O Jogo do Malhão
“O malhão é uma malha de pedra com cerca de quinze quilos para cujo lançamento se exige força e técnica.
É ir a Barroso ou ao Vale de Aguiar, também às povoações das faldas do Alvão, e ver como os homens, por vezes sem aspecto de valentaças, atiram com o calhau a uma distância de se dar dois assobios admirados.
Como muitos outros jogos, o do malhão procede do trabalho rural.
Imaginemos um agricultor a atirar para a borda do campo ou para um qualquer muragalho as pedras que empecilham o cultivo.
Imaginemos ainda que ele, com uma pedra mais pesada, resolve experimentar a sua força, esforçando-se por que a pedra atinja a distância fixada.
O trabalho ganha assim uma nova dimensão, a do prazer lúdico, e o jogo nasce, convertendo-se em competição se outro agricultor está a seu lado e decide fazer a mesma experiência.
Foi assim que o jogo do malhão nasceu e terá sido assim que a modalidade do disco olímpico nasceu também.
Diz Homero na Odisseia (Rapsódia Um) sobre a participação de Ulisses num torneio de jogos no país dos Feácios: «Tomou o disco… Fê-lo girar com o braço e de sua forte mão despediu a pedra que zunia.»
Note-se, entretanto, que nas aldeias transmontanas o malhão não tem obrigatoriamente cerca de quinze quilos: o povo é avesso à rigidez do desporto, sendo flutuantes as regras dos seus jogos que se adaptam frequentemente às circunstâncias.
Regras
1.- A pedra a lançar é a mesma para todos os concorrentes e terá aproximadamente quinze quilos.
2.- Cada concorrente tem direito a lançar seis vezes a pedra, alternadamente.
3.- Sempre que caia a pedrinha colocada em cima da vara, a seus pés, o lançamento é considerado nulo, tal como quando o jogador ultrapassa o risco (onde a vara se encontra horizontalmente) no acto ou logo após o lançamento.
4.- É o local onde o malhão bate, mais próximo do local de lançamento, que marca a distância, vencendo o jogador que mais longe o atirar.
Nota: Há vários jogos do malhão. Este pode ser atirado com uma das mãos – de lado, por cima dos ombros ou dentre as pernas, sendo a primeira a modalidade habitual.”
António Cabral “A perspectiva cultural dos jogos populares”, in Estudos Transmontanos, Vila Real, n.º 2, 1984 (texto editado)
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