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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Bragança – «CÉDULA DE BAPTISMO»

 Anotámos, em texto anterior, que Bragança, enquanto localização no sítio do castelo, nasce em 1130 com Fernão Mendes, no tempo de D. Afonso Henriques. Já a sua «Certidão de Batismo» foi passada em junho de 1187, através da Carta de Foral determinada por D. Sancho I. Estamos perante o primeiro foral atribuído a uma vila em Trás-os-Montes, cujo objetivo era, por um lado, a defesa territorial mediante a obrigação dos residentes em pegar em armas e, por outro, o seu povoamento, através da concessão de direitos e privilégios e de isenções fiscais, militares e judiciais. Para o efeito, antecipou-se uma Carta de Escambo (troca direta) entre o rei e os abades de Castro de Avelãs, de forma a confirmar a cedência pelo mosteiro da quinta de Benquerença, em troca de São Julião e da igreja de Vilar de São Mamede, ficando isentas do pagamento de portagens. Curiosamente, no texto do Foral são utilizados indistintamente os termos ciuitate (cidade) e uilla (vila) e a designação Bragancia ou Bragantia.
O monarca, como sinal de posse, deslocou-se a Bragança, preocupou-se com o melhoramento e robustez das muralhas e mandou colocar marcos identificativos nos limites portugueses na fronteira. A urbe tornava-se, assim, «cabeça» de uma considerável unidade territorial, que compreendia as terras de Bragança (atuais concelhos de Bragança, Macedo e Vinhais) e de Lampaças (parte Sul do atual extremo nordeste transmontano até Freixo). A política régia de D. Sancho I, O Povoador, difere da de D. Afonso Henriques, O Conquistador, pois enquanto este centrou o reinado na afirmação da soberania portuguesa face aos vizinhos hispânicos e na guerra de conquista face aos mouros, aquele orientou-o para a defesa territorial e sustentabilidade demográfica. 
Assim, se D. Afonso Henriques se preocupou em garantir a disponibilidade dos diversos estratos sociais concelhios para o apoiarem na guerra, a troco de concessão de áreas territoriais a eclesiásticos (cartas de Couto) e a senhores nobiliárquicos, D. Sancho decidiu-se pelo controlo político e territorial através das cartas de foral. Situação notória nas sensíveis zonas de fronteira, que tornou dependentes da coroa. Não por acaso, muitos dos forais que concedeu foram a povoados de Trás-os-Montes e Beiras, onde ergueu uma considerável malha de fortificações, merecendo destaque Bragança e a Guarda.
Foi entre 1197 e 1199 que essa necessidade se tornou mais premente, quando Portugal e Leão trocaram argumentos militares junto às localidades de fronteira. D. Sancho invadiu a Galiza e ocupou Tui, Alfonso IX atacou na fronteira Nordeste portuguesa, cercou Outeiro, ocupou Algoso e cercou Bragança. Tratou-se da primeira prova de capacidade para Bragança, que não só resistiu ao cerco, como o repeliu, obrigando os leoneses a retirar. No reinado seguinte, os maiores problemas acontecem no âmbito da família real. 
Quando D. Afonso II (O Gordo, 1211-1223) sucede a D. Sancho I, decidiu centralizar o poder, retirando privilégios à nobreza e ao clero, e anulou a concessão de terras e castelos doados pelo pai às irmãs Teresa e Sancha, originando a denominada questão das infantas. Foi o suficiente para estas, apoiadas por nobres despeitados, solicitarem auxílio a Afonso IX de Leão, que atacou no Minho e em Trás-os-Montes, devastou o território por onde passou e ocupou um conjunto de castelos. Em Trás-os-Montes anotam-se Montenegro, Chaves, Vinhais, Balsemão, Freixo, Urrós, Mós, Picote e Miranda. Uma década decorrida, entre 1220-1223, foi Martim Sanches, meio-irmão do rei e fronteiro da Galiza ao serviço de Leão, quem levou a guerra a Trás-os-Montes, onde ocupou Chaves, só restituída no reinado seguinte, em 1231.
Em todo este contexto, Bragança manteve-se incólume, a que não será alheio o facto de a vila se manter fiel à coroa, ser estrategicamente dominante e relativamente inexpugnável. Pelo facto, em 1219 D. Afonso II confirmou o Foral concedido pelo pai. Bragança fazia o seu caminho no contexto da afirmação da dinastia henriquina!

Abílio Lousada

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