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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

DESPREZO E INGRATIDÃO

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


Não sei o que dói mais: se a ingratidão se o desprezo.
Durante anos, considerei: a maior afronta que se pode fazer, a quem nos fez bem, é a ingratidão.
Lembrava-me da passagem evangélica, dos dez leprosos:
Uma vez curados, afastaram-se alegremente. Todavia, um, veio atrás, e agradeceu, a Jesus, o ter sarado.
Prostrando-se a Seus pés, com o rosto em terra, deu-Lhe graças.
Respondeu-lhe Cristo:
- “Não foram dez os curados? E só um voltou, para agradecer?
E voltando-se para o samaritano, disse-lhe: “ Levanta-te. A tua fé te salvou.” - Luc 17:11,19.
O nosso clássico, D. Francisco Manuel de Melo, em “ Relógios Falantes” conta o curioso caso de alguém, que tendo recebido um favor, não mais procurou, quem lhe tinha feito mercê, nem lhe tirava o chapéu:
Toparam-se um dia na Rua Nova de Palma, que é longa e estreita e sem travessa.
“ Um vinha, outro ia. Tanto que o requerente ou despachado viu o valido, voltou o cavalo. O valido apressou o seu. O requerente trotou; trotou o valido, também. Ele correu; correu o valido do mesmo modo e dizia, gritando:
“ - Parai senhor Fulano, e dizei-me se isto é verdade!
“ O requerente sem parar, lhe dizia, correndo:
“- Sim senhor; isso agora é verdade, que o passado era mentira.”
Comportamento igual, têm muitos, que recebido a mercê, se afastam: Estão servidos; para quê ficar grato?
Por vezes, chegam a dizer: “ Não preciso dele para nada! …”Mas precisaram….
Está sepultado no Brasil, Professor, notável político, que antes de morrer declarou não desejar, que, após o falecimento, o trouxessem para a Pátria.
Porque compatriotas, a quem fizera enormes favores, vendo-o em desgraça, esqueceram o dever da gratidão. Fizeram como o homem, que corria, a bom correr, pela Rua Nova de Palma…
Mas, se a ingratidão, fere, o desprezo, parece-me, agora, ainda mais cruel.
Em “ Reflexões Sobre a Vaidade”, Matias Aires (escritor do séc. XVIII), assevera: “Não há maior injúria que o desprezo; e é porque o desprezo todo se dirige, e ofende a vaidade.”
Desprezar, é o mesmo que dizer: Não mereces qualquer respeito; és insignificante…
Além de falta de educação, ofende fortemente o orgulho, o íntimo da alma.
Tive companheiros de infância, que por terem subido na sociedade ou por terem nome aburguesado, deixaram de serem amigos… passei a conhecido! …
Recordo, o pensar de Francisco, personagem de: “Mistérios de Fafe” de Camilo, referindo-se ao facto do fidalgo, não dar confiança à mulher, companheira de infância, comentava:
“- Criança como criança e homem como homem. Bem vês quem ele é, o Senhor fidalgo, e tu és a Rosa, mulher do espingardeiro…”
Conhecido rapaz, filho de modesto trabalhador, que foi estudar para Coimbra, quando se licenciou, deixou de acompanhar o pai. Mudava de passeio se o encontrava, na rua.
Envergonhava-se. Era, então, advogado, casado com menina de Papá…
Desprezo e ingratidão, são, para mim, as maiores afrontas que se pode fazer.
Mas, o mundo é assim: a amizade é, quantas vezes, meio de usar amigos e conhecidos, como escada. Uma vez no topo…não precisam deles para nada…
Será que não?

Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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