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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

…Digo-te adeus

Por: Fernando Calado
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Agora as noites são longas. Na verdade ouve-se a coruja no seu pio taciturno e cheio de solidão e a cadela ladra por desfastio para entreter a noite. As estrelas brilham e as sombras nocturnas desenham medos antigos que enregelavam o coração no ranger das tábuas do velho casebre. Durante um ano encontramo-nos regularmente na escrita do nosso livro: “E já não havia rosas” e tu chegavas e todas as noites estavas tão presente que te adivinhava o perfume e o cheiro a rosas. Ouvia-te sorrir na longa noite transmontana e chorar nas páginas que paulatinamente ganhavam forma no vagar das palavras. Depois vi-te partir e a noite ficou à beira do final da história.
Os homens e as mulheres da minha aldeia, às vezes também vinham para o serão e as mãos faziam o milagre da renda e da palavra da conta que se contava. A minha avó Maria Oliveira, essa chegava sempre ao anoitecer e estava ali, espreitando o livro. As vezes persentia o aconchego do seu xaile amaciando a geada, outras vezes ouvia-a sorrir…raramente a vi chorar…E o livro fez-se viagem por todo o nordeste. E senti-me acompanhado no remanso dos rios, no voo dos abutres, na sede do planalto, na força do arado que fazia poemas de trigo e centeio. Depois o moinho e o forno nos santificaram e devolveram-nos a vida. E fomos felizes.
O livro já não me pertence…é de todos…mas ficou a saudade do nosso convívio com as mulheres, os homens, as rosas, os animais e toda a natureza que morou nas minhas noites em que o livro se fazia…e eu só estava ali…ouvindo e escrevendo…mais com o coração do que com a razão.
…a noite continuará mais longa…se puderem venham-me visitar e acolham a história na frescura dos vossos olhos e na sentir do vosso coração. 
Tu estarás sempre na estrela mais brilhante…sorrindo…e eu sei que o teu sorriso é branco e felizmente as roseiras não se esquecem e em breve, novamente, oferecerão à abelha a rosa mais vermelha…e eu nunca me vou esquecer de te dizer uma coisa bonita.

Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

1 comentário:

  1. é uma viagem de sabores e cheiros que se nos entranham e nos fazem estremecer. Gosta-se das palavras ditas de maneira que "...o milagre da renda e da palavra da conta que se conta."

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