já havia recebido a aprovação da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), em novembro de 2019, para assumir o controlo da mina de Torre de Moncorvo".

As minas de ferro de Torre de Moncorvo foram a maior empregadora da região na década de 1950, chegando a recrutar 1.500 mineiros.

A exploração de minério foi suspensa em 1983, com a falência da Ferrominas.

JE (FYP) // JAP
Lusa/Fim

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