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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Guerra Junqueiro: "A canção da cerejeira"

 Disse Deus na primavera: “Ponham a mesa às lagartas!” E a cerejeira cobriu-se imediatamente de folhas, milhões de folhas, fresquinhas e verdejantes.

A lagarta, que estava dormindo dentro de casa, acordou, espreguiçou-se, abriu a boca, esfregou os olhos e pôs-se a comer tranquilamente as folhinhas tenras, dizendo: “Não se pode a gente despegar delas. Quem é que me arranjou este banquete?”

Então Deus disse de novo: “Ponham a mesa às abelhas!” E a cerejeira cobriu-se imediatamente de flores, milhões de flores delicadas e brancas.

E a abelha matinal aos primeiros raios da aurora pousou sobre elas, dizendo: “Vamos tomar o nosso café; e que chávenas tão bonitas em que o deitaram!”

Provou com a linguita, exclamando: “Que deliciosa bebida! Não pouparam o açúcar!”

No verão disse Deus: “Ponham a mesa aos passarinhos!” E a cerejeira cobriu-se de mil frutos apetitosos e vermelhos.

“Ah! ah! exclamaram os passarinhos, foi em boa ocasião; temos apetite, e isto dar-nos-á novas forças para podermos cantar uma nova canção.” No outono disse Deus: “Levantai a mesa, já estão satisfeitos.” E o vento frio das montanhas começou a soprar, e fez estremecer a árvore.

As folhas tornaram-se amarelas e avermelhadas, caíram uma a uma, e o vento que as lançou ao chão erguia-as novamente, fazendo-as esvoaçar.

Chegou o inverno e disse Deus: “Cobri o resto!” E os turbilhões dos ventos trouxeram a neve, sob cuja mortalha tudo dorme e descansa.

Fonte: 
Guerra Junqueiro: "Contos para a Infância", Publicado originalmente em 1877.

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