Ora aqui está uma fotografia que pode cair mal a alguns Amigos. Na verdade, ela documenta um dos mais bárbaros momentos do ano rural: a matança. A própria palavra ‘matança’ arrepia. Mas o acto em si arrepiava muito mais. Assisti uma vez a todo o ritual e fiquei vacinado para todo o sempre. Aquele prenderem o porco pelo focinho, aquele arrastarem-no à força para a rua, aquele colocarem-no sobre o banco, e sobretudo aquele facalhão que, embebido na carne, procura o coração para o golpe de misericórdia — tudo isso me ficou gravado a negro na memória. Como ficou gravada a angústia da minha Mãe, que se repetia ano após ano. Ela — que criou o porco a caldeiras de vianda e se deixou afeiçoar a ele —, quando o clamor da vítima se começava a ouvir, tapava os ouvidos, refugiava-se o mais longe que podia e chorava. Como me lembro disso!
Depois, com o porco morto, a vida continuava, como se não tivesse havido ali uma tragédia salpicada do sangue inocente do reco. Tragédia cruel, bárbara, sanguinária — mas necessária para que houvesse, pelo ano fora, carnes na salgadeira. Ou seja: a vida cevando-se na morte.
Para que conste: dos dois petizes à direita, o mais pequeno sou eu, o maiorzinho é o meu irmão Rui. O porco já estava morto, já gostávamos de ver como tudo ia terminar e até achávamos piada e ajudávamos a chamuscar o bicho com os fachoqueiros de palha a arder.
Depois, com o porco morto, a vida continuava, como se não tivesse havido ali uma tragédia salpicada do sangue inocente do reco. Tragédia cruel, bárbara, sanguinária — mas necessária para que houvesse, pelo ano fora, carnes na salgadeira. Ou seja: a vida cevando-se na morte.
Para que conste: dos dois petizes à direita, o mais pequeno sou eu, o maiorzinho é o meu irmão Rui. O porco já estava morto, já gostávamos de ver como tudo ia terminar e até achávamos piada e ajudávamos a chamuscar o bicho com os fachoqueiros de palha a arder.
Sem comentários:
Enviar um comentário