quarta-feira, 31 de maio de 2023

Transmontana mantém viva tradição secular da tecelagem

 Em Lamas de Orelhão, no ​​​​​​​concelho de Mirandela, vive a única tecedeira em lã natural que ainda vai resistindo na região transmontana.

© Fernando Pires/TSF

O som cadente do tear faz parte do dia-a-dia de Fátima Gomes. Desde tenra idade que sentiu o apelo da criação, auxiliada pela mãe que já era tecedeira e lhe incutiu a paixão pela tecelagem. "Isto já vem desde que nasci. A minha mãe estava grávida de mim e saiu do tear para eu nascer. Depois fui aprendendo a fazer uma coisa de cada vez e ainda cá ando", diz Fátima.

É na sua casa, na aldeia de Lamas de Orelhão, no concelho de Mirandela, que a única tecedeira de lã natural que ainda vai resistindo na região da Terra Quente Transmontana, todos os dias se senta em frente a um dos três teares tradicionais que ainda tem para trabalhar. Com 18 anos emigrou para França de onde regressou pouco depois dos 30 anos e, até hoje, agora com 68 anos. "Nunca mais parei. Fiz muitas feiras de Norte a Sul de Portugal", conta.

O trabalho do tear não a desmotiva, e repete meticulosamente os movimentos que darão vida às suas obras. Realiza o fio de uma só cor ou com matizes, misturando lã de várias tonalidades, conseguindo tons extraordinários com as suas cores naturais. Primeiro eram mais cobertores, mas agora também são carpetes e tapetes, muitos tapetes. Um deles estava a ser acabado. "Estou a fazer com as cores todas que há nos rebanhos, nas ovelhas. O branco, o mesclado que é meio cinzento, o castanho e temos esta cor que é a cor das cordeiras quando se tosquiam que é das badanas", explica.

Mas antes da lã de ovelha chegar ao tear, há ainda muito trabalho a fazer. "Tem de ser lavada, cardada, fiada e antes de ser utilizada ainda a passo pela máquina de lavar para acabar de tirar os cheiros e depois o fio que a gente faz do tecido." Depois disso, é trabalhado no tear até à obra final. "Mete-se o fio, o tear abre, o pé está a abrir os liços e mudo o pé e os liços também se mudam, o que faz o cruzamento dos fios", revela.

Para lá da sabedoria e do carinho colocado em cada peça, Fátima confessa que também é necessário alguma destreza física para manusear o tear. "O braço e a perna que abre o tear estão sempre a ser usados", conta.

Esta tecedeira não consegue passar um único dia sem uma visita ao seu ateliê. "Nem que seja só uma pequena coisa tenho de vir, porque isto é a minha paixão. É a minha família, as minhas filhas e o meu marido, e os meus teares", admite.

Se hoje em dia ter um tear é um verdadeiro achado, antigamente era frequente ser até prenda casamento. "Muita gente acabou por queimar os teares. Antigamente, contava a minha mãe e a minha avó, que só aqui nas Lamas chegou a haver 25 tecedeiras. Depois as filhas casavam, e o dote de casamento era um tear, mas depois veio a emigração e acabou-se, agora só resto eu", diz.

Esta tecedeira não consegue passar um único dia sem uma visita ao seu ateliê. "Nem que seja só uma pequena coisa tenho de vir, porque isto é a minha paixão. É a minha família, as minhas filhas e o meu marido, e os meus teares", admite.

Se hoje em dia ter um tear é um verdadeiro achado, antigamente era frequente ser até prenda casamento. "Muita gente acabou por queimar os teares. Antigamente, contava a minha mãe e a minha avó, que só aqui nas Lamas chegou a haver 25 tecedeiras. Depois as filhas casavam, e o dote de casamento era um tear, mas depois veio a emigração e acabou-se, agora só resto eu", diz.

Fernando Pires

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