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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Então, e quem já está no interior?

O que o mundo rural precisa é de que parem de o tratar como uma mera paisagem do país e que haja pessoas verdadeiramente interessadas em valorizá-lo.
MARCO DUARTE
A nova proposta do Governo, que visa um apoio de até 4800 euros a quem for viver para o interior, promete apoiar o mundo rural, atraindo população para lá. Mas então fica a pergunta: e quem já lá está? Não merece ser valorizado?

Conceder subsídios aos trabalhadores urbanos de modo a recompensá-los se se mudarem para o interior não é valorizar o mundo rural. Precisamente porque, ao considerar necessário “recompensar” quem se mude para o interior, está a pressupor-se que essa seria uma tarefa dolorosa, uma tarefa que dada a sua natureza prejudicial necessita de uma compensação. Isso demonstra a posição preconceituosa que os governantes e a maioria da população urbana têm em relação ao interior do nosso país.

Porque não começar por valorizar realmente quem já lá está? Pessoas que, ou por amor à sua terra ou por que razão seja, apesar de terem consciência de que são esquecidas vezes sem conta nas tomadas de decisões das mais altas figuras do país, permanecem no interior e são quem lhe dá vida. São quem permite que ele sobreviva e, com isso, permite que o próprio país sobreviva. Seja através de subsídios ou de investimento na melhoria das infra-estruturas ou serviços, por que é que não estamos a valorizar estas pessoas, incentivando-as a permanecerem no interior e tornando-o tão atractivo como o litoral?
Dá trabalho, sim. Dá muito que pensar, sim. Decidir qual a melhor opção para combater o despovoamento do interior é mesmo muito difícil. Mas a solução para evitar tudo isso é esbanjar o dinheiro público em subsídios para que os trabalhadores urbanos, que já são muito beneficiados em vários aspectos, concedam o favor de se mudarem para o interior?

Olho para esta medida, inserida num programa de descentralização e valorização do interior, e não vejo a tal valorização do interior. Vejo antes um pensamento como: “O mundo rural é horrível, por isso tomem aqui um subsídio e mudem-se para lá. Não vão gostar, mas, pelo menos, recebem bem.”

E, por isso, pergunto-me como é que esta medida faz sentir aqueles que já vivem no interior. Diria que, mais uma vez, sentem que foram esquecidos. Vivem com menos atenção dos nossos governantes, o que se traduz numa inferioridade de qualidade de serviços públicos e, em vez de verem ser feitas apostas para os melhorar, o que é que vêem? Vêem trabalhadores a vir do litoral para receberem dinheiro pelo simples facto de se mudarem para o interior, enquanto os que já lá estão, vivam com muito ou pouco, são ignorados. Quão ofensivo deve ser isso!

Caro Governo, o que o mundo rural precisa é de que parem de o tratar como uma mera paisagem do país e que haja pessoas verdadeiramente interessadas em valorizá-lo. O interior do país precisa de apoio. As pessoas que lá vivem precisam de apoio. Precisam mesmo. E apoiá-las não será uma tarefa fácil. Mas quem, definitivamente, não devia ser uma prioridade a receber esse apoio, essa quantia de dinheiro (que ainda por cima é escandalosa, atendendo ao valor das pensões que a maioria dos idosos em Portugal recebe) é o trabalhador urbano que faça a gentileza de se mudar para o interior. Ele precisa tanto do mundo rural como o mundo rural precisa dele.
Catarina Moreira D´Orey
Estudante do 1.° ano de Direito na Faculdade de Direito de Lisboa. Principais interesses: leitura, política e música.

1 comentário:

  1. Antônio Carlos Affonso dos Santos - ACAS7 de fevereiro de 2020 às 20:13

    Os Transmontanos devem estar orgulhosos desta Catarina.
    Muito sensato e verdadeiro,tudo que ela disse. Se eu m dia for a Portugal,gostaria de encontrar algumas centenas de
    Catarinas, que devem substituir os políticos mofados do governo central.
    Isso é ser patriota;e sensível!
    Saravá, Catarina; Axé; ave; Deus te guie!
    Gostaria de vê-la mais,nos brindando com sua verve fresca. Sua crônica me soa como a chuva de verão que cai lá fora
    e que aprecio,desde meu recanto,aqui de São Paulo- Brasil!.

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