O motim do Seminário ficaria num facto vulgar de indisciplinada casa religiosa de que já havia precedentes em Bragança, como dissemos ao tratar dos conventos de Santa Clara e S. Bento; os culpados seriam castigados, como era de razão, e tudo entraria na ordem. Mas A Cruz, bissemanário que se publicava em Viana do Castelo, com um dos redactores da qual o vice-reitor tinha relações de parentesco ou amizade, em seu número correspondente a 22 de Dezembro de 1904 e seguintes referiu-se pouco lisonjeiramente ao povo de Bragança, tratando o de judeu, cristão novo, abafador, hebraizante, protestante, etc., e o Distrito de Bragança e a Gazeta de Bragança, em seus números de 30 de Dezembro de 1904 e 1 de Janeiro seguinte, vibrantes de indignação, repeliram indignados tal classificação, que não tinha razão de ser em face da História, como dizia e tentou demonstrar o primeiro desses periódicos.
João Afonso Dias, negociante, que se diz republicano, faz espalhar um manifesto de sua responsabilidade, convocando o povo de Bragança a protestar em comício contra o bissemanário de Viana do Castelo. A manifestação foi imponente e ordeira, dirigindo-se depois às redacções daqueles periódicos de política regeneradora, a agradecer o modo como repeliram as acusações de A Cruz; daqui proveio a segunda fase do motim – retaliação política.
O Nordeste, periódico progressista, que até ali guardara prudente silêncio, pondo bem em relevo apenas que os revoltados seminaristas deviam ser castigados (758), supondo que aquela aura popular o desfalcava eleitoralmente, quer fazer émende honorable, e, alucinado, louco, vendo só a perda de alguns votos em frente da urna, esquece tudo, rasga o seu passado glorioso em defensão e louvor do bispo, e, para captar o louvor do povo manifestante, que até ali classificava de arruaceiro, desembesta furioso contra o prelado numa campanha escandalosa de insultos que só terminou em fins de Junho de 1906, vendo a inanidade dos seus ataques altamente censurados por toda a gente cordata.
João Afonso Dias, negociante, que se diz republicano, faz espalhar um manifesto de sua responsabilidade, convocando o povo de Bragança a protestar em comício contra o bissemanário de Viana do Castelo. A manifestação foi imponente e ordeira, dirigindo-se depois às redacções daqueles periódicos de política regeneradora, a agradecer o modo como repeliram as acusações de A Cruz; daqui proveio a segunda fase do motim – retaliação política.
O Nordeste, periódico progressista, que até ali guardara prudente silêncio, pondo bem em relevo apenas que os revoltados seminaristas deviam ser castigados (758), supondo que aquela aura popular o desfalcava eleitoralmente, quer fazer émende honorable, e, alucinado, louco, vendo só a perda de alguns votos em frente da urna, esquece tudo, rasga o seu passado glorioso em defensão e louvor do bispo, e, para captar o louvor do povo manifestante, que até ali classificava de arruaceiro, desembesta furioso contra o prelado numa campanha escandalosa de insultos que só terminou em fins de Junho de 1906, vendo a inanidade dos seus ataques altamente censurados por toda a gente cordata.
O Jornal da Manhã, de Lisboa, órgão de Eduardo José Coelho, então ministro das Obras Públicas, chefe do partido progressista em Bragança, afina pelo mesmo diapasão do seu confrade e correligionário de Bragança, e toda a imprensa política do reino entra na questão!
«Politica, politica! a quanto obligas,
haces que sean blancas las hormigas».
Involuntariamente nos lembramos do grande Quevedo:
«No olvides es comedia nuestra vida
y teatro de farsa el mundo todo».
Seminaristas, que convictos defensores!? Ontem, éreis criminosos revoltados que devíeis ser castigados; hoje, inocentes!! Um outro vosso defensor tinha dito em tempos não distantes: «O teólogo (bacharel em teologia) ou trépa logo a bispo, ou apodrece para ali em qualquer seminario a industriar por anno meia duzia de lôrpas que querem vestir batina para receberem a congrua e cantar ladainhas. No genero estudante, o seminarista é, por via de regra, a especie mais baixa, a que faz a transição para o analphabeto que nunca estudou nada» (759).
É caso de esborrachar na cara de tais amigos de pechisbeque o sic valeas do grande Esopo.
A 9 de Janeiro de 1905, terminadas as férias do Natal, reabrem as aulas de Preparatórios do Seminário, continuando encerradas as de Teologia até se apurar a responsabilidade dos implicados no motim. Ainda houve intenção de abrir também estas logo, mandando-se a 23 de Dezembro que os alunos requeressem a frequência delas até 31 daquele mês, mas houve nova resolução imediatamente declarando-as fechadas até Outubro desse ano.
Álvaro de Mendonça Machado de Araújo, então governador civil de Bragança, insinua pelo seu órgão na imprensa, O Nordeste, que o ministro Eduardo José Coelho intervinha
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(758) O Nordeste de 4 de Janeiro de 1905, Gazeta de Bragança de 8 de Janeiro, Distrito de Bragança de 13 de Janeiro do 1905 e A Palavra de 7 de Fevereiro.
(759) PESSANHA, João Morais de Almeida, O Baixo Clero, 2.º ano, n.º 5.
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solícito perante as estações superiores para reabrir as aulas de Teologia.
A 23 de Janeiro de 1905 publica o prelado o Edital-sentença que expulsava perpetuamente do Seminário os alunos seguintes (760):
Agripino da Conceição Rodrigues, natural de Miranda do Douro.
Alberto do Nascimento Miranda*, natural de Moncorvo.
António Augusto Gonçalves, natural de Bragança.
Francisco Albino da Conceição Pires, natural da Torre de Dona Chama.
Francisco António Cordeiro*, natural de Mazouco.
Jaime Augusto Pereira, natural de Bragança.
João Jerónimo Teixeira, natural de Vale de Lobos.
Manuel António Alves, natural de Bragança.
Mário Maria de Morais Seixas*, natural da Bemposta (ainda veio depois a ordenar-se).
António Maria Calejo*, natural do Mogadouro.
António Guilhermino Lopes*, natural de Bragança.
Emílio Augusto Conde, natural de Urros.
(Todos do 3.º ano teológico.)
Abel Jorge Teixeira, natural de Macedo de Cavaleiros.
António Joaquim Mota, natural de Moncorvo.
António José do Patrocínio Rodrigues, natural de Baçal, concelho de Bragança.
Francisco Maria Furriel, natural de Miranda do Douro.
José Custódio Valente, natural de Macedo de Cavaleiros.
José Raimundo Ferreira, natural de Vinhais.
Albino Augusto Rodrigues, natural de Vinhais.
Augusto Adriano Garcia*, natural de Miranda do Douro (chegou ainda a ordenar-se).
Amadeu Augusto Pereira, natural de Bragança (ainda se ordenou).
Albano Artur Comenda Gouveia, natural de Bragança.
António Cândido Tavares, natural de Carviçais.
António Joaquim Trigo, natural de Valverde, Alfândega da Fé.
(Todos do 2.º ano teológico.)
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(760) O sinal * depois do nome indica os que no fim do ano lectivo obrigaram violentamente os examinadores a suspenderem os actos.
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E na perda daquele ano lectivo os seguintes:
Abílio Augusto Pombo, natural do Souto da Velha.
Francisco Manuel Silvestre, natural de Urros.
Francisco Simão Rodrigues Veigas, natural de Vila Meã, concelho de Bragança.
Manuel António Monteiro, natural de Donai, concelho de Bragança.
Manuel Joaquim Afonso, natural do Mogadouro.
Reinaldo Augusto dos Reis Chaves, natural de Bragança.
(Todos alunos do 3.º ano teológico).
Alfredo Júlio Teixeira, natural de Santa Comba da Vilariça.
João dos Santos Ferreira, natural de Vinhais.
José Maria Gomes, natural de Vilarinho de Cova de Lua.
José Virgílio de Miranda Raposo, natural de Miranda do Douro.
Mário Artur de Novais Ferreira, natural de Alfândega da Fé.
Adelino Eugénio da Costa, natural de Carção.
António Augusto Rodrigues, natural de Vinhais.
António Augusto de Oliveira, natural de Bragança.
Augusto Adérito Pimentel, natural de Bragança.
Leopoldino Maria da Graça Abel, natural de Bragança.
Augusto Fernandes, natural de Miranda do Douro.
Benjamim César de Morais, natural de Vilar de Ossos.
António dos Santos Pimpim, natural de Carviçais.
(Todos do 4.º ano teológico.)
Albano dos Santos Gonçalves, natural de Travanca.
António Manuel Gonçalves, natural de Vila Nova.
Antonio Maria Coelho, natural do Mogadouro.
João Francisco Gonçalves, natural de Tuizelo.
José Feliciano Guerra, natural de Bragança.
Abílio dos Anjos de Castro Valente, natural da Cardanha.
Abílio Augusto Rodrigues, natural de Freixo de Espada à Cinta.
Acácio Augusto Chiote, natural de Freixo de Espada à Cinta.
Arnaldo Augusto Sendas, natural de Cardanha.
Basílio Pires, natural de Bragança.
Ernesto dos Santos Vaz Pereira, natural de Parada de Infanções.
Francisco António Lopes, natural de S. Pedro de Serracenos.
Francisco Manuel da Rocha, natural de Coelhoso.
José Joaquim Valente Rosa, natural de Lagoa.
José Manuel Pinto.
Manuel Luís Lopes, natural de Vila Verde, concelho de Vinhais.
Manuel Sebastião Fernandes, natural de Varge, concelho de Bragança.
António Manuel Figueiredo, natural de Bragança.
José Manuel Felgueiras.
(Todos do 1.º ano teológico (761)).
Os alunos incursos na segunda pena deveriam dirigir ao prelado até 30 de Junho do ano corrente o seu protesto e justificação da sua inocência, e não o fazendo ou não sendo aceitável a sua justificação ficariam compreendidos na primeira.
O partido progressista local convoca o cabido (!!!) e mais clero diocesano (!!!) e professorado (!!!) e classes burocrática, comercial e artística, para no dia 2 de Fevereiro, pelas três horas da tarde, se reunirem no Teatro Camões em comício de protesto a favor dos seminaristas. Ao mesmo tempo, os jornais da sua facção espalhavam boatos por Lisboa e Porto em que davam o prelado como resignatário, indicando até o nome do sucessor, e outras vezes que Roma o mandava chamar para o obrigar a resignar, outras que Roma lhe cassara o poder de conferir ordens e que não mais voltaria a Bragança.
Entretanto, os corifeus do governador civil, não cessando de pregoar o seu valimento e interesse pela causa, levavam uma comissão de seminaristas (!) a implorar-lhe «a sua valiosissima protecção na questão do Seminario». É claro: tudo prometeu.
É intuitivo que o clero e professorado se riram do convite para o comício e brilharam nele pela sua ausência, o que levou os convocantes a redigir um manifesto que fizeram imprimir e enviar pelo correio aos destinatários (762).
Que insensatos! Não viam os convocantes que o cabido, reunido em sessão a 12 de Janeiro desse ano, para responder ao ofício do prelado, em que o consultava sobre o modo de resolver a questão, taxava o proceder dos estudantes de «gravissimo acto de indisciplina» e por isso o aconselhava a fazer justiça aos culpados, relevando, porém, os inocentes da perda do ano, abrindo por conseguinte as aulas para estes.
Pois nem publicando, como publicaram no número de 8 de Fevereiro do órgão, a acta da sessão do cabido, viram que tal convite só ironicamente podia ser interpretado a menos que não fosse uma descambada chochice!!!
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(761) Esta sentença, com os nomes dos alunos, vem publicada em O Nordeste de 1 de Fevereiro de 1905.
(762) Vem também publicado este manifesto em O Nordeste de 8 de Fevereiro de 1905.
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O comício, que teve como presidente Daniel José Rodrigues, secretariado por Patrocínio Felgueiras e Caetano de Sousa, outro arrastado pela episcopofobite endémica, que para isso teve de renegar o escrito em louvor do bispo, no «Hymno» do 14.º aniversário da sua sagração episcopal, redigiu também uma mensagem ao rei e outra ao núncio.
O discurso do presidente veio transcrito em O Norte, diário republicano, de 11 de Fevereiro, e as mensagens em O Nordeste.
O Baixo Clero, que tinha andado sempre a anunciar a morte do bispo e que já suspendera a sua publicação por ver que os seus vaticínios eram de efeito contrário sai de novo à arena.
No comício falaram Paulino Quintela, mestre de obras de pedreiro, João José Alves, gerente das máquinas Singer, republicano, Augusto Maria de Barros, professor de instrução primária da freguesia de Santa Maria de Bragança, Patrocínio Felgueiras, professor da Escola Distrital de habilitação ao magistério primário, Miguel Costa, antigo aluno do Seminário, de onde fora expulso por falta de vocação eclesiástica, e Caetano de Sousa.
Entre as resoluções do conciliábulo, assentou-se em promover outros idênticos pelas vilas do distrito e ainda um outro, com representação de todos os concelhos, em Bragança.
Apenas conseguiram realizar um no Vimioso a 26 de Fevereiro de 1905, presidido por Firmino Geraldes, secretariado por António Vaz Pinto e Francisco António Barreira, em que discursaram além do presidente mais Agostinho Pires, Madureira Frade, Arnaldo Lopes, Aníbal Lopes, dr. Olímpio Cagigal e Caetano de Sousa.
O Nordeste de 8 de Março de 1905 dá a notícia de que alguns dos seminaristas expulsos, irritados pela sentença condenatória, vão abjurar a religião católica e filiar-se na protestante!!!
Os acontecimentos precipitam-se vertiginosamente. Bragança é dominada pelo regime de terror, as pessoas sensatas, que não aprovavam a indigna campanha movida ao prelado não ousam manifestar os seus sentimentos, com receio das violências que a autoridade administrativa consente impunemente. A 15 de Março é queimada na Praça da Sé, em auto público, a Gazeta de Bragança por dizer algo em favor do prelado, ao mesmo tempo que arruaceiros apedrejavam a casa do cónego António Acácio de Castro Valente, tesoureiro da bula, indigitado como favorável ao bispo. A insensatez da vertigem, a inconsciência das multidões acéfalas, a gritaria tumultuária do povo rude e ignorante, obcecado pela exaltação leviana, apodera-se de Bragança, que perde a noção moral do justo ou injusto, como as nacionalidades nos últimos períodos de decomposição prestes a desaparecerem: inverte as noções de bem e mal e vendo um crime que devia ser punido, fraca, pusilânime, desorientada, levada de um sentimentalismo piegas, reprova o acto de justiça – o castigo.
A História aponta-nos outro facto idêntico sucedido em Bragança: foi a 19, 20 e 21 de Junho de 1808. Sepúlveda havia ousadamente – ele o primeiro em Portugal – levantado o grito contra os franceses no dia 11 desse mês, na incerteza, porém, que precede os grandes planos; o povo, que nada compreendendo do que convém fazer-se, amotina-se estupidamente contra o grande general e despedaça, espanca, maltrata e mata tudo quanto se lhe afigura oposto ao impulso cego que o dirige. Cometeram-se verdadeiras atrocidades. O sapateiro Viseu e o taberneiro Nicolau, como aponta Soriano, eram chefes do motim.
Sempre assim foi: o povo revoltado em gritaria diabólica, compreende melhor estes tribunos de ocasião, cujo prestígio depende unicamente da sua audácia e força de pulmão.
Também no motim do Peneiro em 1856, que descrevemos noutra parte, uns pescadores de águas turvas conseguiram sublevar o povo contra uma prudente medida camarária com o fim egoísta de fazerem os seus frutos bons. De resto, o povo de Bragança é muito atreito a estes ataques de insânia.
A 20 de Março de 1903, uma horda de desorientados assalta a pedradas a casa do inspector do selo na cidade, quebra-lhe janelas e vidraças e mais se teria passado se a polícia não intervém. Pura selvageria, como então classificou o acto um jornal da terra.
Um tal estado de coisas não podia continuar. O governo, espicaçado pelo governador civil, ameaçava violentamente fazer abrir o Seminário, e o núncio e o arcebispo de Braga, no intuito de evitar maiores conflitos, insinuavam ao prelado a modificação do Edital-Sentença de 23 de Janeiro.
Além disso, este, compungido pela triste situação em que ficam os infelizes alunos expulsos perpetuamente, alguns dos quais com ordens sacras «e ponderando que é possivel que a maioria dos estudantes, ou todos elles, suggestionado o seu espirito n’essa desgraçada hora de irreflexão, se tivessem arriscado a tão cruel temeridade, sem prevêr as circumstancias; e que d’entre os expulsos in perpetuum pelo Nosso Edital-Sentença haja alumnos que apenas tivessem sido indifferentes, ou solidarios com os delinquentes por espirito de camaradagem, do que já temos alguns dados para assim o pensarmos, podendo por isso justificar-se tambem; e que uns e outros poderão estar arrependidos do seu maleficio, e se promptifiquem a vir-Nos fazer uma formal retratação (cerrando os ouvidos aos que mal os aconselham) e dispostos a começar de futuro manifestando a necessaria vocação para o estado ecclesiastico – declaramo - Nos resolvido a usar de clemencia» (763). E mais ponderando que «não é justo que os estudantes que houverem de provar a sua innocencia percam este anno lectivo» ordenou, em harmonia com essas benévolas disposições de espírito, que as aulas do Seminário se abrissem para todos os alunos desde o dia 3 de Abril por diante, ficando internos os trinta e oito que haviam sido condenados a perda de ano e externos os vinte e quatro restantes, «classe em que têm sido matriculados, na sua maioria, nos annos antecedentes» (764), mas uns e outros deviam apresentar até 30 de Junho daquele ano na Câmara Eclesiástica «por escripto, em papel sellado, a justificação da sua innocencia, e o protesto de arrependimento do actos incorrectos que tenham praticado dentro do Semminario, com o proposito de emenda, de obediencia e respeito aos seus superiores» (765).
Uma comissão de eclesiásticos, para isso nomeada, apreciaria esses documentos e daria sobre eles o seu parecer ao prelado para julgar como fosse de justiça.
«Aquelles alumnos, porém, que não satisfizerem esta Nossa benigna modificação á sentença proferida, ficarão sujeitos a Nosso ulterior procedimento»(766).
Pode haver maior benignidade, maior grandeza de ânimo?!! Vê o prelado os seus seminaristas, os seus futuros cooperadores na regeneração da diocese, momentaneamente obcecados, estonteados, perdidos por pérfidos conselheiros que, aparentando defendê-los, os abismam mais e mais na ruína, e, condoído, esquece tudo, desgostos e injúrias que o fatal acontecimento lhe havia causado, desce até eles bem compenetrado de que a humildade nem por isso deixa de exaltar as criaturas e proporciona- lhes toda a facilidade no arrependimento! Simplesmente admirável de caridade e bondade de coração!
Os que estranharam tal proceder do prelado, como A Palavra em sete ou oito números do princípio de Abril de 1905 por diante, que publicou até diversas assinaturas
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(763) Provisão relativa ao Seminário Episcopal de S. José de Bragança, de 19 de Março de 1905, p. 10.
(764) Ibidem, p. 13.
(765) Ibidem.
(766) Ibidem.
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de padres a alunos de outros seminários do reino, que protestavam contra a admissão dos de Bragança no Seminário, devem lembrar-se de quantos modos o Divino Mestre expôs ao discípulo ingrato a vilania e gravidade da sua traição para de algum modo o levar a reconhecer a sua miséria (767), do contrário farão surgir em todo o espírito cristão bem formado a ideia, pouco louvável, de insofridos Jonas, que refocilados à sombra da fresca hera, ralham e barafustam de todo e até contra o próprio Deus, porque é clemente, misericordioso, paciente, de muita comiseração, e perdoa os pecados, regalando-se de ver arrasar Nínive (768).
D. José Alves de Mariz não rasgou o Edital-sentença de 23 de Janeiro de 1905 com a Provisão de 19 de Março; ficou essencialmente o mesmo, apenas proporcionou nesta mais facilidade no arrependimento a jovens inexperientes, joguetes desorientados nas mãos de quem os explorava com manifestos fins políticos, e quiçá de natureza ainda mais perversa.
A este propósito dizia o Giornale de Roma, falando dos acontecimentos de Bragança: «Os anti-clericais, porém, aquelles mesmos que propagam e exageram as imperfeições do clero por malignidade inata – fizeram causa comum com os seminaristas expulsos, e com demonstrações e comícios blasfemos intimaram o bispo a reabrir o Seminário e a readmitir todos os seminaristas expulsos. A iníqua pretenção teria sido vã, se a torná-la mais iníqua ainda se não ajuntasse a pressão do maçónico ministro dos Negócios Eclesiásticos» (769).
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(767) Ver S.Mateus, 26-21, e nos outros evangelistas os lugares paralelos.
(768) Jonas, 4-2.
(769) Giornale de Roma em A Palavra de 11 de Abril de 1905.
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continua...
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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