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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Uma Sociedade de Bem Estar

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Longe vai o tempo em que se falava numa cultura regional, bem localizada, com referências precisas aos seus valores, património, formas de dizer, de cantar, de dançar, de vestir, estando sempre presente num imaginário representativo particular e referenciável.
As coisas valiam por si, ou pelo contributo local que também criava os seus mitos, os seus estereótipos, as suas figuras lendárias, cheias de força, de sabedoria, de manha, de santidade, ou maldade, mas tudo balizado pelo ter ou o ser.
A cultura regional, diz um Sociólogo contemporâneo, era uma espécie de quintalzinho, com um muro à volta, bem demarcado e protegido dos quintais vizinhos, que de vez em quando comunicavam entre si por tímidos fenómenos de aculturação.
E estes fenómenos eram tão lentos que tinha em conta agentes de aculturação que passavam pelos trabalhadores sazonais que na permuta de trabalho, permutavam também cultura, ou ainda, pelos vendedores ambulantes, pedintes e cegos que de terra em terra cantavam os ditos e os feitos de outras regiões, sendo pregoeiros da desgraça, mas também do acontecer, ou seja, da notícia.

Hoje, os mass mídias destruíram o muro do pequeno quintal. Fizeram a grande propriedade colectiva da cultura de massas. Definiram valores novos, sem suporte no ser, ou no ter, mas na mediatização de figuras desprovidas de talento, de inteligência, mas que persistem numa espécie de virtualidade aceite, falada e que povoa o imaginário do nosso quotidiano.
Vivemos num tempo de profundas mudanças e a ética não acompanha uma moral de massas, onde os valores se redefinem, onde a dignidade humana é posta em causa, onde a privacidade é devassada pelas novas tecnologias que exploram emoções, afectos e devolvem o homem a uma nudez primitiva não somente física mas também intelectual.

Por isso, as seitas proliferam, os mitos persistem, as religiões multiplicam-se, à procura dum homem ético que se perdeu de si mesmo e se encontrou numa infinidade de paradoxos e contradições, revestido duma idolatria antropomórfica.
Por outro lado, a Religião Católica à qual se converteu mais de 33% da população mundial, assiste ao envelhecimento do seu clero, e em alguns casos não tem sido capaz de vencer um discurso passadiço de paróquia de aldeia.
Hoje o Homem encontra-se com a santidade a vários níveis. O céu está cada vez mais perto, porque o homem socialmente solidário e fraterno com os seus irmãos já não se assusta com o inferno distante e dantesco. E ao velho e venerando pároco da nossa freguesia já não adianta dizer que o atentado ao Papa, em Fátima foi protagonizado por um terrorista a soldo do Comunismo internacional, porque já todos sabem que os Comunistas nunca comeram meninos ao pequeno-almoço.
Todos nós aspiramos à santidade, ou à pratica do bem, mas é difícil, muitas vezes, aguentar o discurso da homilia de Domingo aldeão, cheia de boas intenções e santos princípios, mas onde um Deus terrífico se opõe a um Deus misericordioso e que um dia na plenitude da partilha da Graça nos levará para o Céu que no nosso quotidiano construímos para além dos nossos pecados e omissões de fraternidade.

Contudo, a Igreja dos nossos Pais onde nascemos, para além das contradições da nossa vida, tem-se revelado uma Igreja de bem estar, que procura dignificar o homem, acompanhando com prudência, mas com seriedade o devir político do País. A Igreja Católica, em parceria com Estado, está sempre presente nas grandes obras de acção social, de apoio à 3ª idade, às crianças, aos sem abrigo, aos sem nome, aos enjeitados, levando a civilização e os princípios de cidadania a todo o mundo, porque isto também é criar o Céu na proximidade com os homens.

Confesso que não era isto que queria tratar nesta peça, mas somente falar no bem-estar da sociedade contemporânea. Os desígnios de Deus são insondáveis e o texto escorreu para estas bandas. Ficará para depois o assunto sobre esta sociedade onde as políticas se afinam, rumo aos direitos humanos e aos princípios de cidadania.

Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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