O actual Seminário de S. José de Bragança foi mandado construir pelo duque de Bragança D. Teodósio e pela câmara da mesma cidade para freiras clarissas num terreno pertencente ao Mosteiro de Castro de Avelãs, no sítio chamado a Cruz de Pedra (664) (hoje Praça ou Largo da Sé), junto às Eiras do Arcebispo, assim chamadas porque nelas os arcebispos de Braga mandavam proceder à debulha dos cereais colhidos em muitas terras de que eram senhores, e mesmo as arrendavam para tal fim. A este largo, que tem servido de praça e onde agora a câmara fez construir uma muito elegante, ainda o povo dá simplesmente o nome de Eiras, único nome oficial que teve até 1880, e desde então, em comemoração do tricentenário do grande épico, foi-lhe dado o de Largo de Camões.
Pelos anos em que se criou o bispado de Miranda (1545), anexando-se à sua mesa capitular as rendas do mosteiro de Castro de Avelãs, trazia este terreno emprazado em três vidas um tal Fernão de Queiroga, cidadão de Bragança, o qual, aproveitando-se da confusão em que a bula da supressão devia lançar os monges, o vendeu à câmara por 50$000 réis (665).
Não achamos nos documentos quando se começara a edificar o actual Seminário, mas aos 30 de Maio de 1545 já uma grande parte dele estava feita, porém não todo, segundo se vê do auto de medição dessa obra por ordem do duque D. Teodósio (666).
Pelos anos em que se criou o bispado de Miranda (1545), anexando-se à sua mesa capitular as rendas do mosteiro de Castro de Avelãs, trazia este terreno emprazado em três vidas um tal Fernão de Queiroga, cidadão de Bragança, o qual, aproveitando-se da confusão em que a bula da supressão devia lançar os monges, o vendeu à câmara por 50$000 réis (665).
Não achamos nos documentos quando se começara a edificar o actual Seminário, mas aos 30 de Maio de 1545 já uma grande parte dele estava feita, porém não todo, segundo se vê do auto de medição dessa obra por ordem do duque D. Teodósio (666).
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(664) O nome de Cruz de Pedra viria-lhe de «hum bem lavrado cruzeyro», como traz BORGES – Descrição Topográfica…, monumento arquitectónico notável no género, estilo Renascença, que se levantava nessa praça e hoje jaz por terra, aos trambolhões, no cemitério público de Bragança, sem que remorsos de lesarte espicacem os intelectuais da nossa terra? Foi o presidente do município José Carlos Ledesma Pereira de Castro, de Bragança, ao que dizem levado por velhos ódios de seita e, pelo menos, certamente iconoclasta, quem fez derrubar esse belo monumento, o qual ali mesmo caiu fulminado por uma congestão pelos anos de 1884. No monólito da base está o número 1689, que indica o ano em que o cruzeiro se fez.
– O pai ou um tio de Ledesma, senão ambos de comum acordo, extorquiram a Castro de Avelãs a famosa lápide do DEO AERNO, tão memorada pelos arqueólogos, e, sem respeito nenhum, na inconsciência de uma brutalidade ou velhacada inclassificável, mutilaram-na, picaram a legenda afim de a adaptar a urna funerária em sepúlcro de família no cemitério de Bragança pelos anos de 1846 !!! (PINHEIRO, José Henriques – Estudo da Estrada Militar Romana de Braga a Astorga, 1896, p. 80.)
(665) Manuscritos Antigos 4, um volume in-fólio, existente na Câmara de Bragança, fl. 34, onde vem uma sentença dada contra a Câmara e Jesuítas em 9 de Dezembro de 1595 por ser compradora e possuidores desse terreno e edificadores de má fé.
(666) Manuscritos antigos 4, fls. 82 e seguintes.
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Foram arquitectos dessa obra que compreendia também a actual Sé Catedral, Pero de la Faya e Fernão Pires, dois nomes até hoje ignorados na história da arte portuguesa, onde devem figurar.
Portanto, quando Cardoso (667), Vilhena Barbosa (668), Baptista (669) e Lopo(670), dizem que o colégio dos Jesuítas em Bragança foi fundado em 1561, não se deve entender da construção material do edifício que é anterior, como vemos, mas sim da época em que os Jesuítas nele se estabeleceram, que foi efectivamente nesse ano.
Em 7 de Março de 1764, o bispo de Miranda D. Frei Aleixo de Miranda Henriques, em razão das ruínas que o exército de Castela causara entrando em Miranda em 1762, de a sede do bispado ficar deslocada em um ponto do seu extremo, e sobretudo dos desgostos que os mirandenses tinham causado a seus antecessores, transferiu a Sé Catedral para Bragança (671).
Os desgostos que Miranda proporcionou aos seus bispos foram de tal ordem que um dia D. Aleixo, pregando na Sé de Bragança, exclamou: «um Miranda destruirá Miranda»(672).
Por carta régia de 28 de Dezembro de 1764 (673) foi autorizada essa transferência, e por outra de 2 de Setembro de 1768 fez o rei doação do Colégio e Igreja que fora dos Jesuítas em Bragança, o qual vagara para a coroa depois da expulsão destes, e cuja guarda fora confiada aos prelados de Miranda, para nele se estabelecer a Sé Catedral (674).
Parece que o bispo, apesar de se transferir para Bragança antes da autorização régia, não considerou esse acto como consumado e efectivo senão em 12 de Dezembro de 1764, pois, por carta sua, desse dia, à câmara a convidou para assistir na igreja de Santa Maria de Bragança a uma função religiosa de acção de graças pela consecução de tão grande
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(667) CARDOSO, Jorge – Agiologio Lusitano, ao dia 3 de Junho.
(668) BARBOSA, Vilhena – Cidades e vilas da Monarquia Portuguesa que têm brasão de armas, vol. I.
(669) BAPTISTA, João Maria – Corografia Moderna do Reino de Portugal.
(670) LOPO, Albino dos Santos Pereira – Bragança e Benquerença, p. 27.
(671) PIRES, Manuel António, cónego – Opúsculo de considerações históricas sobre a edificação da Catedral de Bragança, p. 25. LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Miranda do Douro». CARVALHO, João de Sousa – Pastoral de 24 de Julho de 1734. VASCONCELOS, José Leite de – Estudos de Filologia Mirandesa, vol. I, p. 148, onde vem um soneto cheio de azedume contra Miranda que se julga ser deste bispo.
(672) Lista dos Bispos de Miranda, manuscrito junto aos Estatutos da mesma Sé que existem no Paço Episcopal de Bragança.
(673) Arquivo Distrital de Bragança, Livro do registo da Câmara de Bragança, lv. 26, mc. 6, fl. 37.
(674) Ibidem, fl. 198.
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benefício à diocese (675).
Enquanto não se obteve o Colégio e Igreja dos Jesuítas as funções capitulares exerceram-se na igreja de S. João, que era então cabeça de freguesia.
Em 11 de Junho de 1799 o cabido requereu à Câmara autorização para «mudarem a entrada principal da sobredita Igreja [Sé Catedral] dando-lhe melhor serventia e accrescentando-a com o vão que ocupa o corredor cuja janela lança para a Praça e com a casa em que estava a Botica fazendo-se um adro na cozinha que servia para a mesma Botica... edificando-se ao mesmo tempo huma ou duas moradas de casas em o pedaço de terreno que é do mesmo Collégio e serve presentemente de monturo para lançar lixo e imundicias desde a porta do Carro até á Esquina em que começa a rua do Cabo»(676).
A Câmara conveio no pedido, mas tal obra, como vemos, não teve efeito.
As três capelas que há nos claustros metidas na parede, para o lado do poente, devem ter sido abertas pelos anos de 1791, pois nesse ano, aos 30 de Agosto, o cónego Manuel de Miranda requereu à Câmara que lhe tomasse nota, fazendo-o registar no respectivo livro, do seu protesto contra tal obra «pois a parte mais nobre d’elle que é o Claustro se acha tapada, disforme e reduzido a um cemiterio funebre o corredor principal ameaçando ruina com a parede que fica para a parte do Claustro toda furada aberta com brechas ficando as portas de cantaria em vão sustentadas sobre taboas as quaes não podendo soffrer o pezo se vão humilhando, as paredes abrindo, e por fim tudo virá por terra procedido de quererem fazer umas capellas mettidas por baixo do tal corredor, logar não só indecente para o culto divino mas ainda por falta de luz inhabel para n’elle se celebrar»(677).
Em cima da janela que lança luz para o coro da Sé lê-se a data de 1689, e na de uma sala contígua, dependência da mesma Sé, a de 1749, que inculcarão obras feitas no tempo dos Jesuítas.
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(675) Arquivo Distrital de Bragança, Livro do Registo da Câmara de Bragança, lv. 26, mç. 6, fl. 36.
(676) Ibidem, fl. 388.
(677) Ibidem, fl. 198.
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continua...
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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