A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real, foi a que mais cresceu em número de alunos e o Instituto Politécnico de Bragança, a segunda instituição a registar a maior subida de estudantes.
A qualidade do ensino, a retirada de 5% de vagas a algumas universidades do litoral e o custo de vida nas duas capitais de distrito transmontanas são os fatores mais apontados para este sucesso. Mas a chegada de tantos alunos à região fez soar a campainha de alarme na habitação. As residências não dão resposta aos pedidos e, tanto em Bragança como em Vila Real, os quartos e as casas escasseiam e os preços sobem.
José Pinheiro, vice-presidente da Associação Académica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), diz que "a situação é muito complicada porque não há residências que cheguem e o mercado reagiu negativamente, os preços subiram. Há gente a ter de procurar casa na periferia da cidade, o que não é bom para o comércio nem para os estudantes".
A média de subida de um quarto individual estará entre os 25 e 50 euros, o que, em alguns casos, pode elevar o custo mensal até aos 150 euros. Já um T3, tipologia mais escolhida pelos estudantes, que antes podia custar cerca de 400 euros, pode agora atingir os 600 euros.
Miguel Azevedo é proprietário da imobiliária Imocorgo, em Vila Real. Tem receio que não haja casas para tanta gente. "Vejo os pais chegarem aqui, aflitos, a uma cidade que não conhecem e não sei se vai haver habitação para todos. Nós já não temos nada, já está tudo arrendado", salienta.
Também em Bragança as imobiliárias estão a ficar sem casas e quartos para alugar. Anabela Oliveira, da Globalinveste, diz que já alugou todos os apartamentos. "Já não temos nada. Se tivesse o dobro [dos imóveis] era bem possível que os alugasse. Há muita procura".
Por isso, os preços sobem, acrescenta Eugénia Melgo, da imobiliária Último Pilar. "Acho que estão a subir demais para a cidade que é. Um quarto custar 130, 150 euros sem contar com a água, luz e gás, parece-me muito para Bragança." Acrescenta a responsável que a questão da subida de preços deve-se muito aos arrendamentos ilegais. "Há muita gente à saída das escolas a oferecer quartos, muitas vezes sem contratos e sem condições. Isso é que devia ser fiscalizado."
Em Vila Real, a Associação Académica ajuda até onde pode, e articula com privados e imobiliárias as melhores soluções para os alunos que chegam. Em Bragança foi criada, em 2009, uma startup que faz esse trabalho profissionalmente, mas está muito direcionada para os alunos estrangeiros. De salientar que o Instituto Politécnico de Bragança (IPB) continua a ser a instituição do ensino superior com maior percentagem de alunos vindos dos quatro cantos do mundo.
Vítor Laranjeira é o responsável da Riskyvector que, entre Bragança e Mirandela (cidade onde se situa a escola de Comunicação e Turismo do IPB), apoia cerca de 360 alunos. "Não é fácil para eles arranjarem habitação porque já chegam fora do tempo de início de aulas. Muitos no final de setembro, outros em dezembro e por períodos pequenos. A questão da língua também é muito importante. Nós arranjamos quartos a uma média de 120, 130 euros, todos com internet, extintor, limpeza, etc. Auxiliamos também na questão do visto, que é sempre um pouco complicada."
Mesmo com poucos quartos no mercado e com os preços a subirem, Vítor Laranjeira não vê em Trás-os-Montes nada de anormal. "Parece-me mais que normal esta pequena subida. Não tem nada a ver com Porto e Lisboa. Bragança é uma cidade pequena e pode-se ir a pé de qualquer sítio para o Politécnico. Isso é uma vantagem única", refere.
Intervenção das autarquias precisa-se
Toda esta situação está a preocupar os responsáveis das instituições. Em Vila Real, Fontainhas Fernandes diz que precisariam de mais duas a três centenas de camas em residências. O Reitor acrescenta que aqui as autarquias terão um papel primordial e uma oportunidade, uma vez que não há fundos aos quais as universidades se possam candidatar para a construção de residências - mas as autarquias têm essa possibilidade.
"Atendendo a que nos últimos quadros comunitários não existem meios para requalificar espaços para residências, poderá ser uma excelente oportunidade para as autarquias para reabilitar algumas habitações nas zonas históricas e reabilitar essas áreas com fundos específicos e depois fazer a entrega aos estudantes."
Em Bragança, isso já está a ser feito há alguns anos diz o presidente do Instituto Politécnico. "A autarquia tem dado um excelente exemplo e feito connosco acordos que reputamos de grande interesse, já vai na terceira reabilitação de edifícios degradados na zona histórica, que hoje são residências para os alunos (do Politécnico)."
Mas Orlando Rodrigues sabe que as necessidades têm vindo a crescer e também acredita que há mais edifícios públicos que podem ser reabilitados, alguns que pertencem ao próprio Ministério da Educação. "Em Bragança, há uma residência da Direção Regional de Educação que está vaga há anos, que tem muitos quartos que podem ser disponibilizados no mercado. Há algumas opções que as instituições públicas podem tomar no sentido de elas próprias contribuírem para estabilizar o mercado", conclui.
Em Bragança, no politécnico entraram na primeira fase de acesso 774 estudantes, mais 63 que em 2017. A UTAD ultrapassou pela primeira vez a barreira dos 1300 alunos, com mais 307 do que no último ano.
Afonso de Sousa
TSF
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