O senhor Henrique, com o seu metro e setenta de altura, o seu discreto bigode e um penteado clássico, é notado pela elegância, o bom gosto no vestir e a leveza no caminhar.
Tido como um homem bom é, de facto, uma pessoa calma, aconselha quem lhe pede uma opinião, e como grande conversador, não raro se encontra à volta de uma mesa, rodeado de amigos, saboreando o seu café.
Vítima da política em que há tempos se envolveu, recorda, com mágoa, as ciladas de que, ingenuamente foi vítima. Ele não era homem de duas caras nem de decisões ambíguas, aborrecendo mesmo aquele palavreado que é posto na boca de quem pretende justificar o que não é justificável. Também nunca se ouviu falar dele em termos de corrupção, enquanto cumpria com dedicação as obrigações para que fora eleito. Toda a gente o admirava pela correção de caráter e bem servir o povo. Mas um dia, após uma profunda crítica ao caminho que até ali o trouxe, e que, embora contra o seu gosto, ainda tinha de percorrer, chegou à conclusão de que não fora talhado para aquela vida. E então, sem grande mágoa para quem o rodeava, pediu a demissão do cargo, dando lugar ao eleito seguinte.
A partir desse momento, sentiu-se um homem livre. Retornou ao emprego, o qual, pela idade e tempo de serviço, pouco tempo ocupou. Escreve, lê, conversa com os amigos, e recebe, em sua casa, normalmente aos fins de semana, os filhos e os netinhos por quem, tanto ele como a esposa, cultivam o melhor carinho.
Neste passeio, que habitualmente faz no mesmo dia e à mesma hora, logo a seguir ao pequeno-almoço, foi imprevistamente surpreendido com um céu carregado de nuvens escuras e ameaçadoras!
Sem ter a mais pequena hipótese de se abrigar, suportou, em silêncio e resignado, a chuva que caiu impiedosa.
Molhado dos pés à cabeça, abandonou o passeio, regressou a casa, tomou um banho quente e sentou-se a repousar, enquanto ia deitando o olho a um programa chato da televisão.
Estava quase a pegar no sono, quando a esposa, visivelmente exaltada, lhe chamou a atenção para uma notícia precisamente no canal que tinha ligado.
Imediatamente alteando o som, ainda chegou a perceber as últimas palavras: “…alegados suspeitos de desvio e lavagem de dinheiro, no anterior Governo.”
De um pulo, foi à costumada papelaria, comprou o primeiro jornal que lhe veio à mão, e mesmo antes de sair, procurou a notícia que tanto o intrigara. Com sofreguidão e ansiedade, leu, em grandes parangonas, logo na primeira página: “Polícia Judiciária investiga alegados suspeitos de desvio e lavagem de dinheiro, no anterior Governo”.
A cabeça começou a andar-lhe à roda, as pernas tremeram e, se não se tivesse encostado a um expositor, acabaria por estatelar-se no chão! Caminhando e lendo atabalhoadamente, chegou a casa.
Dirigindo-se à esposa, como que a medo a foi informando da notícia na qual também se encontraria incluído. Dizendo mal da sua sorte, ambos esperaram no que tudo isto iria dar. Após declarações, e sempre atento à comunicação social, passados uns dias em que, como que imobilizado, nem sequer mexeu uma palha, foi surpreendido com outra notícia – esta mais agradável – afirmando que, afinal, o deputado Henrique Soares fora ilibado de toda e qualquer responsabilidade no caso do desvio de dinheiro.
O senhor Henrique continuou feliz, mas a mancha ficou!
Tido como um homem bom é, de facto, uma pessoa calma, aconselha quem lhe pede uma opinião, e como grande conversador, não raro se encontra à volta de uma mesa, rodeado de amigos, saboreando o seu café.
Vítima da política em que há tempos se envolveu, recorda, com mágoa, as ciladas de que, ingenuamente foi vítima. Ele não era homem de duas caras nem de decisões ambíguas, aborrecendo mesmo aquele palavreado que é posto na boca de quem pretende justificar o que não é justificável. Também nunca se ouviu falar dele em termos de corrupção, enquanto cumpria com dedicação as obrigações para que fora eleito. Toda a gente o admirava pela correção de caráter e bem servir o povo. Mas um dia, após uma profunda crítica ao caminho que até ali o trouxe, e que, embora contra o seu gosto, ainda tinha de percorrer, chegou à conclusão de que não fora talhado para aquela vida. E então, sem grande mágoa para quem o rodeava, pediu a demissão do cargo, dando lugar ao eleito seguinte.
A partir desse momento, sentiu-se um homem livre. Retornou ao emprego, o qual, pela idade e tempo de serviço, pouco tempo ocupou. Escreve, lê, conversa com os amigos, e recebe, em sua casa, normalmente aos fins de semana, os filhos e os netinhos por quem, tanto ele como a esposa, cultivam o melhor carinho.
Neste passeio, que habitualmente faz no mesmo dia e à mesma hora, logo a seguir ao pequeno-almoço, foi imprevistamente surpreendido com um céu carregado de nuvens escuras e ameaçadoras!
Sem ter a mais pequena hipótese de se abrigar, suportou, em silêncio e resignado, a chuva que caiu impiedosa.
Molhado dos pés à cabeça, abandonou o passeio, regressou a casa, tomou um banho quente e sentou-se a repousar, enquanto ia deitando o olho a um programa chato da televisão.
Estava quase a pegar no sono, quando a esposa, visivelmente exaltada, lhe chamou a atenção para uma notícia precisamente no canal que tinha ligado.
Imediatamente alteando o som, ainda chegou a perceber as últimas palavras: “…alegados suspeitos de desvio e lavagem de dinheiro, no anterior Governo.”
De um pulo, foi à costumada papelaria, comprou o primeiro jornal que lhe veio à mão, e mesmo antes de sair, procurou a notícia que tanto o intrigara. Com sofreguidão e ansiedade, leu, em grandes parangonas, logo na primeira página: “Polícia Judiciária investiga alegados suspeitos de desvio e lavagem de dinheiro, no anterior Governo”.
A cabeça começou a andar-lhe à roda, as pernas tremeram e, se não se tivesse encostado a um expositor, acabaria por estatelar-se no chão! Caminhando e lendo atabalhoadamente, chegou a casa.
Dirigindo-se à esposa, como que a medo a foi informando da notícia na qual também se encontraria incluído. Dizendo mal da sua sorte, ambos esperaram no que tudo isto iria dar. Após declarações, e sempre atento à comunicação social, passados uns dias em que, como que imobilizado, nem sequer mexeu uma palha, foi surpreendido com outra notícia – esta mais agradável – afirmando que, afinal, o deputado Henrique Soares fora ilibado de toda e qualquer responsabilidade no caso do desvio de dinheiro.
O senhor Henrique continuou feliz, mas a mancha ficou!
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