Esta quinta-feira, a Galeria do Mercado e o próprio Espaço do Mercado Municipal, onde decorra a Feira Semanal dos Produtos hortícolas, voltam a servir de palco para uma exposição fotográfica da autoria de Paula Preto, que reflete as histórias e memórias dos tanques comunitários no Concelho de Mirandela.
“Mãe Água, nos tanques lavam-se imagens” é o registo fotográfico que é o resultado de uma candidatura aprovada pela Direção-Geral das Artes, que levou Paula Preto a procurar o concelho de Mirandela à descoberta das histórias e memórias que os tanques acumularam ao longo do tempo, conversando com os habitantes de várias aldeias. “O objetivo principal é refletirmos sobre o que acontece à volta destas estruturas nas aldeias, algumas desabitadas, outras abandonadas, outras ainda habitadas, e o meu objetivo foi procurar os sítios onde as pessoas se encontravam e que, de alguma forma, estão a desaparecer”, refere a fotógrafa e professora para quem o tanque “deixou de ser um lugar de encontro. O tanque era um lugar de encontro entre mulheres, muitas que não poderiam frequentar o café, porque em territórios como estes muitas vezes as mulheres não frequentavam, é um lugar muito masculino, mas era no tanque que elas se encontravam. E hoje, onde é que elas se encontram? Mais hoje onde é que nos encontramos, e mais o que é que estes tanques podem ser, o que é que estas estruturas podem voltar a ser. No fundo reside aí a minha pesquisa e este trabalho, esta partilha, bem como refletir sobre esta ideia de que o encontro em sociedade e em comunidade é essencial e que se cada um fica fechado na sua casa há muita solidão”, acrescenta.
Este registo fotográfico já esteve disponível na passada quinta-feira. Uma semana depois a exposição pode ser visitada na Galeria do Mercado e no próprio Mercado Municipal. Paula Preto diz que a escolha dos locais para a exposição não foi ao acaso. “No meio da fruta, porque parece-me muito importante, nos lugares que a diversidade cultural não acontece, como no Porto ou em Lisboa, que as pessoas deixem de achar estranho uma exposição. Uma galeria é sempre tida como aquele lugar onde se calhar eu vou entrar e não me vou sentir acolhida, ou não me vou sentir bem ou confortável. O facto de apresentar no Mercado e na Galeria do Mercado anula essa ideia de que isto não é para mim ou que não é para eu perceber. E para além disso é uma devolução a todas as pessoas que estão ali na feira”, conclui..
Para Marta Miranda da Galeria do Mercado, este é o tipo de exposições que acabam por ser uma imagem de marca deste espaço cultural criado no Mercado Municipal. “ Tudo começou, quando convidamos a Paula Preto a expor aqui na Galeria no Mercado Municipal que também é um espaço de convívio e de encontros. Após a exposição, falamos na possibilidade de fazer uma candidatura à DG Artes para fazermos o levantamento dos tanques do Conselho de Mirandela. A Paula fez a candidatura, foi aprovada e então começaram as viagens às freguesias, ao levantamento, aos encontros e o que nos deu esta possibilidade de fazer este registo e este momento no Mercado e voltar a falar com as pessoas e pensar um bocadinho o que eram estes momentos, o que foi, quais são as saudades, quais são as perspetivas sobre estes lugares de encontro, que é exatamente o discurso que nós queremos criar em relação ao Mercado Municipal de Mirandela quando aqui nos instalamos”, afirma.
Marta entende ser necessário as pessoas “pensarem neste lugar, que em tempos era um lugar de abastecimento das populações, hoje em dia com tantos hipermercados deixou de ser um lugar de abastecimento, e pensarmos neste espaço privilegiado no centro da cidade, qual é que será o lugar dele ou qual é que poderá ser o futuro dele”, diz.
Esta quinta-feira a Galeria do Mercado e o Mercado Municipal de Mirandela voltam a ter patente da exposição fotográfica “Mãe Água, nos tanques lavam-se imagens”, da autoria de Paula Preto.
Artigo escrito por Fernando Pires (jornalista)
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