Em declarações à Lusa, o presidente da Câmara vincou que a solução reclamada localmente nos dois lados da fronteira é a de um estudo prévio que aponta para um investimento de 34 milhões de euros para encurtar, em tempo de viagem, os cerca de 40 quilómetros feitos atualmente por uma estrada sinuosa.
A estrada reclamada há décadas é um dos quatro investimentos para ligações fronteiriças em Portugal incluídos no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) apresentado pelo Governo a Bruxelas, e aos quais destina um total de 65 milhões de euros.
“Ou encolhem às estradas ou deixam algo por fazer”, disse hoje à Lusa o autarca social-democrata de Bragança, que só para a ligação a Puebla de Sanábria reclama mais de metade do valor global inscrito no PRR para as ligações transfronteiriças.
O autarca adiantou que o Governo já iniciou conversações com o município para que seja este a executar o projeto e que “está disponível para concretizar a ligação, todos os procedimentos necessários”, mas “conforme o estudo prévio” existente.
“Já o manifestamos ao Governo, junto de duas secretarias de Estado e da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Norte”, concretizou.
O que a autarquia rejeita é que “o Governo proponha melhoramentos” à estrada que existe atualmente e que faz com que uma viagem de pouco mais de 40 quilómetros demore mais de uma hora.
O presidente da Câmara de Bragança realçou isso mesmo, na quinta-feira, no lado espanhol, onde assistiu à inauguração da estação de Sanábria do comboio de alta velocidade e onde voltou a reclamar a necessidade de “eliminar o estrangulamento” que é a atual ligação rodoviária entre as duas localidades.
Bragança é agora a cidade portuguesa mais próxima da alta velocidade ferroviária, com a inauguração da estação espanhola que fica a menos de duas horas de Madrid, mas demora mais de uma hora para poder apanhar este comboio.
O PS reagiu hoje às declarações do autarca social-democrata, através do deputado eleito por Bragança Jorge Gomes, que criticou o presidente da Câmara por “se ter esquecido” de referir que a ligação está contemplada nos investimentos do PRR.
“O presidente da Câmara não disse tudo e não disse o mais importante para poder começar a tratar do processo da estrada, que é o facto de a Infraestruturas de Portugal (IP) já ter reunido com a Câmara de Bragança e a CCDR para transmitir toda a informação sobre o processo”, disse à Lusa o parlamentar.
O deputado, que é apontado como candidato do PS à Câmara de Bragança contra o atual presidente, mas que ainda não confirmou a candidatura, explicou que “o Governo decidiu, como forma de agilizar o processo que será feito através das câmaras para que não seja o centralismo de Lisboa a tratar tudo”.
“Cabe agora à Câmara conduzir este processo”, enfatizou, indicando que a obra tem de estar concluída até 2025, segundo as condições de execução do PRR.
Segundo Hernâni Dias, “não é o Governo que diz às câmaras que façam as estradas”.
“Para haver entendimento entre o Governo e as câmaras tem de haver condições favoráveis para os dois lados”, retorquiu o autarca, Hernâni Dias.
O presidente da Câmara de Bragança acrescentou que fica a aguardar que “o Governo se decida se quer fazer o que está no estudo prévio ou outra coisa” e só depois tomará uma decisão.
A rodovia para substituir a atual estrada de curva contra curva entre Portugal e Espanha e ligar as localidades de Bragança e Puebla de Sanábria é reclamada há décadas e chegou a constar do Plano Nacional Rodoviário, mas foi excluído com a justificação dos sucessivos obstáculos ambientais, por atravessar o Parque Natural de Montesinho.
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