Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 23 de maio de 2023

Os fachoqueiros

 Ora aqui está uma fotografia que pode cair mal a alguns Amigos. Na verdade, ela documenta um dos mais bárbaros momentos do ano rural: a matança. A própria palavra ‘matança’ arrepia. Mas o acto em si arrepiava muito mais. Assisti uma vez a todo o ritual e fiquei vacinado para todo o sempre. Aquele prenderem o porco pelo focinho, aquele arrastarem-no à força para a rua, aquele colocarem-no sobre o banco, e sobretudo aquele facalhão que, embebido na carne, procura o coração para o golpe de misericórdia — tudo isso me ficou gravado a negro na memória. Como ficou gravada a angústia da minha Mãe, que se repetia ano após ano. Ela — que criou o porco a caldeiras de vianda e se deixou afeiçoar a ele —, quando o clamor da vítima se começava a ouvir, tapava os ouvidos, refugiava-se o mais longe que podia e chorava. Como me lembro disso! 
Depois, com o porco morto, a vida continuava, como se não tivesse havido ali uma tragédia salpicada do sangue inocente do reco. Tragédia cruel, bárbara, sanguinária — mas necessária para que houvesse, pelo ano fora, carnes na salgadeira. Ou seja: a vida cevando-se na morte.
Para que conste: dos dois petizes à direita, o mais pequeno sou eu, o maiorzinho é o meu irmão Rui. O porco já estava morto, já gostávamos de ver como tudo ia terminar e até achávamos piada e ajudávamos a chamuscar o bicho com os fachoqueiros de palha a arder.

A. M. Pires Cabral

Sem comentários:

Enviar um comentário