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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Recado para o Além

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Ouvi-te contar esta conta, meu amigo, uma conta fantástica duma aldeia vizinha e o Céu ficou tão perto…à beira do recado que se manda para o Além. E tu falaste… e nomeaste as pessoas que todos conhecíamos… e o recado tinha endereço… remetente e destinatário… 

Pois a noite estava fria… as candeias estavam acesas pela alma do defunto e os vizinhos entre dois Terços… duas “espirradelas” e alguns bocejos… lá iam falando das virtudes ampliadas do finado… e quando já não havia mais nada para dizer, acrescentavam, apertando o xaile, ou a samarra: - pois está frio!... mas ontem estava mais!
E assim se passou a velada… já a tia Senhorinha tinha dito todas as jaculatórias pela alma deste nosso irmão… e todos já tinham saído. Então, o vizinho mais próximo do defunto, amigo de sempre, apertou mais a samarra, assoou o nariz a um lenço tabaqueiro e aproveitou, sem grande mágoa, nem cerimónias, para enviar um recado para o Além:
- Olha, se fores para o Céu… o que duvido! Se encontrares lá o meu sogro… o que duvido!… pergunta-lhe onde deixou a chave da adega e a pedra da gadanha!
Recado dado… deitou mais uma “espargidela” de água benta… benzeu-se desajeitado e foi-se deitar em paz… como quem já tinha ganho a noite.

Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.


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