Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
O projeto dos Lagos do Sabor é do melhor que apareceu nas Terras Transmontanas. Tive conhecimento dele apenas em 2016 por causa de uma entrevista que o Presidente da Câmara deu à revista “Passear” e fiquei rendido à qualidade, inovação e potencial que apresentava. Surgiu-me, de imediato, uma dúvida.
Tendo sido este projeto completamente desenvolvido, desenhado e esquematizado no mandato do Aires Ferreira que, durante a campanha anterior falou, legitimamente, de todas as mais valias que tinha trazido para o concelho, por que razão não o publicitou? Não tive oportunidade de lho perguntar mas deduzo que era do interesse municipal que tal anúncio se fizesse quando houvesse garantias da sua concretização. O sentido de utilidade pública remeteu-o ao silêncio, mesmo com prejuízo pessoal. Assim fossem outros.
Quando foi anunciado, pela primeira vez, em 2016, como referi, supus que a sua implementação estaria para breve, pelas razões aduzidas. Não aconteceu! Tendo tido conhecimento do seu anúncio “oficial” e formal, em junho de 2018, fui, propositadamente, à Torre de Belém para participar no lançamento de tão elevado desígnio. Para meu espanto e desalento, a cerimónia não teve o impacto que merecia (espaço muito exíguo, poucos convidados, impressa ausente), apresentando um filmezinho razoável, teve como nota de realce um belo discurso do Presidente da Câmara de Moncorvo. Disso dei conta, em tom elogioso, na imprensa distrital. Agora é que era. Mas não! Não aconteceu nada de relevante, Houve umas tentativas de os levar a inscrever no Livro dos Records, com iniciativas de gosto duvidoso e nem isso resultou apesar da campanha, em má hora, levada a cabo.
Tal como na conhecida história de Pedro e o Lobo, quando for feito o anúncio do verdadeiro e genuíno empreendimento, com os barcos-casa e as casas palafitas podem os verdadeiros interessados estarem já tão desconfiados e desiludidos das anteriores proclamações que não lhe liguem nenhuma. Assim se perdendo o melhor projeto turístico que, na última década, nasceu no nordeste! Para piorar andam agora a vender uma ideia, engraçada, e com algum sucesso, noutras paragens, baseada na instalação de baloiços em alguns dos pontos estratégicos.
Parece que, em número e com resultados concretos para a economia local, muitíssimo inferiores aos esperados para um projeto daquela magnitude. Provavelmente satisfaz quem não consegue, consequentemente, ambicionar e ser capaz de concretizar um pouco mais. Faz-me lembrar alguém que tendo ovos de ouro que, não os conseguindo vender, enquanto tal e pelo seu real valor, no curto prazo, resolve pintá-los com motivos coloridos, como se fossem meros e simples ovos da Páscoa pois são esses que estão a ter sucesso de venda, na banca mais próxima!
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
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