sábado, 13 de fevereiro de 2021

O CAMINHO-DE-FERRO E SUA INFLUÊNCIA NO URBANISMO DE BRAGANÇA


A construção do edifício da Estação do Caminho-de-ferro, em terreno ermo do vasto campo de Santo António ou da Eirinha, e a chegada a Bragança do comboio marcariam uma nova fase nas comunicações e também teria consequências nos planos da expansão e da regularização urbana, todas concordantes com algumas das asserções esgrimidas pelos que pugnavam por um esperançoso mundo novo.
Longamente almejado, o serviço de transportes ferroviários, nomeadamente no troço entre Mirandela e Bragança, enredou-se frequentemente nas disputas entre regeneradores e progressistas e nas acusações contra aqueles que, como o progressista conselheiro Eduardo Coelho, se suspeitava de travarem a continuidade da linha férrea. No campo contrário, figuras como Emídio Garcia, Cristóvão Aires de Magalhães Sepúlveda, historiador de grande mérito e antigo Governador Civil do Distrito de Bragança, e Abílio Beça, também Governador Civil de Bragança, destacaram-se entre os pugnavam por tal melhoramento. Emídio Garcia, enquanto ministro progressista foi quem, em 1887, mandou estudar o traçado da via entre Mirandela e Bragança, e Elvino de Brito, ministro das Obras Públicas, aprovou o projeto em 1899.
Nesta altura, as propostas apontavam o sítio do Senhor da Piedade, nas faldas do monte de S. Bartolomeu, como o local onde se devia erguer a estação terminal881. Só um pouco mais tarde, como resultado das análises de uma outra comissão, que tinha no engenheiro Macedo de Lacerda uma das suas figuras proeminentes, é que se desviou a diretriz do primeiro projeto, a partir de S. Lourenço até à atual estação, no sítio que muitos conheciam como Eirinha. No final de 1903, o espírito de Abílio Beça pôde sossegar com a notícia da irreversibilidade da obra da linha.
Com os trabalhos em desenvolvimento, o dia 26 de outubro de 1906 foi para muitos bragançanos uma data memorável, justamente porque foi a primeira vez que uma locomotiva, em operação experimental, chegou a Bragança. Outros grandes festejos se programaram para o dia 1.º de dezembro do mesmo ano por significar o início da circulação regular em meio ferroviário. Aparentemente, o mundo sorria aos bragançanos.
Contudo, no aro da Cidade, a linha do comboio, ao definir um segmento quase paralelo ao fio da antiga muralha do Tombeirinho (Rua do Conselheiro Eduardo Coelho e, depois, Rua 5 de Outubro), iria estabelecer um novo limite à área urbana. Seria dentro desse limite que ia ganhar força a necessidade de se retomar uma antiga resolução do conselheiro Emídio Navarro que tinha sido posta de lado pelos custos que comportava. Tratava-se da abertura de uma avenida que, como se escrevia na Gazeta de Bragança, em 1905, desse boa resposta ao movimento “que se há de estabelecer entre a Estação e Bragança”. Apesar da distância da Estação à Praça da Sé ser de pouco significado, o articulista falava de dois mundos, o da Estação, que era um ermo, e o do espaço urbano, propriamente dito. Assim se explicam as expectativas que se abriam em termos de crescimento da Cidade, pois devia ir ao encontro desse novo polo. Em última análise, desenvolvia-se um processo que antecipava o futuro rasgamento da Avenida João da Cruz, o segmento urbano que acabaria por dar coerência a essa ligação.
Quando o comboio chegou pela primeira vez, o que existia era a insignificante e estreita Rua do Conde de Ferreira. Por isso, era imperioso “o alargamento dessa rua até próximo da fachada da Escola do Conde de Ferreira, fazendo-se uma pequena avenida ou largo, convenientemente arborizado e dividido em dois arruamentos que comportem a circulação do trânsito”. Na mesma linha de orientação, enunciavam-se, com algum critério, medidas que acautelavam a nova formulação urbana: “sendo de esperar que nas proximidades das Estação se construam novos prédios, é urgente que a avenida esboçada se delimite já, para evitar que construções de casas venham em breve ocupar os terrenos a expropriar e para fixar quanto antes o alinhamento das edificações do lado sul, em frente das que já existem do lado norte da Rua do Conde de Ferreira”.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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