Os perto de três mil litros desta iguaria típica mirandelense - que mistura grão-de-bico, carnes, batata, massa e presunto - são pagos pelo Município que, em parceria com a Associação Comercial e Industrial, entendeu ser a melhor forma para poder realizar a quinta edição do festival gastronómico do rancho transmontano, agora em modo take-away, já que a pandemia não permite o ajuntamento de milhares de pessoas, como vinha sendo habitual, nos anos anteriores, no mercado municipal da cidade.
Cada restaurante tinha um número limite máximo de 90 pessoas para poder servir e praticamente todos esgotaram as inscrições. “Neste tempo que vivemos, era necessário reiventar e não deixar cair as nossas tradições e neste caso o festival do rancho. Lançamos o desafio à restauração de ser em modo de take-away e tivemos uma enorme até superior à edição do ano passado”, confirma a vereadora da câmara de Mirandela, Vera Preto. As inscrições foram feitas nos últimos três dias, numa plataforma online do Município, onde foi possível escolher o restaurante preferido para levantar o rancho, entre as 10 da manhã e as três da tarde de sábado. “Para cumprir as regras de segurança, porque não queremos que as pessoas se exponham, a inscrição teve de ser feita previamente e para evitar que as pessoas pudessem circular entre vários restaurantes, cada um já sabe antecipadamente onde deve ir buscar a comida e durante um período alargado de tempo, para não haver grandes ajuntamentos”, acrescenta.
A iniciativa é elogiada pelos proprietários de restaurantes. “É pena porque se não fosse a pandemia, seria um dia de festa com muita gente a juntar-se, mas como há este confinamento acho muito positiva esta ideia do Município”, diz Paulo Correia, proprietário do restaurante “Távora”. “Não estava a contar que pudesse acontecer, foi uma super iniciativa porque estamos com as casas fechadas e com muita dificuldade para pagar as nossas contas. É uma ajudinha”, adianta Noémia Lemos, do restaurante “O Batalhão”.
A tradição do rancho aos dias de feira
Por Mirandela, é tradição o rancho transmontano fazer parte da ementa de praticamente toda a restauração, nos dias da feira semanal, ou seja, todas as quintas-feiras.
Todas as quintas-feiras, às 8 da manhã, Noémia Lemos, proprietária e cozinheira do restaurante Batalhão, já anda de volta das panelas para perto do meio-dia, poder ter pronto o famoso rancho transmontano. “As panelas de pressão estão a cozer o presunto e outra está a cozer a vitela”, começa por explicar.
Um ritual que acontece há mais de 15 anos. “Comecei a fazer cerca de 10 litros, mas agora, antes da pandemia, houve feiras em que já não chegavam dois potes de 160 litros cada”, conta
Em dias de casa cheia e encomendas para take-away, Noémia tem de ter preparados cerca de 20 quilos de grão-de-bico, 40 pacotes de massa, 20 quilos de vitela, outros 20 de batata e 10 de presunto. “A única coisa que fica feita no dia anterior, são as batatas descascadas e o grão- de- bico de molho. Depois, é meter o grão a cozer na panela, colocar as carnes a cozer que depois são desfeitas. Após o grão estar cozido, introduzo as carnes, a batata e a massa. Tudo para fazer entre as 08 e o meio-dia quando começo a servir”, refere Noémia que confessa não ter nenhum segredo para este manjar. ”Não tenho segredo nenhum. Não utilizo a água do presunto, mas antes a água do grão e da vitela. À parte faço um estrugido com azeite, cebola e chouriço”.
E o preço, esse também é convidativo. “Uma dose dá para duas pessoas e sobra e só pagam cinco euros. Muita gente vem buscar para comer em casa, porque fica muito em conta”.
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