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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Regresso a “Um reino maravilhoso”

 “Vou falar-lhes dum Reino Maravilhoso”. Começa assim a prosa seca e sentida de Miguel Torga sobre as terras ora frias, ora quentes, mas sempre pobres e pedregosas de Trás-os-Montes. Era um tempo onde tudo era longe e difícil, até o sonho, embora sonhar fosse, então, um ato libertador e tão livre como o voo da águia imperial entre as fragas daquele “chão raivoso”.

Agora, o interior e a serra são destinos de aventura, o rústico deixou de pertencer ao pobre e remediado para ser um produto turístico.  Será que “Para cá do Marão” ainda “mandam os que cá estão!”?

O Reino mudou com os anos, embora os socalcos e os varandins, como os manjericos e o xisto que atapetava os caminhos ou servia de muro, se mantenham inalterados com o tempo. Há neste regresso a “Um Reino Maravilhoso” um país que continua e um outro que desapareceu. E ainda um outro, porventura, desconhecido ou muitas vezes ignorado. Passemos de novo a palavra a Miguel Torga para nos falar do que a objetiva de Miguel Mazeda nos procura mostrar:

Começa logo porque fica no cimo de Portugal, como os ninhos ficam no cimo das árvores para que a distância os torne mais impossíveis e apetecidos. E quem namora ninhos cá de baixo, se realmente é rapaz e não tem medo das alturas, depois de trepar e atingir a crista do sonho, contempla a própria bem-aventurança.

Vê-se primeiro um mar de pedras. Vagas e vagas sideradas, hirtas e hostis, contidas na sua força desmedida pela mão inexorável dum Deus criador e dominador. Tudo parado e mudo. Apenas se move e se faz ouvir o coração no peito, inquieto, a anunciar o começo duma grande hora. De repente, rasga a crosta do silêncio uma voz de franqueza desembainhada:

– Para cá do Marão, mandam os que cá estão!…

Sente-se um calafrio. A vista alarga-se de ânsia e de assombro. Que penedo falou? Que terror respeitoso se apodera de nós?

Mas de nada vale interrogar o grande oceano megalítico, porque o nume invisível ordena:

– Entre!

A gente entra, e já está no Reino Maravilhoso.

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