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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 10 de julho de 2021

O que procurar no Verão: sanguinho-das-sebes

 O sanguinho-das-sebes (Rhamnus alaternus), também conhecido como aderno-bastardo, aderno-bravo e espinheiro-cerval, floresceu no início da primavera e encontra-se agora na fase de maturação dos frutos.


É uma espécie da família Rhamnaceae, uma família de plantas de média dimensão, com cerca de 60 géneros e 900 espécies conhecidas. Com uma distribuição cosmopolita, esta família está representada em Portugal Continental por apenas quatro espécies nativas: o sanguinho-da-sebes (Rhamnus alaternus), o espinheiro-cerval (Rhamnus cathartica), o espinheiro-preto (Rhamnus lycioides) e o sanguinho-de-água (Frangula alnus). 

Nos Arquipélagos esta família é ainda menos abundante. Nas ilhas dos Açores existe apenas uma espécie nativa, o sanguinho (Frangula azorica), e no Arquipélago da Madeira existem duas, ambas conhecidas vulgarmente como sanguinho: a Frangula azorica e o Rhamnus glandulosa.

Sanguinho-das-sebes

O sanguinho-das-sebes é uma espécie de crescimento relativamente rápido e que pode ultrapassar os 80 anos de vida.

É um arbusto ou pequena árvore perene, que pode atingir entre 1 a 5 metros de altura, muito ramificado, e que possui uma copa arredondada e densa e não tem espinhos.

As folhas são simples, alternas, lanceoladas a ovadas, coriáceas e mucronadas. A página superior das folhas é verde-escura e a inferior é verde-clara. A margem é ligeiramente serrilhada na metade apical da folha, ou seja, mais perto da sua extremidade.

Foto: Hans Hillewaert/Wiki Commons

O sanguinho-das-sebes é uma espécie de floração dioica, ou seja, tem flores unissexuadas, masculinas e femininas, que ocorrem em indivíduos distintos. 

A floração desta espécie ocorre no início da primavera (entre fevereiro e março). As flores são pequenas, radialmente simétricas e pentâmeras, de cor verde-amareladas e com pecíolos curtos, dispostas em cachos densos, nas axilas das folhas. Não possuem corola e o cálice tem a aparência de uma estrela.

O fruto é uma drupa, ligeiramente carnudo e subgloboso, verde, avermelhado ou negro consoante a fase de maturação em que se encontra. A maturação dos frutos ocorre durante o verão. No interior de cada drupa surgem 2 a 4 sementes escuras.

Como acontece com outras espécies vegetais, a designação científica desta espécie está associada às características morfológicas da família a que pertence. O nome do género Rhamnus deriva do grego rhámnos, nome atribuído a vários arbustos espinhosos e de ramificação densa. Alguns autores mencionam que Rhamnus é o nome grego, antigo, dado ao espinheiro do alvar (Crataegus sp.). O restritivo específico alaternus estará associado ao termo em latim alternus em referência ao arranjo das folhas. No entanto, segundo diferentes autores, alaternus é o nome genérico antigo dado a alguns arbustos perenes, e para outros esta designação deve-se à semelhança com o abrunheiro.

Espécie típica da mata mediterrânica

O sanguinho-das-sebes é uma espécie típica da mata mediterrânica, aparecendo tanto no Sul da Europa como no Norte de África e Ásia. É uma planta nativa de Portugal Continental, e é mais frequente nas regiões do Centro e Sul.

É uma planta pouco exigente, preferindo locais com alguma exposição solar e temperaturas quentes. Cresce bem em todo o tipo de solos – quer sejam ácidos ou básicos, áridos e pedregosos – podendo até desenvolver-se nas fendas de rochas. É tolerante aos ventos marítimos e à salinidade trazida por aqueles. Também é resistente à seca e a temperaturas baixas, até aos -15ºC.

Foto: Isidre blanc/Wiki Commons

O sanguinho-das-sebes ocorre de forma dispersa em zonas de matagal, garrigue e em bosques de espécies de folha persistente e marcescente, geralmente em associação com outras espécies tipicamente mediterrânicas, nomeadamente o aderno-de-folhas-estreitas (Phillyrea angustifolia), a aroeira (Pistacia lentiscus), o carrasco (Quercus coccifera), a roselha (Cistus crispus), a estevinha (Cistus salvifolius), entre outras. 

Em Portugal não é muito comum a sua utilização como planta ornamental. No entanto é uma excelente opção para formar sebes densas de quebra-vento em regiões com influência marítima. Com um grande potencial estético e paisagístico, pode ser plantado de forma isolada em jardins, em bosquetes e também se adapta bem ao cultivo em vasos e em floreiras. 

O sanguinho-das-sebes é muito utilizado na reflorestação, nomeadamente de regiões rochosos e áridas, especialmente por ser uma espécie robusta, bastante resistente à seca e pela sua notável capacidade de autorregeneração, nomeadamente após a passagem de incêndios.

Múltiplas aplicações

Além do interesse ornamental e uso na reflorestação, o sanguinho-das-sebes tem também grande aplicação medicinal e farmacêutica. São-lhe conferidas propriedades anti-hipertensivas, antiarteroscleróticas e antioxidantes. Além disso, alguns estudos oncológicos recentes indicam que os extratos enriquecidos com flavonóides de raízes e folhas desta espécie inibem a proliferação de células atípicas responsáveis ​​pela leucemia humana. 

Na medicinal popular, as flores são usadas para reduzir a tensão arterial e os frutos são utilizados pelas suas propriedades laxantes e vermífugas, devido à presença de emodina, um composto químico derivado das antraquinonas. Também existem registos de que o sanguinho-das-sebes é usado no tratamento de doenças hepáticas (fígado e icterícia).

Foto: Isidre blanc/Wiki Commons

Esta espécie também desempenha um importante papel ecológico, as suas flores são abundantes e melíferas e bastante atrativas para polinizadores, nomeadamente as abelhas e as borboletas. Os frutos, que ficam maduros a partir do início do verão, mais cedo do que a maioria das espécies produtoras de bagas, são muito apreciados pelas aves (como o pisco-de-peito-ruivo, o melro-comum, a felosa-do-mato, a felosa-das-figueiras, a toutinegra-de-cabeça-preta e o cartaxo-comum) e por pequenos mamíferos e outros insectos (como a marta, a fuinha, os morcegos e as formigas), que também ajudam na dispersão das sementes.

O sanguinho-das-sebes é também conhecido por ser a planta hospedeira da borboleta-cleópatra (Gonepteryx cleopatra). Esta espécie de borboleta vive em bosques abertos, onde o sanguinho-das-sebes está presente.

Fêmea da borboleta-cleópatra (Gonepteryx cleopatra). Foto: Gilles San Martin/Wiki Commons

A madeira desta planta tem várias aplicações, sendo usada para tornear, no fabrico de armários e de pentes. É uma madeira muito dura, de cor amarelo-acastanhada e com um odor desagradável característico que liberta assim que é cortada, e por isso alguns autores referem-se a esta espécie como de madeira fedorenta. 

Os frutos, as folhas, as raízes, a casca e os ramos são também usados na indústria para extração de pigmentos, na fabricação de corantes, medicamentos e cosméticos. 

O sanguinho-das-sebes é sem dúvida uma espécie nativa interessante. Procure-o na natureza e fique fascinado com a beleza global deste arbusto ou pequena árvore que se mantém com folhas todo o ano, que durante o verão e o outono vão contrastando com os frutos de todas as cores, e na primavera com as suas pequenas flores.

Dicionário informal do mundo vegetal:

Cosmopolita – família de plantas que tem uma distribuição por quase todo o mundo.
Alterna – folha que ao longo do caule se insere de forma alternada, uma em cada nó.
Lanceolada – folha com forma de lança.
Ovada – folha com a forma de um ovo, mais larga perto da base.
Coriácea – que tem uma textura semelhante à casca da castanha ou do couro.
Mucronada – ápice da folha terminando numa ponta curta, por vezes aguda e rígida.
Pentâmera – flor cujas peças florais se apresentam em conjuntos de cinco ou em múltiplos de cinco.

Carine Azevedo

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