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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 5 de setembro de 2021

O que procurar no Verão: o tojo-molar

 O tojo-molar (Ulex minor) é uma espécie típica das formações arbustivas nativas de Portugal e está em plena floração. As suas flores amarelas pintam agora as paisagens do litoral de norte a sul do país.

Foto: Jacques Petiot/Wiki Commons

O tojo-molar

Trata-se de uma espécie arbustiva, perene, verde e muito espinhosa, que pode crescer até aos 2 metros de altura. Possui ramos erectos ou por vezes decumbentes, ou seja, ficam deitados sobre a terra, por onde se alastram, com a ponta levantada para cima. Estão revestidos de pelos e espinhos.

O indumento desta planta – o seu revestimento de pelos – é de dois tipos: pelos compridos e patentes, ou curtos a aplicados.

Os espinhos do tojo-molar também são diversificados. Os espinhos primários são rectos ou ligeiramente arqueados, com 2 centímetros de comprimento, geralmente de maiores dimensões que os restantes. Já os espinhos secundários e terciários são mais delgados e mais ou menos fasciculados, e surgem densamente agrupados na parte basal dos primários.

Quanto às folhas desta espécie, são trifoliadas e reduzidas a filódios de dois tipos: os filódios primários são rígidos, espinescentes, lineares, por vezes, linear-triangulares, esparsamente vilosos (pelos longos e macios) ou glabrescentes (sem pelos). Os filódios secundários são quase tão longos como os espinhos.

A floração do tojo-molar ocorre entre os meses de Março e Setembro.

Foto: AnemoneProjectors/Wiki Commons

As flores são hermafroditas, isto é, com órgãos reprodutores masculinos e femininos, e papilionáceas. Possuem um cálice amarelado, dividido em dois lábios, com pêlos curtos, esparsos e aplicados. Quanto à corola possui pétalas amarelas e é geralmente maior que o cálice, com um estandarte desprovido de pelos. Na base das flores surgem bractéolas ovado-lanceoladas, mais estreitas que os pedicelos, que são os “pés” que sustentam as flores.

A maturação dos frutos deste tojo ocorre imediatamente após a floração. O fruto é uma vagem plana, com forma ovada a elíptica, ligeiramente pilosa, que contém entre 1 a 4 sementes no seu interior.

O género Ulex

O tojo-molar pertence a uma das maiores famílias de plantas terrestres, composta por mais de 750 géneros. A família Fabaceae, anteriormente designada Leguminosae, possui uma distribuição cosmopolita e inclui muitas espécies conhecidas, entre as quais se destacam as leguminosas e inúmeras plantas cultivadas.

O género Ulex é composto por plantas arbustivas típicas da região mediterrânica, comuns em bosques, charnecas e dunas, preferencialmente em lugares com exposição solar plena. Das 14 espécies aceites atualmente em todo o mundo, em Portugal Continental existem 10 espécies nativas, das quais seis são espécies endémicas de Portugal Continental e três são endémicas da Península Ibérica.

Paisagem de tojo e carqueja. Foto: Richard New Forest/Wiki Commons

Já nos arquipélagos da Madeira e Açores o género não é muito comum, existindo apenas duas espécies, ambas introduzidas.

O tojo, carqueja ou pica-rato (Ulex europaeus) e o tojo-molar (Ulex minor) terão sido introduzidos nas Ilhas a partir de Portugal Continental, onde são nativas, mas têm vindo a revelar comportamento invasor nas Regiões Autónomas. Segundo o decreto-lei n.º 92/2019 de 10 de julho, ambas as espécies estão classificadas como invasoras na Região Autónoma da Madeira.

Distribuição e habitat

A designação científica desta espécie é de fácil interpretação, existindo no entanto alguma controvérsia. Alguns autores referem que o nome do género Ulex era o nome antigo dado a estas plantas ou a outras com características similares. Outros autores apontam-no como o nome em latim para um arbusto desconhecido, parecido com o alecrim (Salvia rosmarinus). O alecrim não tem espinhos mas as suas folhas são largas e delgadas.

Também há quem refira que o nome genérico Ulex deriva do grego ereíke, em latim erice, ou seja, “um arbusto semelhante à urze”, pela proximidade das espécies, sobretudo do ponto de vista edafoclimático.

O termo minor deriva do latim menor, por ser a espécie menor do seu género.

O tojo-molar é uma espécie nativa da região oeste da Europa, em países como a Grã-Bretanha, França, Espanha e Portugal.

Está presente em quase todo o território nacional, excepto nas regiões mais interiores. Nos arquipélagos da Madeira e dos Açores também pode ser visto, ainda que aí tenha sido introduzido.

O tojo-molar cresce preferencialmente em regiões de clima com influência atlântica, exposição solar plena, solos temporariamente encharcados e pobres em nutrientes. É comum encontrar-se em zonas de charnecas, margens de linhas de água, orla de bosques e em zonas de matos. É uma planta que surge habitualmente em associação com outras comunidades vegetais, tais como as urzes, as carquejas, o sargaço, entre outras.

Planta (ecologicamente) valiosa

Ecologicamente, o tojo-molar é uma planta valiosa. É bastante resistente aos incêndios florestais. Apesar de ser altamente inflamável, a presença de inúmeras sementes nas suas vagens, facilmente abertas na passagem de um fogo, permite-lhe uma rápida regeneração pós-fogo. As plantas queimadas também têm uma elevada capacidade de brotar novamente a partir das raízes.

O tojo-molar é também muito essencial para a vida selvagem, proporcionando uma cobertura espinhosa densa, perfeita para proteger os ninhos de algumas aves e servir de refúgio a outros animais. Além disso, alguns animais selvagens também se alimentam dos rebentos e caules mais jovens. A madeira seca dos caules secos do tojo morto fornece alimento às lagartas de algumas borboletas, por exemplo.

É um arbusto muito útil na agropecuária. É rico em proteínas e é usado como forragem para alimentar o gado, principalmente no inverno, quando o alimento é mais escasso. Também é usado para fazer a “cama para os animais”.

Como acontece com a maioria das leguminosas, o tojo-molar é rico em azoto, sendo muito utilizado como fertilizante natural, para adubação do solo.

Em algumas regiões, depois de seco, este tojo também era usado para acender os fornos tradicionais de pão.

Apesar da sua aplicação como planta ornamental não ser muito comum, o tojo-molar é uma planta muito decorativa, assim como todas as espécies do género Ulex.

É também uma espécie que requer pouca manutenção. Pode ser cultivada em vasos ou jardins e é excelente para coberturas de solos pobres, onde dificilmente outras plantas se desenvolvem. No entanto, é necessário lembrar que o tojo-molar é facilmente inflamável, além de apresentar características potencialmente invasoras. A sua utilização em jardins e noutros espaços verdes deve ser ponderada e monitorizada constantemente.

Dicionário informal do mundo vegetal:

Perene – planta que tem um ciclo de vida longo e que viver três ou mais anos.
Decumbentes – ramos deitados sobre a terra, por onde se alastram e com a ponta levantada para cima.
Indumento – revestimento de pêlos.
Trifoliadas – folhas dividem-se em três grupos.
Filódio – pecíolo dilatado e achatada, com aspecto de limbo foliar e que desempenha a função deste.
Pecíolo – pé da folha que liga o limbo ao caule.
Limbo – parte larga de uma folha normal. 
Espinescente – coberto de espinhos.
Linear – folha estreita e comprida (comprimento é 6 a 12 vezes mais do que a largura), com margens quase paralelas.
Viloso – possui pelos longos, macios, não muito densos.
Glabrescente – desprovido de pêlos. 
Hermafrodita – flor que possui órgãos reprodutores femininos (carpelos) e masculinos (estames).
Papilionácea – flor que possui corola dialipétala e zigomórfica formada por cinco pétalas: uma superior, levantada e geralmente maior – o estandarte, duas laterais – as asas e duas inferiores, que forma a quilha.
Dialipétala – flor cuja corola é constituída por pétalas inteiramente livres, não ligadas entre si. 
Zigomórfica – flor cuja corola possui apenas um plano de simetria, ou seja com simetria bilateral.
Estandarte – pétala superior de uma corola papilionácea, geralmente maior que as outras quatro.
Asas – pétalas laterais de uma corola papilionácea, que envolvem as pétalas inferiores.
Quilha – pétalas inferiores de uma corola papilionácea, unidas pela base e dispostas em forma de quilha de navio.
Cálice – conjunto das peças florais de proteção externa da flor – sépalas.
Corola – conjunto das pétalas, que protegem os órgãos reprodutores da planta (os estames e o pistilo).
Pistilo – órgão reprodutor feminino da flor, formado por ovário e estigma e por vezes pode estilete. 
Bractéola – bráctea de segunda ordem, geralmente menor que a bráctea.
Bráctea – folha modificada, localizada na base da flor que a protege enquanto está fechada. 
Ovado-lanceolada – folha com base atenuada e à medida que chega ao ápice vai ficando com forma oval.
Pedicelo – “pé” que sustenta a flor.
Endémica – espécie nativa de uma região, com uma distribuição muito restrita.

Carine Azevedo

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