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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Aqui Começa Portugal

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Aqui começa Portugal que resistiu à fome e ao estigma humilhante do repartir uma sardinha em tempos de escravatura e servidão. Aqui começa Portugal que convive amistosamente com os espanhóis, mas bateu-se estoicamente em Aljubarrota e na penosa Guerra do Mirandum. Aqui começa Portugal que se levanta cedo e obriga a terra a parir frutos, azeite e mel em tempos de secura estival. Aqui começa Portugal de Bragança que se revê no seu passado e na imponência do seu castelo, sem contudo comprometer o futuro; de Alfandega da Fé, doce como as cerejas vermelhas em prenúncio de Verão; de Carrazeda de Ansiães que se faz vinho fino e marca presença em todo o mundo; de Macedo de Cavaleiros que se espelha no Azibo num anúncio perene de riqueza agrícola; de Mirandela em namoro romântico com o Tua na exuberância dos produtos da Terra Quente; de Torre de Moncorvo que do mel, da cera e das amêndoas faz riqueza e nome; de Vila Flor sempre florida e na paixão de Dom Dinis é um autêntico poema de harmonia e beleza; de Vinhais que na conjugação mais que perfeita de saberes e sabores oferece ao Mundo um fumeiro ímpar e de referência; de Vimioso que tão bem soube acolher os judeus e do negócio do almocreve andante prosperou e se fez mito nos amores duma Severa e dum Conde amante da sua terra e do imaginário do fado Português; de Miranda do Douro que soube conjugar a atractividade da sua Catedral e do Menino Jesus da Cartolinha, com o fascínio do Douro, com as suas arribas e magníficas embarcações ecológicas; de Mogadouro que num conto de Trindade Coelho nos fala da valentia e do carácter das suas gentes; de Freixo de Espada à Cinta que das alturas do Penedo Durão espreita a “sombra dos abutres” e se faz laranja e beleza no esplendor da Conjida.

Por tudo isto e pelo que não se disse, poderemos afirmar que aqui, no Distrito de Bragança começa verdadeiramente Portugal.
Um Portugal que teimosamente resiste ao isolamento, à desertificação, à morte anunciada de muitas aldeias pela escassez da natalidade, mas não sai à rua carpindo lágrimas e fazendo a figura ridícula dos coitadinhos, mas procura soluções, articula estratégias, rompe com o fatalismo da História e afirma-se como Povo e como Região ímpar.
O ciclo repete-se muitas vezes. Os Castros morreram deixando trágicas marcas ombreando os montes. Das ruínas dos Castros nasceram as aldeias. Os reis publicaram leis obrigando os filhos e netos de agricultores a regressarem ao arado. Bragança teve uma indústria próspera no século XVIII e contudo nos inícios do século vinte, os porcos e as galinhas passeavam-se ostensivamente na Praça da Sé.
Mas, verdadeiramente acreditamos que embora as carências desta região periférica sejam imensas, estamos a dar a volta por cima, rompendo com a ignorância, fazendo educação de jovens e adultos, modernizando as aldeias, vilas e cidades, garantindo o mínimo de conforto e habitabilidade para todos os cidadãos, reduzindo praticamente a zero o drama da fome que em tempos bem próximos, era um assombramento para a grande maioria das famílias que trabalhavam de sol a sol.
Muito há para fazer. A desertificação dói. Mas uma imigração selectiva há-de trazer gente, culturas, saberes e novas oportunidades para a nossa Terra. A nossa Região é o diamante por lapidar que os turistas espreitam. Muita gente virá à procura dos nossos silêncios, no encantamento da nossa paisagem, na singularidade da nossa gastronomia e as nossas aldeias de novo se animarão.
Os nossos antepassados resistiram. Nós vamos resistir porque aqui, verdadeiramente, começa Portugal.

Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

1 comentário:

  1. Se Portugal começa aí, permita-me que lhe faça uma pergunta. Onde se encontra o MARCO N°1? Gostaria de ver uma foto desse MARCO. Obrigado.

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