Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
(Ye perciso ler i ye ourgente scribir)
Há pouco mais de vinte anos, quando reencontrei o Amadeu Ferreira, num evento promovido na capital pela, infelizmente extinta, Região de Turismo do Nordeste Transmontano, disse-lhe que para entender o que ele escrevia tinha de o ler em voz alta. Em conversas posteriores desenvolvemos o tema e a razão de ser desse requisito emergiu por um lado porque o som despertava-me lembranças da linguagem popular da minha aldeia (obviamente, influenciando pela proximidade das Terras de Miranda), mas também porque o mirandês é uma língua que deve a sua sobrevivência à oralidade. Foi a tradição oral que, ao longo dos séculos, a manteve viva e lhe conservou as características e pureza.
Porém esta característica que lhe deu, no passado longínquo, força e longevidade, pode, no tempo presente de globalização e miscigenação, ser a sua fraqueza e ameaça. O isolamento e, de certa forma, a “endogamia”, garantiram a transmissão, através das várias gerações, da expressão fonética, dos costumes e do ancestral legado. A abertura ao exterior, a diáspora, as migrações e a influência da comunicação social, da internet e demais agentes modernos colocam em causa a eficácia do velho método de preservação e divulgação.
Obviamente que a solução não passa pelo regresso ao passado, nem tão pouco pelo isolamento e fecho da região. O que é necessário é alterar a natureza de preservação e divulgação. É preciso registar em letra de forma o que até agora passava de boca em boca. É preciso ouvir e anotar o conhecimento, do dia a dia, das tradições, do imaginário comum, dos sonhos e das vivências. É preciso escrever o que está na memória, própria ou alheia! Para depois ser lido, apreendido e replicado.
É o que está a ser feito por vários mirandeses numa dramática luta contra o tempo. Sobretudo as memórias alheias pois as mais ricas e completas são as dos mais idosos que, pela natural lei da vida, estão a desaparecer. É preciso garantir que a morte de um mirandês não represente um golpe rude e irreparável na cultura nordestina. Daí o empenho da Associaçon de la Lhéngua i Cultura Mirandesa com o seu projeto Ourrieta las Palabras.
Da memória própria vão tratando vários escritores. Como o António Cangueiro que, tendo apresentado a meio de agosto em Bemposta o seu livro mais recente, muito apropriadamente titulado como “Memórias Primeiras... A Viagem...” igualmente o deu a conhecer, na capital, esta semana, na Casa de Trás-os-Montes.
A maioria dos presentes era gente de Miranda. Alguns escrevem. É PRECISO QUE EDITEM! Não o fazerem é inaceitável. Imperdoável!
Para finalizar, o que afirmei no início desta crónica não é uma verdade imutável. Efetivamente, ao contrário do que me acontecia com os vários livros bilingues, anteriores, estou a ler o António Cangueiro, diretamente no mirandês, usando a sua tradução para português, apenas para descobrir ou confirmar o significado de algumas palavras.
Há pouco mais de vinte anos, quando reencontrei o Amadeu Ferreira, num evento promovido na capital pela, infelizmente extinta, Região de Turismo do Nordeste Transmontano, disse-lhe que para entender o que ele escrevia tinha de o ler em voz alta. Em conversas posteriores desenvolvemos o tema e a razão de ser desse requisito emergiu por um lado porque o som despertava-me lembranças da linguagem popular da minha aldeia (obviamente, influenciando pela proximidade das Terras de Miranda), mas também porque o mirandês é uma língua que deve a sua sobrevivência à oralidade. Foi a tradição oral que, ao longo dos séculos, a manteve viva e lhe conservou as características e pureza.
Porém esta característica que lhe deu, no passado longínquo, força e longevidade, pode, no tempo presente de globalização e miscigenação, ser a sua fraqueza e ameaça. O isolamento e, de certa forma, a “endogamia”, garantiram a transmissão, através das várias gerações, da expressão fonética, dos costumes e do ancestral legado. A abertura ao exterior, a diáspora, as migrações e a influência da comunicação social, da internet e demais agentes modernos colocam em causa a eficácia do velho método de preservação e divulgação.
Obviamente que a solução não passa pelo regresso ao passado, nem tão pouco pelo isolamento e fecho da região. O que é necessário é alterar a natureza de preservação e divulgação. É preciso registar em letra de forma o que até agora passava de boca em boca. É preciso ouvir e anotar o conhecimento, do dia a dia, das tradições, do imaginário comum, dos sonhos e das vivências. É preciso escrever o que está na memória, própria ou alheia! Para depois ser lido, apreendido e replicado.
É o que está a ser feito por vários mirandeses numa dramática luta contra o tempo. Sobretudo as memórias alheias pois as mais ricas e completas são as dos mais idosos que, pela natural lei da vida, estão a desaparecer. É preciso garantir que a morte de um mirandês não represente um golpe rude e irreparável na cultura nordestina. Daí o empenho da Associaçon de la Lhéngua i Cultura Mirandesa com o seu projeto Ourrieta las Palabras.
Da memória própria vão tratando vários escritores. Como o António Cangueiro que, tendo apresentado a meio de agosto em Bemposta o seu livro mais recente, muito apropriadamente titulado como “Memórias Primeiras... A Viagem...” igualmente o deu a conhecer, na capital, esta semana, na Casa de Trás-os-Montes.
A maioria dos presentes era gente de Miranda. Alguns escrevem. É PRECISO QUE EDITEM! Não o fazerem é inaceitável. Imperdoável!
Para finalizar, o que afirmei no início desta crónica não é uma verdade imutável. Efetivamente, ao contrário do que me acontecia com os vários livros bilingues, anteriores, estou a ler o António Cangueiro, diretamente no mirandês, usando a sua tradução para português, apenas para descobrir ou confirmar o significado de algumas palavras.
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance), Canto d'Encantos (Contos) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
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