(Colaboradora do Memórias...e outras coisas...)
Há dias, tomava café com umas amigas e, no meio das conversas de sempre para pôr em dia, alguém diz: «Então como vai ser o vosso Natal?» Curiosamente ninguém estava particularmente entusiasmado com o assunto e fomos ouvindo o que cada uma tinha para dizer. Uma de nós dizia: «Este Natal é em casa da sogra da minha filha, não me apetece nada, é muita gente, fala-se muito e não gosto do frio no regresso a casa…»
Outra afirmava: «O meu filho que, como sabeis, já vive há muito tempo fora do país, não vem… Diz ele que é pela confusão nos aeroportos, porque já são muitos e fica caro para tão pouco tempo. E sugere que seja eu a ir lá e a levar o bacalhau… Mas eu não vou… já não gostava de andar de avião, e agora com a confusão nos aeroportos a coisa piora». E confidência: «Depois os netos mal falam português e a conversa fica difícil!»
Rimo-nos e lembramos o desabafo da D. Dolores, mãe do Ronaldo, quando se queixava de como era difícil falar com os netos já que estes só comunicavam em inglês ou espanhol.
Continuamos com os “desabafos” e, uma outra, diz: «Eu já combinei com X , marcamos o jantar de Natal num hotel, que tem um bom menu e uma boa música». Finalmente a Té, a pragmática concluiu: «Oh amigas, eu do Natal só retenho o cheiro da canela, e essa usamos a qualquer momento! Não vale a pena romancear sobre o Natal, procurando recordações de outros tempos… Afinal, se o Natal é quando um homem quiser, eu vou festejando…»
A gargalhada foi geral… A afirmação trouxe ao de cima muito do que não queremos ver ou aceitar. Corresponde a sentimentos que cada um de nós vai vivenciando nas diferentes fases da vida, com as famílias cada vez mais reduzidas e dispersas num mundo em colapso, onde a miséria provocada por causas naturais, guerras estúpidas, egos inflamados e má gestão, inferniza a vida de tanta gente…
Nestas circunstâncias viver o espírito de Natal, a cada momento, vale a pena. E sim, a nossa amiga, para além de usufruir do cheiro a canela todos os dias nem que seja para mexer o café, suaviza desta forma o seu dia a dia e o de quem a rodeia. E com ela cumpre-se a possibilidade de “o Natal ser sempre que um homem quiser”.
Transcrevo, a propósito um fragmento do magnífico poema de Ary dos Santos
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher.


Sem comentários:
Enviar um comentário