terça-feira, 25 de julho de 2023

VESTÍGIOS EM CASTRO DE AVELÃS REVELAM PARÓQUIA BRIGANTIA QUE TERÁ DADO NOME À CIDADE DE BRAGANÇA

 Escavações foram feitas entre 2012 e 2015 e permitiram concluir que a capital dos Zoelas estaria em Bragança


Acredita-se que a capital dos Zoelas, há dois mil anos, estava em Bragança, mais concretamente em Castro de Avelãs. Esta é uma das conclusões de escavações que foram feitas entre 2012 e 2015, pela Universidade de Coimbra, com o financiamento da Câmara Municipal de Bragança. Os Zoelas é um povo pré-românico que manteve a sua identidade na época romana e que ocupava uma boa parte de Trás-os-Montes oriental. 
Ao longo das escavações, mais concretamente na Torre Velha de Castro de Avelãs foi encontrado “um amplo espaço funerário” com dezenas de enterramentos, datáveis do século seis ao século doze, e ainda uma “igreja primitiva”, do século seis ou sete. Estes vestígios levam a crer que à capital dos Zoelas, partir dos séculos quinto e sexto, terá sucedido a paróquia de Brigantia, ou seja, a primeira paróquia que terá dado nome “Bragança” à cidade. “A capitalidade em Bragança foi assumida em finais do século treze precisamente quando se encontram os últimos enterramentos na torre velha. 
Poderá então ter ocorrido um fenómeno de deslocalização da capital, acompanhando por uma mudança de nome de Brigantia para Bragança”, explicou o coordenador das escavações, Pedro Carvalho. E nos séculos onze e doze, que terá sido construído o Castro de Avelãs, o principal mosteiro medieval de Trás-os-Montes oriental durante a Idade Média, podendo ter herdado “legado material e simbólico” da anterior capital dos Zoelas e da paróquia de Brigantia. “Os resultados das escavações surpreenderam-nos a vários níveis, desde logo pela natureza e extensão das áreas construídas habitadas, nomeadamente da época romana, mas também pela extensão do espaço funerário que se estende no tempo, portanto há sepulturas entre o século seis e o século doze ou treze”, referiu.

Pedro Carvalho
“Indivíduo que se distinguia dos demais”

Dos cerca de 50 enterramentos que descobriram no espaço fúnebre, Pedro Carvalho disse que foi encontrado um que se distinguia dos restantes. Quando foi encontrado, a sua “elevada estatura”, de cerca de 1,80 metros, chamou atenção dos arqueólogos. Além disso, distinguia-se dos outros, por ter a “anca consideravelmente mais larga”, relativamente à dos outros homens estudados em populações antigas, e apresentava ainda “características cranianas habitualmente observadas em populações de origem africana”. Devido às suas características “anatómicas e físicas”, o seu ADN foi estudado em laboratórios internacionais, numa universidade da Austrália e numa universidade da Alemanha. “Quando as análises de ADN revelaram que o indivíduo tinha a síndrome de Klinefelter foi para nós surpreendente. Esta síndrome revela-se pelo facto de o indivíduo ter características anatómicas e físicas diferentes das habituais que resultam por ter dois cromossomas XX quando devia ter um X e um Y”, explicou. Embora fosse um indivíduo do sexo masculino, tinha características do sexo feminino. Esta descoberta permitiu à ciência perceber que esta síndrome já vem de há vários séculos e que ainda se verifica nas populações actuais.

Quem foram os Zoelas?

Os Zoelas foram um povo que viveu há dois mil anos e que é mencionado por Plínio (autor romano, século primeiro) a propósito nomeadamente do seu linho de excepcional qualidade, adequado para redes de caça, e que nesse tempo chegava a Roma. Terá ocupado uma boa parte do nordeste transmontano.

Jornalista: Ângela Pais

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