quinta-feira, 27 de julho de 2023

Aonde é qu´isto Irá Parar?!

Por: António Pires 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
 
Nos dias que correm, é cada vez mais arriscado emitir e publicar certas opiniões. Vivemos permanentemente sob a ameaça da ditadura da palavra e do pensamento. A primeira, que serve a segunda, é preciso ser usada com pinças, porque se corre sempre o risco do escrutínio implacável e ditatorial dos activismos fundamentalistas.
Para me salvaguardar dos ataques mesquinhos e patéticos de certos tipos, vejo-me obrigado a fazer, mais uma vez, uma declaração de interesse, que não é mais do que a genuína expressão do valor do Ser – Humano:  abomino qualquer tipo de racismo ou xenofobia, seja expresso ou velado, por entender serem dois sentimentos abjectos. Sou adepto incondicional do princípio humanista do “ tutti Fratelli”
Vamos então aos factos que motivaram este meu arrazoado.
Na segunda – feira passada, no período da hora do almoço, fui tomar café ao meu “tasco” habitual, o Goal Keeper. Não me demorei lá muito tempo, porque a segunda parte laboral reclamava a minha presença.  Saí, atravessei a rua e, mesmo em frente à loja Lion Porshes, no passeio da rua Almirante Reis (partilhado, no momento, por um casal de idosos e mais um familiar) passa um galafato de bicicleta, em sentido descendente, imprimindo uma velocidade nada aconselhável. Um comportamento que, obviamente (estava em causa a minha integridade física), motivou um ralhete, num registo paternal, ao ciclista.
De forma educada, pondo-lhe a mão no ombro, como forma de dizer que estava ali com a melhor das intenções, para conversar, o moço, que falava português com sotaque do país do carnaval, teve a primeira abordagem:
 - Tire a mão de cima de mim, que eu ouço bem!
Com a paciência que me é reconhecida, acatei a exigência do rapaz, e tentei explicar-lhe que, além de ser proibido circular no passeio (permitido apenas a crianças até aos 10 anos de idade), era perigoso tanto para ele como para os peões.
À espera da contra – argumentação, o sujeito saca do telemóvel do bolso (pensando que iria fazer prova documental de que eu estava errado) e, em tom de gozo e descarada provocação, o indivíduo, do alto da sua arrogância, sai-se com esta - como se estivesse a declamar um poema -, olhando para o ecrã do seu ifone:
- 24 de Julho. Segunda  - feira. 13H45. Dia lindo. Sol radiante. 
Acaba a “leitura” e conclui:
-  Cara, sai fora! Vai chingar outro!
Estupefacto, e pensando nas consequências que derivariam duma possível reacção, como, naquelas circunstâncias, se “impunha”, engoli em seco, respirei fundo, contei até dez e virei costas. No momento em que o estava a fazer, o sacanote, já em cima da bicicleta, pronto para seguir viagem, ainda teve a lata de me dizer:
- Vai trabalha! 
Ainda que tenha ficado como quem seba e não mata, mal podia acreditar, fiz precisamente o que o meu interlocutor me “ordenou”: fui trabalhar, mas revoltado, por saber que os meus impostos pagam não só a arrogância deste “exemplar”, como a residência estudantil onde está instalado e os demais benefícios concedidos pelo estabelecimento de ensino que ele frequenta.
Fui trabalhar revoltado, porque este sacanote é um ingrato, não respeita as pessoas com a idade para ser pai dele, nem a cidade que o acolhe de coração e braços abertos, de forma hospitaleira, tanto a ele como às demais comunidades estrangeiras que temos acomodado. 
Fui trabalhar revoltado, por pensar que este sacanote, possivelmente, poderá não ser um caso isolado. 
Fui trabalhar revoltado, por saber que a este sananote e a gente da sua estirpe se estão nas tintas para as nossas regras, não as aceitam, subvertendo-as, escudados no irresponsável e desafiador “no passa nada!”.
Fui trabalhar revoltado, por pensar que qualquer dia me poderão dizer “vai-te embora!”, “sai do teu país!”
Até isso não acontecer, não irei adoptar a postura hipócrita do “deixa lá isso!”. Inconformar- me–ei, sempre que beliscarem a minha dignidade.

António Pires


António Pires
, natural de Vale de Frades/S. Joanico, Vimioso. 
Residente em Bragança.
Liceu Nacional de Bragança, FLUP, DRAPN.

1 comentário:

  1. A semana passada, por volta das 18 horas, passou por mim um grupo de uma dúzia de jovens, rapazes e raparigas. Iam animados como deve acontecer, sempre, com um grupo de jovens. Deveriam ter uns 15, 16 ou 17 anos. Como alguns tinham t-shirt´s iguais, ou parecidas, fiquei a pensar que seriam de alguma actividade organizada.
    Passaram por mim um pouco depois da Igreja do Sto. Condestável, na Avª Pavillons Sous Bois em direcção ao Intermarchê.
    Eles lá iam na vida deles e eu na minha, eles e elas naturalmente depois de uma tarde de diversão e convívio e eu depois de um dia de trabalho.
    De repente, as vidas misturaram-se. A uns dois metros da ciclovia e a uns 5 metros de um ecoponto um dos jovens deixa cair mesmo à minha frente e no meio do passeio uma lata vazia de coca-cola. Fiquei indignado. Ia abrir a boca quando uma das jovens atira com uma outra lata vazia para uns arbustos junto ao início da ciclovia.
    Mandei um berro bem sonoro e na legenda uma asneirada. Mas que (PI)…. É isto?
    Olharam para trás (iam a uns 2/3 metros de mim)… a moça olhou e disse aos outros: - Vinde apanhar as latas. Apanhou a que ela tinha atirado ao chão e disse-me que a lata da coca-cola não tinha sido ela. Essa parte já eu sabia. O resto do grupo tinha parado com o meu berro mas seguiram todos à vidinha.
    Lá tive que apanhar a lata vazia de coca-cola e deitá-la no ecoponto.
    Perdi-os de vista depois do Intermarchê e na rua da antiga Adega já que eu segui numa outra direcção. Talvez algum deles ou delas leia isto.
    Fiquei triste, triste. Falavam Português de Portugal.
    Meu estimado Tonico. Como bem sabes, tal como penso que sabemos todos, os comportamentos nada têm a ver com a origem, a nação, a etnia, a língua ou até a idade. Tem a ver única e simplesmente com a educação que foi transmitida e recebida… ou não. O Berço… o berço... Claro que concordo contigo. Esta malta fandanga tem que ter respostas adequadas a começar pelas atuação da autoridades. Não podemos, nunca, é generalizar.

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