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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Purmeiras Mimórias

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

(Ye perciso ler i ye ourgente scribir)
Há pouco mais de vinte anos, quando reencontrei o Amadeu Ferreira, num evento promovido na capital pela, infelizmente extinta, Região de Turismo do Nordeste Transmontano, disse-lhe que para entender o que ele escrevia tinha de o ler em voz alta. Em conversas posteriores desenvolvemos o tema e a razão de ser desse requisito emergiu por um lado porque o som despertava-me lembranças da linguagem popular da minha aldeia (obviamente, influenciando pela proximidade das Terras de Miranda), mas também porque o mirandês é uma língua que deve a sua sobrevivência à oralidade. Foi a tradição oral que, ao longo dos séculos, a manteve viva e lhe conservou as características e pureza.
Porém esta característica que lhe deu, no passado longínquo, força e longevidade, pode, no tempo presente de globalização e miscigenação, ser a sua fraqueza e ameaça. O isolamento e, de certa forma, a “endogamia”, garantiram a transmissão, através das várias gerações, da expressão fonética, dos costumes e do ancestral legado. A abertura ao exterior, a diáspora, as migrações e a influência da comunicação social, da internet e demais agentes modernos colocam em causa a eficácia do velho método de preservação e divulgação.
Obviamente que a solução não passa pelo regresso ao passado, nem tão pouco pelo isolamento e fecho da região. O que é necessário é alterar a natureza de preservação e divulgação. É preciso registar em letra de forma o que até agora passava de boca em boca. É preciso ouvir e anotar o conhecimento, do dia a dia, das tradições, do imaginário comum, dos sonhos e das vivências. É preciso escrever o que está na memória, própria ou alheia! Para depois ser lido, apreendido e replicado.
É o que está a ser feito por vários mirandeses numa dramática luta contra o tempo. Sobretudo as memórias alheias pois as mais ricas e completas são as dos mais idosos que, pela natural lei da vida, estão a desaparecer. É preciso garantir que a morte de um mirandês não represente um golpe rude e irreparável na cultura nordestina. Daí o empenho da Associaçon de la Lhéngua i Cultura Mirandesa com o seu projeto Ourrieta las Palabras.
Da memória própria vão tratando vários escritores. Como o António Cangueiro que, tendo apresentado a meio de agosto em Bemposta o seu livro mais recente, muito apropriadamente titulado como “Memórias Primeiras... A Viagem...” igualmente o deu a conhecer, na capital, esta semana, na Casa de Trás-os-Montes.
A maioria dos presentes era gente de Miranda. Alguns escrevem. É PRECISO QUE EDITEM! Não o fazerem é inaceitável. Imperdoável!
Para finalizar, o que afirmei no início desta crónica não é uma verdade imutável. Efetivamente, ao contrário do que me acontecia com os vários livros bilingues, anteriores, estou a ler o António Cangueiro, diretamente no mirandês, usando a sua tradução para português, apenas para descobrir ou confirmar o significado de algumas palavras.

José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance), Canto d'Encantos (Contos) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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