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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 30 de julho de 2023

...quase poema... ou do tocador de flauta

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

O tio Vila Real há três dias que não comia…e tocava flauta…e achava que a vida é assim… sempre foi assim: - há os ricos e os pobres.
Uma vizinha passou e partilhou a sua miséria com o pobre faminto e moribundo... que tocava flauta!... e deu-lhe uma alheira… cascas de feijão... meia dúzia de batatas e um cibo de toucinho...
Nesse dia o tio Vila Real… tirou os dois potes que tinha arrumados do tempo doutras farturas… fez caldo… cozeu batatas…. assou a alheira!... e enquanto a lauta ceia se aprontava sempre ia comentando como se falasse para o mundo: - e ainda dizem que há pobres…para mim que seja rico quem quiser!
Só que no dia seguinte… haveria outras fomes… e o tio Vila Real já não tinha tempo de pensar nisso!
Nós também sabemos que amanhã vai haver mais fomes… outras fomes... mas hoje, contentes… pomos o pote ao lume… assamos uma alheira… e não fazemos mais nada… 
…e os ricos anafados e satisfeitos…dormem descansados… enquanto a flauta do tio Vila Real deixou de se ouvir… morreu o tocador...  ao anoitecer... sonhando que era rico… e o pote iria cozer todos os dias.
…só que nunca mais cozeu!

Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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