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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Quando o tempo cabia num café


 Havia um tempo em que as horas não se mediam por notificações, mas pelo número de tacadas dadas numa mesa de bilhar. O verde do pano era um palco silencioso onde cada jogada era pensada como se fosse a última, e o som seco das bolas a embater ecoava como aplausos discretos.
O Orlando, emigrante em França, trazia sempre de férias o seu taco que estimava como ninguém. A mim fazia-me alguma confusão vê-lo juntar/aparafusar as duas metades do taco e não utilizar o giz que o salão de jogos do Flórida disponibilizava. O Orlando bem me dizia e não se cansava de o fazer:
- Calma. Pensa. Se tacares assim, onde vão parar as bolas. Pensa sempre na próxima jogada se conseguires fazer esta. Junta as bolas. Eu lá ia assistindo às jogadas intermináveis dele, 20/30 jogadas seguidas e de vez em quando, por sorte, eu lá conseguia dar 3 ou 4 tacadas que me enchiam de peito.
Mais tarde, já no snooker que ele evitava jogar, a vitória só por muito azar não pendia para o meu lado.
Nos cantos dos cafés, os matraquilhos giravam num frenesim de mãos hábeis, enquanto a bola fugia e regressava, como se tivesse vontade própria. Ao lado, mesas de xadrez, damas, ping pong e dominó, juntavam jovens e velhos, cada um trazendo no olhar histórias diferentes, mas unidos pelo mesmo prazer do jogo.
O fumo do tabaco desenhava nuvens lentas no ar, misturando-se com o aroma intenso do café acabado de tirar. Depois umas cervejas… E as conversas, longas, animadas, cheias de gestos, davam ritmo às tardes e noites que pareciam não ter fim.
Era um tempo de presença verdadeira, onde os amigos se encontravam não por acaso, mas porque fazia parte da vida. E, no fundo, entre tacadas, risos e partidas disputadas, aprendíamos o que hoje parece raro, a arte de estarmos juntos.

HM

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