“É fundamental começar a pensar, seriamente, na utilização da água existente nestas albufeiras para fins agrícolas, e não só para a produção de energia. Trata-se de água que depois corre para o mar sem outro tipo de aproveitamento”, disse à Lusa Armando Pacheco, manifestando-se preocupado com o desaproveitamento.
O dirigente acrescentou que culturas como o amendoal ou olival estão próximas destes empreendimentos hidrelétricos (albufeiras dos rios Douro Sabor e Tua) e que “sem água” não se tornam rentáveis “para os agricultores, principalmente em tempo de seca”.
“Vou ainda mais longe, há muita água que se desperdiça a norte do rio Douro, principalmente nos seus afluentes. Esta água tem igualmente de ser armazenada quando estamos em pleno, para depois ser utilizada em situações mais criticas”, vincou.
A Associação de Produtores Agrícolas Tradicionais e Ambientais (APATA) tem sede em Mogadouro, no distrito de Bragança, e representa cerca de 1.500 agricultores do norte e centro do país.
Armando Pacheco é igualmente da opinião que se devem acautelar os caudais necessários para manter vivos os ecossistemas, mas que não se deve deixar correr a água para o mar “sem ser primeiro utilizada para diversos fins agrícolas”.
“O caudal do rio Douro só existe para manter a produção energética. Empresas hidroelétricas fazem a gestão de caudais apenas por interesses próprios”, exemplificou o dirigente associativo.
O presidente da APATA é ainda da opinião que se deve levar água de norte para sul, que é território mais crítico em termos de seca, utilizando as bacias hidrográficas nacionais.
Para sustentar a afirmação, o dirigente defende que através de toda a bacia hidrográfica se "pode canalizar caudais para sul, utilizando morfologia do terreno para esse fim sem entrar em território espanhol”.
Apontou que canais como a construção de uma barragem no rio Côa, junto a Foz Côa (Guarda), cujas obras foram suspensas em 17 de janeiro de 1996, “podem armazenar água e através da morfologia do terreno canalizá-la para território mais a sul ajudando minimizar os impactos da seca”.
Armando Pacheco disse ainda que “esta água que se junta nas bacias hidrográficas por onde passam os rios e ribeiras tem de ser tomada em conta, e começar a pensar em construir represas para os regadios nestes territórios, para fazer face às necessidades hídricas”.
No fim do mês passado, 33,2% do território estava em seca moderada, 22% em seca fraca, 19,9% em seca severa, 14,1% em seca extrema e 10,8% normal.
Em abril do ano passado, todo o território de Portugal continental já estava em situação de seca, a maior parte em seca moderada (87,2%).
Os dados do boletim indicam que no mês de abril o total de precipitação (18,2 milímetros) foi muito inferior ao valor médio (23%), sendo o 3.º abril mais seco desde 1931.
No que diz respeito à percentagem de água no solo, o instituto referiu que houve uma diminuição muito significativa da percentagem em todo o território.
O IPMA adiantou também que o mês de abril classificou-se como muito quente em relação à temperatura do ar e extremamente seco em relação à precipitação.
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