Na Grécia antiga um sapateiro ao ver um quadro do famoso pintor da Jónia, Apeles assim o deu a conhecer Plínio O Velho, apontou um defeito numa sandália da figura retratada, Apeles ouviu e logo emendou o defeito. No dia posterior colocou-se atrás de uma cortina de modo a poder ouvir os comentários dos passantes observadores. Pois logo voltou a surgir o sapateiro que não tardou a apontar outro defeito no quadro. Apeles verificou a não razão do atrevido sapateiro, correu a cortina, apareceu e disse ao remenda tombas: não subas acima da chinela…
Vem isto a propósito de ter lido o intento de artista pasteleiro ter tido a intenção, ou ter concebido um bolo-rei utilizando farinha de castanha na presunção de elevar as potencialidades turísticas da região recorrendo a tal farinha para o efeito. A história do bolo de Reis remonta às festas em honra de Saturno (saturnais), nesse período colocava-se uma fava no preparado contemplando um rei ou uma rainha, na Idade Média, é, como agora, festividade maior da Igreja Católica, ligando-o à Epifania. O bolo dos Reis passou a bolo-rei, pelo meio refulgem episódios que conferem a este bolo representações de vária ordem, ate as políticas, a seguir à Revolução Francesa e à implantação da República em Portugal surgiram tentativas de republicanização do afamado doce. A real/realeza manteve-se.
Não sendo lacrimejante saudosista parece-se ser a sua confecção com farinha de castanha em virtude do seu conteúdo açucarado de nascença a colidir com o açúcar em pó, para além de a acima referida farinha ser mais grossa.
Tecnicamente é possível a confecção empregando a farinha do fruto castanho, no entanto, há inovações a evitar, porque se em matéria de gostos nada está decretado, manda o bom senso e o bom gosto mantermos as receitas tradicionais. Para mal chegam as abstrusas alheiras de tudo e mais alguma coisa, incluindo as seculares cuja lenda continua a ser ululantemente veiculada.
Armando Fernandes
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